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LIdar com Conflitos também é Tarefa da Igreja Mateus 18.15-20

Autoria P. Me. Alexander Busch

10/09/2017


Estimada igreja, minhas irmãs e irmãos em Jesus Cristo,
Como você se sente diante de uma situação de conflito? Como você costuma reagir quando surge uma discórdia entre você e outra pessoa ou pessoas? Você prefere evitar a discussão? Você enfrenta a briga disposto a tudo, a ganhar ou perder? E certamente entre os dois extremos – se fechar ou bater de frente – existem outras opções. Convidar a pessoa para se encontrar, tomar um café e se abrir numa conversa olho no olho. Ou ainda, numa situação de conflito, repartir seus sentimentos e pensamentos . . . com todo mundo, menos com a pessoa diretamente envolvida.

Lidar com conflitos é também tarefa da igreja. O que se espera da igreja quando membros se afastam um do outro por causa de desavenças? Como é que nós, comunidade cristã reformada em Castrolanda, podemos lidar com conflitos de uma maneira positiva e evangélica? E qual será o nosso testemunho perante o mundo, nós que dizemos seguir Jesus Cristo?

As palavras do evangelho de Jesus querem nos orientar com relação a estas perguntas. O texto que ouvimos aborda indiretamente vários temas relacionados: diálogo, disciplina fraterna, juízo de Deus, perdão e reconciliação, entre outros. Seu ensino nos convida e nos desafia a viver a partir do exemplo de Deus. Jesus compara Deus à figura do Pastor de ovelhas. Se vocês olharem para sua bíblia, podem observar que, neste mesmo capítulo 18 de Mateus, o texto anterior fala da ovelha perdida. Assim como Lucas, Mateus também registra a tão conhecida parábola da ovelha perdida. Jesus ensina que Deus é como o pastor que, ao perceber que uma das cem ovelhas se perdeu, deixa as outras noventa e nove nas montanhas para procurar a perdida. E achando se alegra imensamente. Deus, portanto, não quer que nenhum pequenino se perca. A partir deste jeito de Deus agir, a igreja é orientada a lidar com situações de conflito, espelhando esta boa notícia, fazendo o que for necessário para ganhar de volta o irmão, a irmã, a pessoa que se afasta da convivência.

Jesus menciona um caso concreto de alguém que cometeu uma falta, “Se o seu irmão pecar contra você, vá e mostre o seu erro, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele lhe der ouvidos, você ganhou o seu irmão” (v. 13). Conforme Jesus, o primeiro passo para a reconciliação é o diálogo pessoal, a conversa olho no olho. O diálogo franco oferece a oportunidade de ouvir e ser ouvido, de esclarecer e resolver mal entendidos. Muitos conflitos podem ser resolvidos com uma conversa simples e sincera.

Obviamente nossa natureza humana muitas vezes encontra dificuldades em seguir esse primeiro passo. Temos resistência para ouvir a outra pessoa. Praticamos a estratégia do ditado popular, “a melhor defesa é o ataque”. Nós partimos para o ataque com palavras que ferem, usando a língua como uma pequena fagulha incendiando uma grande floresta. Somos rápidos no falar, quando muitas vezes poderíamos, deveríamos ser tardio no falar e pronto para ouvir.

Um psicólogo que trabalha com terapia de casais conta a seguinte anedota: numa discussão de casal, uma tática é um dos parceiros levar à boca um trago de água, mas não engolir. Manter a água dentro da boca. Esta é a oportunidade para a outra pessoa falar e ser ouvida. O parceiro não pode engolir a água e se abrir a boca para falar . . . bem, você já pode imaginar o que irá acontecer . . .

É uma anedota, mas ela ressalta a importância de ouvir e ser ouvido, escutar e falar. Isto não significa que sempre haverá concordância entre as pessoas. Mas significa que há um vínculo entre elas, um vínculo de respeito e confiança criado pelo ouvir e ser ouvido. O diálogo entre as pessoas envolvidas certamente é um passo muito importante para a disciplina fraterna, para aqueles momentos em que uma pessoa precisa de correção e orientação. Portanto, quando alguém lhe chamar para uma conversa séria, evite dizer “o que você tem a ver com este assunto?” ou “quem você pensa que é?”. Pelo contrário, abra os ouvidos, e pratique a estratégia de Provérbios 12.15, “a pessoa tola pensa que sempre está certa, mas as pessoas sábias aceitam conselhos”. Neste mesmo espírito, Jesus nos aconselha ao diálogo.

Bom lembrar também que esta orientação de Jesus não vale para todas as situações. Existem casos onde a denúncia junto às autoridades é o passo correto. Ocasiões em que a vida da pessoa corre riscos, como em casos de violência doméstica contra a mulher, abuso de menor ou pessoa idosa. Em casos assim, a denúncia é fundamental e urgente. Eu menciono o exemplo de violência doméstica lado a lado a estas palavras de Jesus para destacar o quanto nós precisamos pedir de Deus discernimento para aplicar o seu ensino dentro das realidades que estamos vivenciando. O conselho de Jesus vale sim para situações onde é possível ter uma conversa franca e honesta, buscando se o perdão e a reconciliação. Que também nestas situações possamos orar para ter discernimento e sabedoria de Deus em como agir.

E Jesus continua a nos orientar. Pois, caso o primeiro passo, o diálogo pessoal fracasse, ele recomenda levar uma ou duas testemunhas para participarem da conversa. Essa era uma prática comum na época de Jesus, cujas raízes encontramos na lei do AT. Assim como no passo anterior, o objetivo de levar testemunhas é exortar a pessoa em falta visando sua correção. O alvo é a reconciliação, aproximar as pessoas para que elas se entendam.

Certa vez, o pastor Martinho Lutero foi chamado para solucionar uma briga entre nobres que não se entendiam. O pastor Lutero lhes contou a seguinte história, “Ao cortar uma árvore cheia de galhos retorcidos e deformados, com a intenção de levá-la para dentro de casa, não devemos pegar pela copa, a parte superior da árvore, e tentar puxá-la para dentro. Os galhos vão se enroscar contra a porta. Nesta posição, mesmo que façamos muita força, vamos quebrar os galhos e não dará certo. Entretanto, se pegarmos a árvore pelo tronco, a parte inferior que foi cortada, então os galhos ficarão a favor da porta. Podemos puxar o tronco na direção da porta e todos os galhos iam curvar-se delicadamente. Sem grande dificuldade ou esforço, desta feita conseguiremos levar a árvore para dentro da casa. Assim também devia acontecer quando queremos estabelecer concórdia. Um tem que ceder em relação ao outro. Senão, quando todos querem ter razão e ninguém quer desviar ou fazer um mínimo esforço de aproximação, jamais haverá harmonia. Aí os galhos se enroscam, ficando contra a porta e não conseguimos entrar na casa de jeito nenhum”. Sábio conselho do pastor Lutero, que serviu como mediador neste conflito.*

Recentemente durante a exposição Agroleite, as pessoas que participaram do encontro “Fé e Café” ouviram um testemunho semelhante, de pessoas que estavam vivendo uma crise, um desentendimento entre os irmãos que afetava a família e a empresa da qual eram sócios proprietários. Um viajante de longe foi chamado para mediar o conflito. Sabendo da amargura que existia no coração daquela família, ele leu as palavras, “Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas” (1Co 13.5). Palavras sábias que corrigiram e restabeleceram a harmonia na família e na empresa. 

E se uma ou duas testemunhas não der certo? Então Jesus orienta, “Caso não der ouvidos, comunique à Igreja” (v. 17a). Neste momento toda a comunidade — que até agora não tomou conhecimento do erro — é chamada a se pronunciar. É um passo extremo no caso de situações de conflito mais sérias, onde existem atitudes que quebram a unidade da comunidade, comportamentos que ferem o testemunho da igreja diante das pessoas de fora. Sobre isso, o Catecismo de Heidelberg comenta, “conforme o mandamento de Cristo, aqueles que, com nome de cristãos, se comportam na doutrina ou na vida como não-cristãos, são fraternalmente advertidos, repetidas vezes”.

“Repetidas vezes”. Implícito nestas palavras está o diálogo, ouvir e ser ouvido. Como nos passos anteriores, o objetivo maior não é a exclusão, tampouco é dizer de forma arrogante e orgulhosa que “nós somos melhores do que você”. O objetivo é sim corrigir, orientar, ajudar as pessoas a amadurecer na fé. A comunidade, seguindo o conselho de Jesus, está exercendo o juízo de Deus, que não se agrada com o pecado humano e quer buscar a pessoa buscar a pessoa perdida em seu próprio erro. Importante lembrar que a disciplina fraterna, sempre e especialmente nestes casos extremos, precisa estar embasada na Palavra, “toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver” (2Tm 3.16).

E finalmente, se esta tentativa de reconciliação fracassar, Jesus orienta que a pessoa seja tratada como pagão ou cobrador de impostos. Aqui um detalhe importante. No domingo anterior, na celebração da Santa Ceia mencionamos que, na época de Jesus, cobradores de impostos eram pessoas desprezadas por causa da sua desonestidade e corrupção. Jesus, entretanto, tem a coragem e ousadia de se sentar à mesa com Mateus e outros cobradores de impostos. Jesus compartilha o alimento com Mateus, um cobrador de impostos, não porque Jesus concorde com o roubo e a corrupção, mas sim porque Jesus confia no poder de Deus para curar e transformar as atitudes de Mateus. Por isto pergunto, pensando nas palavras de Jesus sobre disciplina fraterna, quando Jesus nos orienta a tratar a pessoa excluída como um cobrador de impostos, será que ele não está dizendo que podemos ainda assim confiar no poder de Deus para curar e restaurar? Será que esta não deve ser a nossa fé nas situações de conflito que enfrentamos nas nossas relações pessoais, na família ou na igreja? Será que não é este, o Deus que cura e restaura as pessoas, que nós, igreja, precisamos anunciar a um mundo carente de diálogo, de disciplina fraterna, de juízo de Deus, perdão e reconciliação? Oremos para que Deus nos dê discernimento para falar, ouvir e ser ouvido. Oremos para que Deus nos dê sabedoria em como praticar o seu ensino dentro das realidades que estamos vivenciando. Amém.

* Conforme história compartilhada no facebook do colega P. Clovis Lindner.
P.Me Alexander R. Busch
Igreja Evangélica Reformada Castrolanda/Castro – Paraná (Brasil)

 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 18 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 58821

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