Em tempos de Covid-19
Estimados irmãos e irmãs,
Tomo a liberdade de usar de novo a imagem do deserto para falar sobre o tempo e lugar que estamos vivendo. O nosso tempo de deserto, nosso isolamento social acontece justamente na quaresma. No calendário da igreja, a quaresma são quarenta dias caminhando com Jesus rumo à cruz – um chamado para refletir, avaliar e valorizar o que realmente é mais importante na vida. Afinal de contas, quem caminha no deserto não pode carregar excesso de peso. Precisamos carregar e valorizar o que nos é essencial para a vida. Neste tempo de deserto, de isolamento social, de quaresma, existem algumas lições preciosas para todos nós. Gostaria de compartilhar as lições que o deserto nos ensina:
1) o deserto quebra o orgulho humano. Nossa sociedade com uma tecnologia tão avançada de repente parou. Parou por causa de um vírus que foge de nosso controle. O grande desafio do coronavírus é sua rápida proliferação. No Brasil, em 19 de março eram 640 casos confirmados de pessoas infectadas. Hoje 26 de março são 2915 pessoas. Ou seja, por melhores que sejam nossas medidas de precaução, e elas são necessárias, o coronavírus é um adversário poderoso. Nossos avanços na tecnologia, na comunicação, no transporte de pessoas e mercadorias e outras conquistas não significam que somos invencíveis. No deserto aprendemos a cultivar a humildade.
2) o deserto nos ensina o quanto somos dependentes e interligados uns com os outros. De repente o coronavírus dita a nossas atividades. Somos forçados ao isolamento social e nos damos conta de quanto valem pequenos gestos como um abraço, quão precioso é conversar com outras pessoas, e como é importante cuidar bem das pessoas ao nosso redor. Quem está sozinho/a em casa sente saudades do abraço e da roda de chimarrão. Porque não telefonar para estas pessoas? Quem tem a companhia de sua família em casa redescobre o culto doméstico lendo, cantando e orando juntos. No facebook e whatsapp várias fotos registram este momento família em torno do Caderno de Quaresma. Também temos pessoas lendo o caderno sozinhas em casa, mas unidas na mesma comunhão. E quem evita sair de casa percebe o quanto nossa vida dependo do trabalho e serviço de outras pessoas: pessoas ligadas à área de saúde, pessoas trabalhando na produção de alimentos, agricultores, motoristas de caminhão, repositores e caixas de supermercado, cuidadores de idosos, coletores de lixo, entre tantas outras profissões que muitas vezes passavam despercebidas aos nossos olhos.
3) Por fim, a terceira lição no deserto é crescer em Cristo. De repente o coronavírus revela nossa fragilidade e dependência de Deus. O sofrimento, a angústia, o medo, a insegurança – todos estes sentimentos que fazem parte de nossa travessia no deserto são oportunidades para confiar em Jesus neste tempo e lugar. Ele também enfrentou o deserto. Ele enfrentou o deserto da cruz e pela sua ressurreição gerou uma comunidade de pessoas unidas umas com as outras e unidas com Deus. É Cristo Jesus, somente ele, quem renova nossas forças para continuar a caminhada pelos desertos deste mundo, alimentando nossa fé e esperança. Amém.
Oremos . . . Amado Deus, diante de situações que não podemos entender, situações que fogem de nosso controle, humildemente buscamos tua presença em oração. Somos comunidade cristã reunida intercedendo por nós mesmos e por muitas pessoas ao nosso redor. Agradecemos que este tempo de deserto nos abre ouvidos e corações para aprender novas lições. Agradecemos pelas muitas mãos e pés que tem colaborado para que serviços essenciais sejam mantidos. Colocamos nas tuas mãos nossos sentimentos de medo e insegurança, nossos questionamentos diante de perguntas não-respondidas e nossa gratidão por Jesus Cristo que promete sustentar nossa fé na caminhada pelo deserto. É em seu nome que oramos, Pai nosso . . .
