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ID: 341

Filipe e o homem eunuco da Etiópia - para a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência

Prédica em Atos 8.26-40 autoria P. Me. Alexander Busch

22/08/2021

Estimada comunidade, estimadas irmãs e estimados irmãos,
O livro de Atos dos Apóstolos nos apresenta várias e diferentes histórias de como o Espirito de Deus impulsionou a comunidade de Jesus a partir da cidade de Jerusalém para Roma, capital do Império Romano. No livro de Atos lemos sobre os primeiros passos das pessoas que anunciavam a fidelidade de Jesus Cristo, sua morte que venceu o pecado e sua ressurreição que dá nova vida. Igualmente lemos sobre os primeiros passos das pessoas que acolhiam a boa notícia, eram batizadas e colocavam seus dons à serviço da missão de Deus. São histórias com altos e baixos, confiança e desconfiança, histórias de resistência ao Espírito Santo e histórias de obediência à palavra de Jesus.

Por exemplo, Jesus havia ordenado que seus seguidores fossem suas testemunhas em Jerusalém, Judéia e Samaria e até os confins da terra. Na Festa de Pentecostes, os seguidores e seguidoras de Jesus deram seu testemunho e naquele dia quase três mil pessoas foram batizadas se juntaram ao grupo de Jesus em Jerusalém. Mas, ainda segundo o livro de Atos, a comunidade cristã em Jerusalém permaneceu acomodada nesta mesma cidade. Ao invés de ir ao encontro das pessoas nos lugares distantes, aguardavam em Jerusalém que pessoas de lugares distantes viessem ao seu encontro. Foi então que uma perseguição dispersou a comunidade cristã em Jerusalém, movendo a igreja para dar testemunho de Jesus em outras regiões. Naquele tempo e lugar, anunciar Jesus despertava oposição e perseguição.

Esta era a situação de Filipe, um dos homens escolhidos pela comunidade de Jerusalém para servir como diácono. Junto com outros diáconos, Filipe administrava os recursos da comunidade para ajudar pessoas em necessidade. Mas agora, a perseguição em Jerusalém forçou Filipe a buscar segurança noutros lugares.

E, no caminho, Filipe ouviu a voz do anjo do Senhor que lhe deu uma ordem “Levante-se e vá para o sul, no caminho que desce de Jerusalém até a cidade de Gaza”. Como servo obediente, Filipe colocou seus dons à serviço da missão de Deus. Como servo obediente, Filipe foi ao encontro das pessoas. No caminho o Espirito de Deus guiou Filipe para se aproximar de um homem da Etiópia, “aproxime-se desta carruagem e acompanhe-a”.

Filipe, movido pela voz do Espírito foi ao encontro do eunuco da Etiópia. Isto porque a comunidade de Jesus é comunidade missionária, é comunidade em movimento, é comunidade indo ao encontro das pessoas. Onde o Espírito de Deus atua, a comunidade é impulsionada para a missão. Necessário destacar que a palavra missão tem a ver com movimento. Missão é uma palavra de origem latina que significa enviar. Portanto, quando falamos de missão na igreja, estamos falando do Espirito que envia a comunidade de Jesus para ir ao encontro das pessoas. Comunidade missionária é comunidade dinâmica, ativa, que reconhece Deus abrindo portas para anunciar Jesus. Penso que, especialmente neste tempo em que a pandemia está perdendo força e a vacinação avançando, nós, comunidade de Jesus, temos a oportunidade de ir ao encontro das pessoas. O Espirito nos envia para ir ao encontro de pessoas isoladas, membros afastados, pessoas sem nenhum vínculo com qualquer igreja e dizer: Venha! Participe! As portas da comunidade estão abertas para a comunhão com Jesus e sua comunidade. 

Voltando nossa atenção para a história bíblica de hoje. Filipe vai ao encontro do homem eunuco da Etiópia. A Etiópia corresponde hoje ao país Sudão, na África, ao Sul do Egito. Era um reino de várias tribos e seus habitantes eram fáceis de identificar, pois, comparados com os povos de outras terras, as pessoas da Etiópia tinham a pele bem escura. Eram pessoas de pele bem escura, negra. O personagem de nossa história era um homem negro que conhecia e participava da vida de Israel. Afinal de contas, este homem estava retornando de Jerusalém, lendo o livro do profeta Isaías. Mas o nosso texto diz algo a mais. O que o texto enfatiza é a sua condição como eunuco. Cinco vezes o texto destaca sua condição de eunuco. No mundo antigo era uma prática comum que alguns meninos fossem escolhidos para serem eunucos (castração física), a fim de conviverem e protegerem as mulheres da corte, sem representar uma ameaça. O eunuco de nossa história era uma pessoa com deficiência. Não era uma deficiência de nascença, mas algo que lhe foi imposto, um castigo que ele carregava no próprio corpo.

Dizemos castigo porque, além de estar impedido de gerar seus próprios filhos e filhas – algo que no mundo antigo era considerado uma maldição – um homem eunuco também estava impedido de entrar no templo de Jerusalém. Não poderia entrar no templo por que a lei judaica assim o dizia (Dt 23.1). O eunuco era considerado uma pessoa de segunda classe, inferior aos outros homens, por causa sua deficiência.

Mas em nossa história, neste encontro entre Filipe e o eunuco, Filipe explicou a ele a quem o profeta Isaías se referia: Jesus. E depois de apresentar Jesus, Filipe convida o homem a confessar sua fé em Cristo Jesus, filho de Deus. E depois da confissão, o homem eunuco não é curado de sua deficiência, mas é sim batizado. Isto porque a comunidade de Jesus é comunidade inclusiva, acolhedora, que valoriza todas e cada pessoa. Comunidade de Jesus é comunidade batizada, que confessa que em Cristo “não existe diferença entre judeu e não judeu, pessoa escrava e pessoa livre, homem ou mulher”, pessoa com deficiência ou sem deficiência. Em Jesus somos pessoas pecadoras, sem exceções, acolhidas no seu perdão e reconciliação. Somos um só por estamos unidos, unidas com Cristo Jesus. Comunidade de Jesus é comunidade inclusiva. O que certamente nos obriga a pensar o quanto nosso espaço físico na igreja e suas dependências de fato é acolhedor. E mais importante, a pergunta sobre o quanto a nossa comunhão está aberta para acolher outras pessoas em nosso meio.

Por fim, a história bíblica de Filipe e o eunuco nos desafia a refletir sobre a ação do Espírito gerando fé, gratidão, alegria, esperança, comunhão, compromisso e tantas outras qualidades que fazem parte da vida cristã. Cada uma destas qualidades transpareça no final deste encontro entre Filipe e o homem eunuco da Etiópia. É verdade que as qualidades que eu citei não aparecem diretamente no texto, mas podemos ler nas entrelinhas. Filipe e o eunuco agora participam da mesma comunhão, e se despedem com gratidão e alegria no coração, movidos pelo compromisso de compartilhar a sua esperança comum em Cristo Jesus. Filipe leva a boa notícia adiante até a cidade de Cesareia, enquanto o eunuco retorna para a Etiópia, levando consigo a boa palavra de Jesus. Não temos mais conhecimento sobre a história deste homem eunuco, mas o que sabemos é que ainda hoje a igreja na Etiópia é uma das igrejas mais antigas e numerosas no continente africano.

Pois comunidade de Jesus é comunidade atrativa, é comunidade onde o Espírito está gerando nas pessoas vida nova, gratidão, fé, esperança, compromisso e outras qualidades que fazem parte da comunhão cristã. São qualidades que cativam e contagiam outras pessoas. São qualidades que inspiram a comunidade a colocar seus dons à serviço da missão de Deus neste mundo. São qualidades que atraem outras pessoas para dizerem: Cristo Jesus, filho de Deus.

Tudo isto é obra e ação do Espírito de Deus atuando por meio da palavra de Jesus. E, por isso, comunidade de Jesus é comunidade atrativa! É comunidade inclusiva! É comunidade missionária! Aqui você tem lugar! Aqui nós temos lugar! Jesus, de braços abertos, nos acolhe para nos dar vida nova. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 8 / Versículo Inicial: 26 / Versículo Final: 40
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65096

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