Estimados irmãos e irmãs,
Movidos pela firme esperança, estamos hoje reunidos em culto. Certamente separados fisicamente, mas unidos em comunhão para louvar a Deus, ouvir sua palavra e encontrar a ajuda que vem de Deus. Agradecemos a Deus pela tecnologia do tempo presente, a comunicação virtual que aproxima as pessoas, que permite estarmos próximos uns dos outros.
Agradecemos a Deus também pela tecnologia do passado, as cartas que as pessoas escreviam e enviavam para estar próximas umas das outras. De fato, uma boa parte do Novo Testamento consiste em cartas enviadas para as comunidades cristãs espalhadas pelo Império Romano. A Segundo Carta à comunidade cristã em Corinto é testemunha desta comunicação. Apesar da distância física que separava as pessoas, elas estavam próximas através desta carta que traz palavras de consolo e ajuda que vem de Deus.
E a carta inicia dizendo algo muito bonito e precioso. Quero reler o começo da carta, “Eu, Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, escrevo junto com o nosso irmão Timóteo esta carta à igreja de Deus que está na cidade de Corinto e também a todo o povo de Deus espalhado por toda a província da Acaia” (v1). Ao escrever as palavras de saudação, é visível o sentimento de comunhão que existe entre as pessoas. Paulo não está escrevendo a carta sozinho. Timóteo, seu fiel companheiro, lhe ajuda nesta tarefa. Esta é uma carta escrita a quatro mãos, as mãos de Paulo e as mãos de Timóteo. E, por outro lado, a carta é dirigida à comunidade cristã na cidade de Corinto, mas também endereçada a todo o povo de Deus na província da Acaia, a região onde a cidade de Corinto se localizava. Ou seja, a fé em Cristo não é uma experiência individual, isolada de outras pessoas. A fé em Cristo sempre carrega consigo uma dimensão comunitária, coletiva.
A carta prossegue louvando ao Deus “de quem todas as pessoas recebem ajuda! Deus nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos” (v3). Este versículo define um dos temas principais que Paulo e Timóteo querem falar para a comunidade: Deus é nossa ajuda em tempos de aflição e sofrimento. Para vocês terem uma ideia de como este tema é central nesta carta, nós lemos neste culto somente os sete primeiros versículos da carta. São apenas sete versículos, mas a palavra ‘sofrimento’ aparece quatro vezes, e a palavra ‘aflição’ – que está ligada a sofrimento – aparece duas vezes. E nestes primeiros sete versículos, a palavra ‘ajuda’ é usada sete vezes. Ou seja, Paulo, Timóteo e a comunidade em Corinto estavam atravessando alguma situação de sofrimento e aflição. Precisavam da ajuda que vem de Deus.
A carta não nos dá detalhes qual o sofrimento que atravessavam. Talvez, como outras comunidades no império romano, a comunidade cristã em Corinto enfrentava resistência, intolerância e até mesmo perseguição por parte de seus vizinhos e pelas autoridades públicas. Isto é provável pois a carta afirma que Paulo e seu companheiro passaram por um grande sofrimento, tão duro que tinham perdido a esperança de escapar com vida (v8).
Saber que estas pessoas e comunidades atravessarem momentos de sofrimento e aflição nos é instrutivo e necessário. Crer em Jesus não é um selo de imunidade. Nenhuma pessoa que confia em Jesus, nenhuma comunidade cristã está livre do sofrimento. Seja a angústia, a perseguição, a fome, o perigo ou a morte, nenhuma pessoa ou comunidade cristã está isenta de atravessar tais situações de sofrimento. É deveras importante enfatizar isto pois tenho percebido nos meios de comunicação a circulação de versos bíblicos prometendo a imunidade contra o coronavírus. Por exemplo, o Salmo 91 sendo usado como amuleto mágico para garantir que a pessoa não caia doente por causa do coronavírus. Este tipo de promessa, que gera uma segurança falsa, não é palavra de Jesus. É fakenews.
Palavra de Jesus é lembrar que no deserto o próprio diabo desafiou Jesus, citando o Salmo 91, “Deus mandará que os seus anjos cuidem de você”. O diabo queria que Jesus pulasse do alto de templo em Jerusalém para impressionar as pessoas ao cair em segurança. E Jesus respondeu ao diabo, “Não ponha à prova o Senhor, seu Deus”.
Também é Palavra de Jesus reconhecer, junto com Paulo e Timóteo, os muitos sofrimentos de Cristo, como eles escrevem no início desta carta. Paulo e Timóteo confessam que Jesus também atravessou momentos de muito sofrimento e aflição. A boa notícia, entretanto, é que o sofrimento de Cristo Jesus é Deus se aproximando de nós. Está escrito na carta, “assim como tomamos parte nos muitos sofrimentos de Cristo, assim também, por meio de Cristo, participamos da sua grande ajuda”.
Ou seja, o sofrimento de Jesus é Deus em Cristo caminhando de forma solidária com o sofrimento que existe na vida das pessoas. O sofrimento de Jesus é testemunho de Deus ajudando as pessoas em meio às suas aflições, angústias, perigos e morte. E a boa notícia não termina aqui. A boa notícia do Deus próximo ainda nos motiva a nos aproximarmos uns dos outros. A carta de Paulo e Timóteo nos diz, “Deus nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos”. Ou seja, como dissemos no início de nossa meditação, a fé em Cristo não é uma experiência individual, isolada de outras pessoas. A fé em Cristo sempre carrega consigo uma dimensão comunitária, coletiva. E agora acrescento, a fé em Cristo carrega consigo uma dimensão solidária. Deus em Cristo é próximo e solidário com o nosso sofrimento para que nós possamos se aproximar de outras pessoas e compartilhar a solidariedade e ajuda que nós mesmos recebemos de Deus. Amém.