Criação e a Relação com o Ser Humano na Atualidade

19/10/2012

“O meio ambiente não é o espaço em que vivemos, mas o espaço do qual vivemos” (Ana Primavesi). Esta afirmação é muito verdadeira e profunda, pois vivemos e fazemos uso de tudo que está à nossa disposição de modo tão supérfluo que as consequências do nosso agir já são visíveis e palpáveis. 
Vemos secas terríveis que acabam com plantações e os sonhos de qualquer pessoa do campo, chuvas torrenciais que arrastam matas, casas, estradas, tudo que está pela frente. Presenciamos tudo isso e nos comportamos como se fôssemos os únicos seres que vivem no planeta Terra ou ainda pensamos que isso não acontecerá conosco.

Fomos criados e criadas à imagem e semelhança de Deus. Temos a inteligência, a capacidade de discernir entre o certo e o errado, mas ao mesmo tempo somos os seres mais irracionais e desumanos deste mundo. Cada dia que passa há mais tecnologias que servem para melhorar a nossa vida, tornar tudo mais prático e rápido. Mas até onde tudo isto é bom para toda criação? Criação inclui todos os seres vivos, animais, vegetais, visíveis e invisíveis, toda essa riqueza que forma o planeta Terra. 

Na agricultura a premissa é a modernização. O uso de máquinas agrícolas pesadas e de agrotóxicos é regra infalível para uma alta produção com lucros garantidos e sucesso. Será que isso é verdade? Porque não se coloca na ponta do lápis os gastos com a produção, os problemas de saúde que ocorrem nas pessoas agricultoras e consumidoras, devido ao uso exagerado de agrotóxicos e os gastos elevados que acarretam aos cofres públicos no tratamento de doenças cada vez menos conhecidas?

Quando se trata da Amazônia, ninguém nega que ela deve ser conservada, suas florestas devem permanecer intocadas, com seus habitantes primeiros, a saber povos ribeirinhos e indígenas. Mas na contramão da conservação vem a necessidade de viver, de fazer com que aquelas pessoas que nela habitam possam se adaptar ao bioma e fazer uma agricultura com o mínimo de interferência.

Enquanto algumas pessoas estão buscando este caminho, de adaptação e inculturação, outras vêm com a produção de biodiesel em grande escala, combustíveis limpos, menos poluentes. Será que são mesmo? 

Na Amazônia não é permitida a produção de cana de açúcar. Como então se explica as usinas já montadas e em funcionamento na região? 

Planos e mais planos governamentais visam ao aceleramento do crescimento, e torná-la sustentável, porém, de que maneira vem este desenvolvimento? E a resposta já vem à tona, construindo usinas hidrelétricas, plantando cana de açúcar, eucalipto, fazendo concessões das nossas florestas públicas a empresas que querem explorá-las. Esta é a forma de crescimento para nós da região amazônica?

Mediante a situação colocada vem a interrogação: o que podemos fazer para amenizar os impactos ambientais que esse tipo de desenvolvi-mento traz? 
Cada qual é responsável por aquilo que faz e em conjunto somos res-ponsáveis por toda situação na qual nos encontramos. Como podemos fazer diferente?
Precisamos reaprender o ofício de lidar com a terra. Digo isto, pois a terra foi transformada em uma coisa, na qual jogamos adubos básicos, agrotóxicos, sementes. Ela é apenas uma parte no processo produtivo sendo o mais importante a tecnologia de ponta nela utilizada para exaurir lhes as forças e matá-la aos poucos.

Precisamos reaprender com nossos antepassados e nossas antepassadas a arte de trabalhar com a terra e a interpretar o que ela nos fala. Conhecer a terra e manejá-la de acordo com suas aptidões é a premissa para podermos continuar habitando este planeta. 

Com pequenas ações podemos fazer a diferença, pois a Amazônia tem um diferencial: é possível plantar, colher, mas ela não pode e não deve ser igual à agricultura praticada em outras regiões do país. 

Cada região é diferente, cada local tem suas características, assim como cada ser humano é diferente, cada pedaço de terra é distinto e a partir dele precisamos trabalhar. Grandes monocultivos na região amazônica é algo destinado ao fracasso, policultivos e pequenas áreas de plantios são ideais para produção. Plantio de árvores nas pastagens é importante para que o gado não perca calorias adquiridas com o pastejo.

A Região Amazônica possui a maior biodiversidade do planeta. É uma terra de matas riquíssimas, porém de frágeis solos. As árvores que compõem suas matas alimentam-se da ciclagem de nutrientes, isto é, a pequena camada de folhas, galhos secos e restos de animais depositados sobre o solo, nutrem as árvores magníficas de até 50 metros de altura. As raízes destas árvores se localizam na superfície do solo, o que facilita a absorção de nutrientes. A mata preservada possibilitava o equilíbrio da temperatura e facilitava a formação de chuvas devido a alta evaporação. Porém hoje, esta riqueza de vida deu lugar a imensidão de áreas de pastagens, cafezais, cultivos anuais que vem mudando completamente o clima da Amazônia.

A mata servia como termostato, regulando a temperatura, ciclos de chuva e assim a pessoa do campo podia se preparar para enfrentar tanto a seca como a chuva amazônica. Derrubamos a mata sem distinção, em encostas, morros, acabamos com as Áreas de Preservação Permanente (APPs), iniciando um processo acelerado de degradação dos solos. A biodiversidade deu lugar a mono-diversidade, isto é, nossa fauna e flora teve que ceder espaço ao capim e ao gado, nossa maior riqueza no momento. 

Roseli Mª. K. Magedanz


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Autor(a): Roseli Maria Klauck Magedanz
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Cartilha do Mês de Missão da JE 2012 / Ano: 2012
ID: 17188
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