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ID: 364

Mateus 22.15-22

Prédica

31/10/1971

Mateus 22.15-22
Reforma 

As vezes, até os fariseus têm razão. As vezes, até os hipócritas e fingidos dizem a verdade. As vezes, até os queiros têm de reconhecer que é Jesus Cristo. Sabemos que és verdadeiro, franco, sincero, honesto. Sabemos que ensinas o caminho de Deus de acordo com a verdade - sem te preocupares com quem quer que seja - pois não olhas a categoria das pessoas. No caso, mão interessa tanto a intenção desses alcagüetes - que só estavam querendo espionar, para depois denunciar a Jesus. O importante é que até os inimigos de Jesus são obrigados a reconhecer que estão diante de um homem livre, tão livre que até rebenta a armadilha que preparam para enredá-lo. Tão livre que até anula e desmascara a mentira dos falsos elogios. Essa liberdade só pode existir em Cristo, através de Cristo, e pelo poder de Cristo. Essa liberdade se chama Reino de Deus. E só quem guardar isso muito bem na cabeça, vai conseguir compreender o resto. 

Por outro lado, mesmo que alguém não esteja lá muito relacionado com Jesus, o assunto dos impostos e tributos é bem atual. E aí está: o assunto Jesus Cristo sempre está ligado à vida que a gente leva. E o bate-papo entre Jesus e aquela cambada de fofoqueiros que foi fazer provocação, trata de uma realidade que faz parte de nossa vida: César. Concretamente, a turma estava se referindo ao imperador romano, Tibério. Tibério, o senhor de todo o mundo conhecido de então, o césar que subjugava a todos. 

Mas é bom não esquecer que césar é o símbolo de todos os tempos e lugares. César é o mesmo que poder. César é quem tem o direito porque tem a força. César é quem usa o direito da força porque é o mais poderoso, em algum lugar, em qualquer lugar deste mundo. César é quem governa para o bem do povo - ou pelo menos afirma que está fazendo isto. .César ë capaz de modificar formas e métodos ao infinito - mas continua sendo César. César pode ser uma pessoa - ou algumas pessoas. E a gente lê seu nome em todos os jornais, ouve pelo rádio, vê na televisão. César pode ser muito visível e individual, como nas ditaduras, p. ex. César pode ser mais coletivo e mais anônimo, como nas chamadas democracias. César pode ser um benfeitor - e Tibério gostava de ser chamado assim. E césar pode ser um tirano. E o mesmo césar que hoje quer a paz, poderá iniciar a guerra de amanhã. César é tudo isso. E em tudo isso, césar quer a obediência e a participação dos cidadãos. 

E então se levanta a pergunta: é licito, é correto, é permitido participar de tudo isso? Participar diretamente? Ou participar como quem observa em silêncio? Por outro lado: que vale nossa pequena vida sem importância - em comparação com a vida de césar, que decide os rumos, os destinos de um povo ou de todos os povos? 

No episódio narrado pelo Evangelho, existe um detalhe que faz pensar. Essa pergunta - É permitido? - é feita por gente que Jesus chama de hipócritas. Que é um hipócrita? Hipócrita é quem faz de conta. O hipócrita sempre está perguntando uma coisa para ficar sabendo outra. Essa gente que queria saber se era correto pagar tributo ao tirano - tinha muito interesse na questão, mas por motivos completa mente diferentes. Os fariseus odiavam a césar e os herodianos praticavam aquilo que se chamava puxassaquismo. E eis que, curiosamente, diante do Cristo, amigos e adversários de césar se juntam e fazem juntos a mesma pergunta: uma pergunta falsa, uma pergunta hipócrita. Porque cada grupo já tinha decidido por si. O interesse se concentrava na resposta de Jesus - porque Jesus era um homem livre - e a liberdade incomoda os que não são livres... Fariseus e herodianos precisavam acabar com essa liberdade.
Se Jesus respondesse: é permitido: - os fariseus podiam comemorar seu triunfo diante de todos: Ele é um traidor do povo! Se Jesus dissesse: Não é permitido - os herodianos podiam confirmar a denúncia: Ele é um agitador contra as autoridades! Para isso se juntaram amigos e inimigos de césar: para apagar a incómoda verdade de Jesus. E por isso era hipócrita a pergunta. 

Será menos hipócrita a mesma pergunta - em nossas bocas ou cabeças? Aqueles que entre nós são defensores ou adversários de césar, não fazem a mesma pergunta? 

A mesma história do Evangelho apresenta outro detalhe que faz pensar: Jesus não responde a pergunta. E não responde porque nenhuma pergunta hipócrita merece resposta. A verdade nunca precisa dar satisfação mentira - assim como a liberdade nunca pode existir no meio de escravos. 

Jesus diz bem outra coisa. Jesus faz um convite para que seus perguntadores se libertem da hipocrisia e dêem o passo decisivo para dentro da verdade. E Jesus faz esse convite pedindo que alguém mostre a moeda que todos tinham no bolso. 

E quando aparece a moeda - aparecem muitas outras coisas mais. Todos pertenciam a césar - assim como césar participava da vida de todos eles. Ninguém podia comprar e vender, trabalhar ou gozar a vida - sem a moeda de césar no bolso. César significava toda uma estrutura de vida. O simples fato de viver significava um reconhecimento de césar. E assim como toda moeda tem duas faces - todos eles estavam envolvidos pelos lados bons e maus de césar, pelas luzes e pelas trevas de césar. César não é uma coisa afastada e neutra - sobre a qual se pode conversar ou silenciar. Não. César está muito próximo de todos nós, no bem e no mal - na justiça e na injustiça. Assim como suas moedas estão no bolso de todos nós. 

César somos nós. Nossas necessidades é que tornam césar necessário. Nossas paixões e instintos é que determinam a — força e o poder de césar. Nossa maneira de pensar e de viver se refletem no modo de césar governar e agir. Sim: vamos ler o jornal! Vamos assistir à TV. As notícias contam aquilo que césar faz ou deixa de fazer. E aquilo que nos espanta, nos alegra, nos horroriza; aquilo que nos faz participar ou protestar - aquilo somos nós. Aquilo é nosso retrato. É por isso que não nos resta outra alternativa do que dar a césar o que é de césar. Porque ninguém pode apagar a própria sombra! E agora que abrimos o envelope, podemos en tender o convite de Jesus: dai a Deus o que é de Deus! 

Acima de césar, acima de nós mesmos, acima dessa mistura de coisas certas e erradas, de coisas justas e injustas, a cima das exigências de césar e acima de nossa obediência à césar - está um outro. Um outro que é o Senhor de césar e por isso o verdadeiro Senhor de todos nós. Deus é quem decide o que está certo e o que está errado. Deus é quem determina o que é permitido e o que é proibido. 

Dai a Deus o que é de Deus! Dai a Deus a gratidão porque Ele nos ampara e nos protege, dia após dia, neste pobre mundo de césares. Dai a Deus louvor porque Ele nos perdoa, dia após dia, neste mundo onde só se elogia a césar. Dai a Deus vosso coração. Vosso coração e vossa consciência não pertencem a césar. Dai a Deus somente a honra e a glória. Dai a Deus vossa vida. Porque ninguém pode se alugar ou ar rendar a césar. Dai a Deus aquilo que nenhum: césar aprecia: vossa pobreza, vossa doença, vossa miséria. Deus aceita tu do isso. 

Dar a Deus o que lhe pertence significa viver na verdade, entrar no reino da verdade.

Dar a Deus o que lhe pertence, significa viver na liberdade. Até mesmo na liberdade de negar a césar o que não lhe pertence. Por exemplo: podemos e devemos orar por césar. Mas não podemos nem devemos adorá-lo. 

Há 450 anos, na presença do imperador, dos príncipes e das autoridades eclesiásticas, um simples monge resolveu arriscar a vida, para não matar a própria consciência. Para ser obediente a Deus somente, rebelou-se contra tudo e contra todos. Quem quiser dar a Deus o que é de Deus, terá de correr um risco semelhante. Em compensação, o Cristo que nos faz este convite, é o único que pode nos dar verdade e liberdade para isso. Amém.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Dia da Reforma
Natureza do Domingo: Dia da Reforma

Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 22 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 22
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23332

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