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ID: 364

Lucas 23. 33,39-48

Prédica

31/03/1972

Lucas 23. 33,39-48
Paixão 

Se alguém perguntasse quais são as grandes comemorações da Igreja, a resposta seria simples: são os momentos marcantes da vida de Jesus Cristo. É por isso que a sexta-feira da Paixão é comemorada. Vamos, pois, refletir juntos sobre a morte de Jesus - e para participarmos de modo bem pessoal dessa morte, depois, ao tomarmos a Santa Ceia. 

Quer dizer: estamos colocados, agora, diante da cruz. E de um jeito ou outro, vamos reagir diante dessa cruz. 

Não é a primeira vez que homens se encontram diante da cruz do Cristo. Na primeira vez, as reações, as atitudes, as opiniões, diante daquela cruz, foram as mais diversas e variadas possíveis. E essa variedade de reações foi se repetindo, através dos tempos. Não seria milagre se, neste culto, se encontrassem de novo todas as diferentes reações, atitudes e opiniões. 

A atitude mais cruel, mais estúpida e mais burra é a da multidão. O povo estava lá, parado, olhando. E quando tudo passou, a multidão bateu no peito e se retirou. Foram embora com um gosto muito vago de remorso, de quase arrependimento. Uns dias atrás a mesma multidão tinha aclamado, elogiado, louvado Jesus. Depois, as mesmas bocas exigiram, aos berros, que Jesus fosse condenado à morte. E quando alcançaram o que desejavam, foram assistir ao espetáculo de sua execução. Hoje, aliás, alguns privilegiados vão assistir à repetição teatral da mesma coisa, pela TV a cores. Nós estamos falando de uma atitude. E essa atitude meio apática, passiva, de quem está lá, parado, olhando - é a mesma coisa de quem está sentado, porque na sexta-feira Santa de hoje, a gente vai fazer higiene espiritual e botar a consciência em dia, por mais alguns meses. Essa atitude indecisa, acomodada, de quem não está bem certo daquilo que faz, ë a pior de todas. 

É pior que a atitude das autoridades e dos soldados que zombavam e escarneciam. Porque estes pelo menos agiam conscientemente. Para eles Jesus era um louco com mania de grandeza. Do ponto de vista deles, eram até bem honestos: onde é que já se viu? Esse sujeito pretende ser filho de Deus, o Cristo - e no entanto não consegue nem salvar a si mesmo! Uma coisa dessas não se entende. Esse homem não é normal! 

E houve mais uma reação bem interessante, no fim, quando tudo tinha passado. Foi a atitude do centurião: Este homem foi realmente um justo. O centurião também não conseguia entender bem o que estava acontecendo. Mas ele percebia que aquele condenado tinha sido executado sem motivo, sem culpa. O centurião começava a adivinhar a verdade: estava a um passo da fé.

Até agora, ainda não falamos das atitudes de duas personagens situadas no centro do acontecimentos. São duas atitudes bem opostas, as mais opostas, em relação a Jesus. Trata-se dos dois malfeitores. 

Um deles gritava, no meio de seu sofrimento: Então, você é o Cristo? Então trate de salvar-se e aproveite para salvar-nos também! 

Eu não sei se alguém entre nós alguma vez sentiu simpatia pelas palavras desse malfeitor. Em todo o caso, essa mistura de dúvida, desconfiança e desespero, é muito nossa: Se Cristo é Deus, se Deus é todo-poderoso, se existe um Senhor do Universo - então que cure o meu câncer, arranque-me das dificuldades financeiras, resolva meu problema de família, dê-me aprovação no exame, salve-me da vergonha, arranje-me um casamento. Se você é Deus, no duro, dê um jeito na minha vida e nos meus problemas! 

Nunca falamos assim? Nunca pensamos assim? 

De repente fica bem claro que nós estamos bastante próximos desse malfeitor; que nós, de certo modo, até nos identificamos com ele. Ele é nosso irmão. Nosso irmão em nossa falta de fé! Nós sentimos a mesma coisa porque temos um sentimento em comum com ele: nós não reconhecemos nossa culpa. Nós não gostamos de examinar, nua e cruamente, a verdadeira situação de nossa vida. Nós achamos que Deus não nos apóia. Mas quando batemos pé e exigimos que Deus dê um jeito, que Ele quebre o galho - no fundo, bem no fundo de nós mesmos, pouco nos interessa se Deus é Deus, se Cristo é Cristo. O que importa sou eu. O que importa é que eu seja salvo, que eu consiga sair do aperto. Assim também se pode reagir diante da cruz... 

O outro malfeitor faz uma coisa rara: ele censura o companheiro. Reconhece que os dois estão colhendo os resultados de seus atos assim como quem semeia ventos colhe obrigatoriamente tempestades. O outro malfeitor reconhece simplesmente que Jesus não fez mal algum. E se atreve a pedir: Jesus, lembra-te de mim, quando fores para o teu reino.

Esta é a outra reação possível, diante da cruz: Ele não fez mal algum - nós merecemos o castigo. Quer dizer: aquele segundo malfeitor olha para Jesus, para o companheiro de sofrimento - e começa a notar que alguma coisa está errada em tudo aquilo. Se Jesus foi condenado injustamente - então quem é esse Jesus? Será verdade o que se diz dele? Então ele talvez possa ajudar-me. Não custa tentar: Lembra te de mim, Jesus! 

E de toda aquela gente, tanta gente que estava em volta rindo, abusando, blasfemando, gritando, dizendo coisas - este malfeitor condenado é o único que recebe uma resposta de Jesus: Hoje estarás comigo no paraíso. 

Que quer dizer este hoje? E que é o paraíso? Onde fica? Não sei. Ninguém sabe. O importante também não é isso. Todo mundo que começa a explicar essas coisas - está fazendo hora com os outros. 

O importante na resposta de Jesus ê isso: Você está perdoa do. Você tem culpa, nem há dúvida. Mas você reconheceu essa culpa. E resolveu confiar totalmente em mim. Isso é o que basta. Vem comigo. Para sempre. 

* * * 

E agora voltamos ao começo. 

Estamos todos diante da cruz. 

Qual é a nossa reação? Nossa atitude? 

É a da multidão? Do centurião? Das autoridades? Do primeiro malfeitor? É a do segundo? 

* * * 

Gostaria de lembrar que daqui a pouco vamos celebrar juntos a Santa Ceia. E então a pergunta volta. Porque no pão e no vinho Deus oferece o perdão a qualquer pessoa que se aproximar da mesa do Senhor. Trata-se de uma oferta direta, pessoal, a cada um em particular. Uma oferta que se sente até o gosto. A oferta do perdão. 

Aquele corpo pendurado na cruz, aquele sangue que escorreu, conquistaram esse perdão para nós. Por isso celebramos hoje aquela morte. 

* * * 

E então a pergunta volta: Qual é a nossa reação diante do Cristo que morreu na cruz? 

Não venha à Ceia do Senhor quem reage com a multidão, no seu comportamento passivo e acomodado. 

Não venha à Ceia do Senhor quem reage com as autoridades, na sua atitude de zombaria e descrença. 

Não venha à Ceia do Senhor quem reage com o primeiro malfeitor na sua mistura de desespero e sarcasmo. 

Não venha à Ceia do Senhor quem reage com o centurião, apenas adivinhando coisas pela metade. 

Mas venha à Ceia todo aquele que tiver coragem de analisar, examinar, sondar sua vida, pensamentos e atos. Venha quem puder confessar: sou pecador; mereço castigo. Venha quem estiver disposto a jogar a última cartada, a última chance, o último lance: quem espera tudo, tudo mesmo, daquela cruz: Jesus, lembra-te de mim!

Quem vier assim, pode estar certo de que ouvirá a mesma resposta: Você está perdoado; venha comigo. Amém.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Natureza do Domingo: Sexta da Paixão

Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 23 / Versículo Inicial: 39 / Versículo Final: 48
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23311

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