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Isaías 66.13

Prédica

09/05/1971

Isaías 66.13
Cantate 

Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei, diz o Senhor. 

Cada um de nós e cada qual sua maneira tem boas e más experiências nesta vida, cada um vive da recordação de momentos agradáveis e tristes, em cada um se processa uma luta Intima entre bons e maus instintos. E eis-nos todos, — neste Dia das Mães, reunidos para o culto, cada qual acumulando e trazendo consigo aquilo que o caracteriza, que o personaliza, aquilo que o faz sofrer e também alegrar-se. É evidente que voltaremos para casa com tudo isso que, no conjunto, nos faz ser o que somos. Mas entre nossa entrada e salda torna-se público o recado que Deus nos envia: da maneira como uma mãe consola alguém, assim eu vos consolarei. 

Todos nós podemos ouvir esse recado. Nós que vivemos em uma época repleta de crises e perguntas que nos fazem sofrer e pelas quais também somos responsáveis. Nós, pessoas que percebemos as grandes decisões que já se encaminham, que nos dizem respeito e que, de um modo ou de outro, se tornarão decisões nossas. Nós que habitamos um mundo ameaçado por todos os lados. Nós que não podemos permanecer como plateia, como meros expectadores. Nós que, diante dos acontecimentos, somos surpreendidos por perguntas como: Quem é você? Qual o seu ponto de vista? De que vive você? Que é que você pode fazer? Que será de você? Nós estamos sendo convidados a ouvir a informação do Senhor: Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei. 

É importante considerar quem diz isso. Não é diferente saber-se quem afirma o quê. Não existem palavras soltas ao vento, que simplesmente passam a ser em si mesmas verdadeiras ou falsas, fortes ou fracas. Qualquer declaração sempre se qualifica através do seu autor. Assim sendo, a promessa de consolo está decisivamente ligada aquele que a faz. Isso é que torna relevantes e válidas as palavras que ouvimos. Porque o Deus que promete consolar-nos é o Deus que se torna Ele próprio nosso consolo, auxílio e alegria. Suas palavras de consolo são importantes, porque Deus é necessário e importante. Resta saber se permitiremos que a informação de Deus, sobrepujando todas as outras informações, nos alcance. Resta saber se queremos ouvir sua voz, acima e além de todo o vozerio de nosso tempo. Eu vos consolarei, diz o Senhor. Mas - que é consolo? Consolo é esse fato novo que penetra na desolação, no desespero, na angústia, na desilusão. O consolo penetra em tudo isso e cria ma situação nova, que permite a tranquilidade, a paz interior, a calma, o descanso. Mas não nos enganemos. Nada de equívocos: Descanso, tranquilidade, consolo - tudo isso não é apenas emplastro poroso. Consolo não é aspirina. A ausência de inquietação ainda não significa consolo. Há muita gente que não chega a inquietar-se, que vive realmente despreocupada - porque é gente egoísta, indiferente. Mas a inquietação anestesiada, disfarçada ou alcoolizada ainda não é verdadeiro consolo, verdadeira paz interior. 

Verdadeiramente consolados são aqueles que, no meio das in quietações, angústias e agitações, sabem que estão guardados e protegidos. Consolados são aqueles que se sabem protegidos contra a doença, por exemplo, apesar de já estarem sofrendo. Consolados são aqueles que se sabem protegidos contra as pessoas, por exemplo, apesar de atacados pelas más línguas e pelas inúmeras crueldades de que o ser humano é capaz. Consolados são aqueles que se sabem protegidos contra si mesmos, pois é do nosso íntimo que surgem os perigos verdadeiramente mortíferos. Consolado, em suma, é o ser humano que sabe de duas coisas: 1) que não pode proteger-se a si mesmo, e 2) que está sendo protegido. Por Deus Na proteção de Deus reside nosso único e verdadeiro consolo. E é por isso que o consolo cria uma situação nova e renovadora. E em que consiste a situação nova, criada pelo — consolo de Deus? É uma situação que se pode resumir numa palavra: Liberdade. O consolado é um homem livre de tudo aquilo que aparentemente o aprisiona, livre da morte e do medo de morrer, livre das intenções malignas em seu intimo, livre dos absurdos que dominam este nosso mundo. Consolado e livre é o ser humano que conhece e reconhece todas as limitações e barreiras que o cercam e que querem isolá-lo. Quem reconhece as próprias limitações, enxerga saídas por todos os lados. Porque sabe que, além dessas saídas, do outro lado é Deus quem o aguarda, para saudá-lo e recebé-lo. 

Só vivendo no consolo dessa liberdade protetora é que o ser humano passa a enfrentar realmente todas as situações de uma maneira nova. Só uma pessoa consolada e livre saberá aceitar o lugar que lhe cabe nesta vida, a trajetória que lhe foi traçada neste mundo. Aceitar nossa função na vida significa reafirmá-la em cada novo dia, sempre de novo, apesar dos sacrifícios implícitos, apesar das renúncias exigidas, apesar da dor. 

Mas quem é que consegue isso? Quem que aguenta isso, dia após dia, ano após ano? O recado de Deus não informa, não diz se tais pessoas existem. Em compensação, ficamos sabendo de coisa muito mais importante: Deus nos consolará, nos protegerá, nos libertará. E tudo isso nos é dito através de uma comparação: Deus nos consolará de modo semelhante ao da mãe que consola alguém. Ou seja: cumpre às mães traduzirem em termos humanos, concretos e diários, o consolo que Deus quer nos dar. E o consolo materno só será mesmo consolo sincero e honesto, na medida em que resultar em proteção e liberdade. E mais ainda: só e unicamente a mãe que conhecer o verdadeiro consolador, protetor e libertador, poderá e saberá cumprir sua tarefa. É uma missão nobre, elevada, que exige renúncia e amor. E somente a mãe consolada, protegida e libertada por Deus saberá refletir, em sua missão, o verdadeiro e insubstituível consolo de Deus. E é necessário repetir mais uma vez, bem claro, que não é através da psicologia, da pedagogia ou até da astrologia e quaisquer outros truques e ciências que as mães se tornarão um espelho do consolo de Deus. Tudo isso não adianta e não convence. A mãe moderna, assim como a mãe de todos os tempos, precisa ter fé. Não qualquer fé, mas fé em Jesus Cristo! Só a mãe que confia em Cristo pode inspirar confiança aos filhos e também ao marido. Só a mãe que, sabe ser Cristo a única esperança poderá ensinar seus filhos a esperar algo de novo e vivificante. Mas a fé não se encontra nos chazinhos, nas rodinhas de fofoca, nos coquetéis e na rua. Nem na limpeza cuidadosa da casa, embora certas faxinas pudessem redescobrir alguma Bíblia, por exemplo. A fé que as mães, os pais e os filhos precisam, para que nossa sociedade, nosso povo e nossa pátria não apodreçam de vez, só nasce da Palavra de Deus. É preciso ouvir essa palavra, aprendê-la, ensiná-la, difundi-la. Porque a Palavra de Deus, o recado de Deus, anuncia a única verdade capaz de auxiliar, responder às angústias, proteger em tormentos e dores, libertar para a vida abundante, para a vida arejada, para a vida que merece esse nome. As mães têm imensas possibilidades nesse setor.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 66 / Versículo Inicial: 13
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23312

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