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ID: 364

Ascensão - Colossenses 3.1-4

Prédica

07/05/1972

ASCENSÃO

Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as cousas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas cousas lá do alto, não nas que são aqui da terra; Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, em glória. - (Colossenses 3.1-4) 

Na próxima quinta-feira os cristãos celebram a ascensão de Jesus Cristo. Relembram aquilo que se confessa também no Credo Apostólico, que Jesus Cristo subiu aos céus onde está sentado à direita de Deus. É o que ouvimos antes na leitura do Evangelho e é também o que lemos nesse trechinho da carta aos Colossenses. É claro que ninguém, em juízo perfeito, pode se atrever a explicar como é que Jesus subiu aos céus. Mas cada um de nós pode e deve receber a informarão sobre o sentido de tudo isso. Então vejamos: Que significa a ascensão de Jesus Cristo aos céus? 

Quando a Bíblia fala sobre a direita de Deus, a mão direita de Deus, isso é uma maneira de dizer e confessar que Deus tem realmente poder, todo o poder — que Deus governa, com justiça e com misericórdia, todo o mundo e toda a nossa vida. Com sua mão direita, Deus salva seu povo Israel, Deus defende os pobres e os miseráveis, Deus derruba seus inimigos e Deus garante sua vitória sobre os homens e a favor dos homens. Com sua mão direita, Deus é Pai e Senhor, Deus introduz seu Reino neste mundo. 

Quando lemos, dizemos e confessamos que Cristo está sentado à direita de Deus, é claro que isso é uma ilustração, uma comparação, uma maneira de dizer. E o sentido é: Deus é Rei e Cristo é seu braço direito. Em outras palavras: Cristo não pode ser separado, cortado de Deus, mas Cristo participa da glória e do poder de Deus. Deus tem um rosto, um caráter, um nome. Jesus Cristo é o rosto, o caráter, o nome de Deus. E Deus não tem e não pode ter outro nome! Quando cristãos falam em Deus, estão pensando automaticamente naquele Deus que se tornou homem por nós, e que sofreu, morreu e ressuscitou — e está conosco através de sua palavra — e em cujo nome fomos batizados — e que nos alimenta para a vida, na Santa Ceia. E quando
cristãos falam em Jesus Cristo, não estão pensando apenas nó Mestre, no mártir, no grande homem que ele foi ou deixou de ser — mas sim, estão pensando naquele que é o Senhor, sem o qual nada existe de glorioso ou poderoso, neste mundo. 

Essa é a verdade que se tornou clara, que foi revelada aos apóstolos no dia da ascensão. E essa é a verdade que hoje é relembrada a todos nós, através de um convite: Buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto! 

Por que, afinal? Tanto na próxima quinta-feira, como já na segunda-feira, sim até mesmo hoje à tarde ou à noite nós vamos pensar, nós vamos ter de pensar nas coisas daqui da terra, nas coisas de nossa vida. Sim, certo, mas que é nossa vida? Que é isso que se estende do parto até o último suspiro? 

Quando a Bíblia fala sobre nossa vida, podemos e devemos pensar em tudo aquilo que faz parte dessa nossa vida. Quer dizer: as coisas da alma e as coisas do corpo, as coisas Intimas e as públicas, a vida particular e a vida política, a vida bem pessoal e a vida com os outros. Nossa vida é isso que nós gostamos de enfeitar um pouco, que nós queremos aproveitar — e nossa vida é isso que sempre sofre abalos e que às vezes nos parece uma coisa estragada, perdida e sem sentido. Nossa vida é o que nós queremos segurar e proteger, é o que às vezes gostaríamos de prolongar até — é o que ,apesar de tudo, tem um limite intransponível chamado morte. 

Quando a Bíblia fala sobre nossa vida, está falando nessa mistura de desejos, esforços, esperanças, sucessos e desilusões — essa mistura de claridade e escuridão, de beleza e de ameaças, de risos e de lágrimas. E quando nós pensamos em tudo isso que faz parte de qualquer vida, nós achamos que conhecemos nossa vida. Mas nós não conhecemos! Nem mesmo a experiência da vida (aquilo que nós chamamos de experiência da vida! ) pode nos dizer o que é nossa vida mesmo, qual o sentido último de tudo isso. 

Mas a Bíblia esclarece que essa mistura toda, com suas desordens até, é uma vida arrumada. Que essa vida condenada à morte, é uma vida salva. Que essa vida presa a vícios, desejos, doenças, é uma vida libertada. Como é que a Bíblia pode afirmar uma coisa dessas? 

Porque Jesus Cristo está sentado à direita de Deus. Lá do alto cai uma luz que invade esta nossa vida. E essa luz da verdade nos diz o seguinte: aquilo que nós conhecemos da vida, de nossa vida, ainda não é, nem de longe, toda a realidade. A vida não é só essa mistura de mistérios e perguntas sem resposta. A vida também é aquilo que a carta aos Colossenses explica, começando com uma surpreendente declaração: Vocês foram ressuscitados juntamente com Cristo.

Nós fomos ressuscitados com Cristo — essa é a parte da realidade de nossa vida que transforma todo o resto, que joga luz no resto. Assim é que podemos e devemos acrescentar, juntar a tudo o que foi dito, o seguinte: Quando a Bíblia fala sobre nossa vida, está falando sobre Jesus Cristo. Quer dizer: de uma vida humana como a nossa, com as mesmas limitações, as mesmas perguntas, as mesmas misérias. Jesus Cristo é tudo isso também. Mas essa vida humana alcançou a vitória, a salvação, a libertação, a arrumação. 

E quando a Bíblia fala de Jesus Cristo, está falando sobre nossa vida: porque aquela criança de Belém nos transformou em filhos de Deus, aquele sofredor no Calvário sofreu o castigo que seria o nosso, aquele Ressurreto apagou nossa morte — e mostrou que Deus é nosso Deus! 

E quando Jesus Cristo subiu aos céus, foi nossa vida humana que foi elevada até a comunhão com Deus. Jesus Cristo é a verdadeira transformação e renovação de nossa vida — e cada um pode ter e viver essa transformação, desde que veja e tenha a Jesus Cristo. 

E você dirá: pois eu não vejo nada disso na minha vida — e menos ainda na vida dos outros. 

Isso é exatamente o que também diz a carta aos Colossenses: a vida de vocês está oculta, está escondida com Cristo em Deus. 

Ainda está escondida, essa vida arrumada e transformada. A única coisa que temos do Cristo é a palavra de suas testemunhas, é o batismo, é a Santa Ceia.
Mas quando Cristo se manifestar, então vai se manifestar também tudo aquilo que nossa vida realmente é. 

Nossa vida não é apenas isso que começa no berço e acaba na sepultura. Nossa vida é também aquilo que já começou com Cristo e que um dia vai aparecer de maneira total. 

Essa realidade total de nossa vida, nós não podemos agarrar como se fosse nossa propriedade. Essa realidade total nós só. Podemos buscar, nós só podemos pensar nela. Buscai as coisas lá do alto. 

Lá do alto! Que é alto? Lá no alto está Cristo, nossa vida. E aqui na terra? Aqui na terra estamos nós. Nós com o pouco que conhecemos de nossa vida.

Não adianta encostar a mão no rádio, para melhorar esse pouco de vida. Não adianta correr atrás de milagreiros. Nós nunca vamos ter mais em nossa vida do que Jesus Cristo mesmo. Buscar ao Cristo que é nossa vida é o máximo que nós podemos alcançar nesta vida. Notaram bem? O máximo é uma busca. Ninguém pode e ninguém deve imaginar que já encontrou tudo. Não. Meus amigos, nunca acreditem naqueles que querem oferecer tudo! Isso é um logro! 

Contentemo-nos em buscar, procurar sempre. Os que buscam e procuram a Cristo, nossa vida, são os que saem do medo para a coragem, da tristeza para a alegria, do ódio para o amor, da preocupação para a confiança e até da burrice para a sabedoria. 

Essa saída da escuridão para a luz é o que significa a ascensão de Jesus Cristo para nós, hoje. 

(Igreja Central — 7-5-72) 

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Ter fé é uma maneira de viver... viver como peregrino, como quem não tem um lugar certo. Viver sem acomodação. Viver sem segurança... Podemos crer, confiar e esperar!”

(Testemunhas – Sup. No. 4 – pág. 17)

[Prédica publicada também em: Irreverência, compromisso e liberdade. O testemunho ecumênico do pastor Breno Arno Schumann (1939-1973). Escola Superior de Teologia e Koinonia. Presença Ecumênica e Serviço, 2004,p. 110-113.]
 


Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Domingo: Ascensão

Testamento: Novo / Livro: Colossenses / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 4
Título da publicação: Esperança - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1974 / Volume: Suplemento Número 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22291

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