“Procurem a paz da cidade... e orem por ela ao Senhor;
porque na sua paz vocês terão paz.” (Jeremias 29.7)
“Portem-se como cidadãos, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo...” (Filipenses 1.27)
Joinville, 28 de setembro de 2016.
Prezado(a) irmão(ã) na fé:
Graça e Paz!
No domingo passado, instantes antes de o culto matutino iniciar, um membro de nossa Paróquia pediu para eu dar uma palavra sobre as eleições municipais e a consulta popular Plebisul, ambas acontecendo neste próximo fim de semana. Para não simplesmente deixar passar em branco ou negar o pedido, manifestei-me de modo bem breve no momento dos avisos. Refletindo após, percebi que seria importante aprofundar estas questões, conforme segue por escrito.
Política é bem mais ampla do que a política partidária. Exemplo disso foram as manifestações apartidárias de milhares e milhares de pessoas, nas ruas de diversas cidades do País, pedindo mudanças no governo federal, bem como a continuidade das investigações dos casos de desvio de dinheiro público e pagamento de propinas. Aliás, política vem do grego “polis” = cidade. Portanto, ser cidadão(ã) que busca cumprir as leis, deseja o bem-estar e quer o exercício correto da justiça para todas as pessoas do lugar onde vive (cidade, estado, nação, mundo). Os versículos acima mostram que a vivência da fé envolve nossa prática política - no sentido mais amplo - por meio da oração e da ética baseada no Evangelho. Isso envolve também nossa liberdade de escolher, por meio de voto, o novo prefeito e os novos vereadores(as) para o mandato 2017-2020. Quem for exercer os poderes executivo e legislativo, nestes próximos quatro anos, será colocado lá pela vontade da maioria. Porém, tem o dever de exercer o poder em benefício de todas as pessoas do município.
Sobre as eleições à Prefeitura e à Câmara de Joinville, no domingo:
- Temos como analisar três candidatos que tiveram seu período enquanto prefeitos da cidade. Assim como foi, assim o será, caso um destes seja eleito. Ou seja, mudará muito pouco ou não irá mudar com relação à vez anterior em que exerceram o mandato de prefeito. Temos, assim, uma boa base para análise destes.
- Dois candidatos não foram prefeitos, mas exerceram outros cargos políticos. Suas atuações nestes terão a ver, caso um deles seja eleito, com o modo como exercerão o cargo de prefeito.
- Os demais três candidatos ainda não exerceram cargos políticos. Uma análise de sua conduta fi-ca um pouco mais difícil. Porém, ainda mais com o auxílio da internet, é possível saber algo de seu cará-ter e suas ações noutras frentes. Agirão de modo semelhante ao que já fazem, caso um destes seja escolhido prefeito.
- Como Igreja (IECLB), não determinamos em quem nossos membros devem votar. Também, salientamos que todos os partidos possuem virtudes e gente com ética, bem como todos têm limitações e corruptos em seu meio. Não há partido mais “cristão” ou mais “crente” que os demais.
- Dentro desta liberdade de votar e escolher, cada qual terá suas preferências. Porém, isto não pode ser motivo para gerar conflitos, mágoas e afastamentos entre irmãos(ãs) na fé.
Sobre o Plebisul, no sábado:
- Trata-se de uma consulta popular, não obrigatória, acerca da opinião sobre o desejo de tornar os três estados do Sul (PR, SC e RS) independentes do Brasil. É organizada pelo movimento “O Sul é o meu País”. Não pode ter caráter de plebiscito, de acordo com a Constituição Brasileira.
- Esta ideia de separação vem desde a década de 1990. Naqueles anos, havia motivação xenófoba, ou seja, preconceito contra o povo nordestino. Xenofobia ou preconceito é pecado: “Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com favoritismo. Não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?” (Tiago 2.1 e 4). De alguns anos para cá, o separatismo retornou com mais força. É preciso analisar se o atual movimento tem ou não motivações xenófobas.
- É legítimo ambicionar uma vida melhor, uma gestão mais adequada dos recursos públicos e uma política com menor corrupção e impunidade. Ambição em si não é errado. Porém, se ela for com motivação egoísta, menosprezando o próximo ou até lhe prejudicando, é obra da carne, pecado (Gálatas 5.20). É preciso analisar se o movimento tem ou não ambições egoístas.
- Os simpatizantes divulgam sua inconformidade com a arrecadação de impostos e a má distribuição dos recursos. Alegam que os estados do Sul vêm sendo prejudicados. De fato, é um argumento bem razoável. Porém, as outras regiões do País não sofrem com isso também?
- O movimento alega que “Brasília” (governo federal e Congresso Nacional) não tem mais jeito. Separar o Sul seria a opção mais adequada para se combater a corrupção e a impunidade generalizadas. A Bíblia afirma: “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?” (Jeremias 17.9). Os inúmeros casos conhecidos de corrupção política e social, na região Sul, podem servir como base para uma análise pessoal deste argumento.
- Assim como nas eleições, cada qual tem sua opinião. Há quem defenda esta causa. Há quem seja contrário. Há quem não tenha se definido. Porém, como pessoas cristãs, precisamos analisar os argumentos à luz do Evangelho. E, nesta consulta popular, tanto se pode votar “sim” quanto “não”.
Como pessoas cristãs, nestas duas situações (eleições municipais e Plebisul), é fundamental orar e pedir a sabedoria que vem do alto (Tiago 1.5-8 e 3.13-18). Que assim seja!
Em Cristo,
P. Alexandre Fernandes Francisco (CEJ – Paróquia São Mateus)