Paróquia São Mateus

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Da água para o vinho

17/01/2016

“Fulano(a) mudou da água para o vinho!” Quando se diz isso, é porque alguém mudou bastante e para melhor. Certamente, este ditado tem origem num episódio relatado em João 2.1-11:

1No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali;
2Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento.
3Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho.
4Respondeu Jesus: Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou.
5Sua mãe disse aos serviçais: Façam tudo o que ele lhes mandar.
6Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabia entre oitenta a cento e vinte litros.
7Disse Jesus aos serviçais: Encham os potes com água. E os encheram até à borda.
8Então lhes disse: Agora, levem um pouco do vinho ao encarregado da festa. Eles assim o fizeram,
9e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo
10e disse: Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora.
11Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

Precisamos entender o ambiente cultural deste episódio, pois é diferente do nosso. O vinho é parte da cultura judaica, assim como a cerveja se associa à cultura alemã. Equivocadamente, há cristãos que condenam tomar bebida alcoólica. Porém, o pecado está no abuso ou na dependência, ou seja, se bebo demais ou não consigo ficar um tempo sem beber. O próprio Jesus tomava vinho e foi acusado de “beberrão” (Mateus 11.19; Lucas 7.34), embora jamais o fosse.

O casamento era bem diferente do que conhecemos hoje. Há algumas décadas, especialmente, na zona rural de Joinville, ia de sexta a domingo: na sexta à noite, se tomava Schwarzsauer e acontecia o “quebra-caco” (louças quebradas, trazidas por familiares e vizinhos, eram presenteadas aos noivos, que deixavam cair no chão, virando cacos e sendo varridas pelo jovem casal); no sábado de manhã, havia a cerimônia, depois, almoço e festa; no domingo de manhã, o “cata-Frühstück”, momento em que todos se reunim para comer o que havia sobrado da comida. Isto, sem contar os preparativos, dos dias anteriores à cerimõnia, com a ajuda de parentes e vizinhos. Nos tempos de Jesus, o casamento durava até uma semana (domingo à sexta, pois guardavam o sábado). O noivo ia à casa da família da noiva para buscá-la. Havia damas de companhia (carregando lâmpadas com azeite, como na parábola das 10 moças - Mateus 25.1-3) e noivo, às vezes, é que se atrasava. A cerimônia com festa era na casa da família dele. Os convidados iam e vinham durante aqueles dias, sem necessariamente participarem de tudo. Seria uma desonra e vergonha sem igual faltar vinho, pois, na tradição judaica, era obrigação do dono da casa alegrar os convidados com esta bebida.

João situa o episódio no terceiro dia, isto é, terça-feira. Considerando que o casamento teria começado no domingo e iria até antes do pôr do sol de sexta, já faltava vinho cedo. Calculou-se mal, ou beberam mais do que a média costumeira, ou teve muitos “penetras”. Seja qual for a razão, este casamento traria desonra e falatório por muitos anos... Jesus e seus discípulos recém-chamados (talvez, ainda não os doze) chegam ao local das festividades, em Caná da Galileia. Pensa-se-se que pode ter sido casamento de algum parente. De qualquer forma, há um grande problema a ser resolvido.

Maria, talvez parente do noivo, sabe que Jesus pode fazer algo. Ela toma uma atitude, embora não fosse anfitriã ou dirigente da festa. Sua compaixão mostra que não posso simplesmente achar que o problema dos outros não é meu, contanto que eu esteja bem. Por outro lado, Jesus deixa claro para Maria que Ele é soberano nas suas ações. Ainda não havia chegado a hora de se manifestar publicamente. Mesmo assim, Ele decide ajudar e Maria instrui aos servos para fazerem tudo o que Jesus dissesse. O milagre irá acontecer! E ocorre sempre a partir do que se tem, no caso, seis potes de pedra usados para as cerimônias judaicas de purificação com água – antes e depois das refeições – e água (entre 480 e 720 litros). Jesus pede para enchê-los e levar ao dirigente da festa para provar. De alguma forma, a água foi transformada em vinho. Não qualquer vinho, mas um de sabor especial, contrariando, no pensamento do dirigente da festa, o que normalmente se fazia. A reputação daquela cerimônia de casamento e da família do noivo estavam a salvo! Interessante que quem leva a fama é o noivo... Porém, Maria, os servos e os discípulos sabiam do milagre. E os discípulos creram em Jesus como Messias.

A época da Epifania, no calendário litúrgico cristão, nos lembra de que Deus se revela à humanidade por meio de seu Filho. Este primeiro milagre é uma das maneiras desta revelação. Penso que isto aponta para o que Jesus veio fazer na vida do ser humano: transformá-lo em filho de Deus, mudá-lo da “água para o vinho”. Nós e tantos outros esperamos por milagres. Estes não são costumeiros. Quem só reconhece o agir de Deus quando acontece algum milagre acaba esquecendo as bênçãos “costumeiras” do dia-a-dia. E esquece que milagre maior é a transformação de vidas: conversão (mudança de rumo) e santificação (transformação do caráter).

Jesus ainda hoje transforma “água em vinho”. Por meio do Espírito Santo, pessoas são convertidas, pecadores são quebrantados e filhos(as) de Deus são santificados. Cada vida mudada da “água para o vinho” terá reflexos nos lares e na sociedade. E a mudança começa em cada “coração”. Não vem por decreto, empolgação coletiva ou por compartilhar nas redes sociais. Posso afirmar que, pela graça de Deus, sou uma pessoa mudada “da água para o vinho”? Os outros percebem essa mudança?

Não podemos, como cristãos, achar que tudo está bem, se comigo e minha família está bem. Egoísmo é anticristão, antievangélico. Assim como Maria e Jesus se importaram e agiram na falta de vinho, também sou chamado a me importar e a agir, com a ajuda de Deus, para amenizar injustiças, desigualdades e sofrimentos. Tenho me compadecido das dificuldades das pessoas ao meu redor ou dou a “desculpa” de que não é comigo, não há o que fazer ou alguém outro irá agir?

Falar dos erros, defeitos e pecados das pessoas é bem fácil. É um modo de me “sentir bem”, porque há outro pior do que eu. Porém, Jesus Cristo pode e quer transformar a vida de outros pecadores. Quer tirá-los da escuridão da vida dedicada ao pecado e levá-los a fazer parte do Reino de Deus. Eu me alegro quando gente difícil é mudada “da água para o vinho”? Desejo que os pecadores perdidos sejam também presenteados com perdão, salvação e vida nova?

Pense nisso...
 


Autor(a): P. Alexandre Fernandes Francisco
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Joinville - São Mateus
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 36545

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Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas ações a fazer e, sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar.
Martim Lutero
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