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DIACONIA - O NOSSO "NEGÓCIO"

Uma reflexão sobre horizontes

11/09/2012

INTRODUÇÃO

Para que servem “horizontes”?

Vivemos numa “Belo Horizonte”. Para que serve um horizonte? Mais, para que serve um “belo horizonte? Conto uma breve história. Um homem queria alcançar o horizonte. Sem sucesso, indignou-se com Deus e disse: ora, meu bom Deus, que coisa mais sem sentido. Toda vez que estou para alcançar o horizonte, ele distancia-se sempre de novo. Eu sempre tenho que colocar novamente a caminho. Olha, já estou cansado de caminhar. E Deus sorrindo disse: meu bom homem é para isso que serve o horizonte: PARA CAMINHAR!

Eu pretendo falar um pouco de horizontes! Aquilo que serve para gente caminhar, ainda que pareça impossível alcançá-lo. Na Bíblia, a “terra prometida”, a “Canaã”, era um horizonte para o Povo de Deus caminhar. O povo andou, caminhou por 40 anos! O número é simbólico. O cristianismo achou que a “terra prometida” ainda não havia sido encontrada e passou a falar de “reino de Deus”, um “reino dos céus”. É um horizonte para caminhar. Horizontes são mais que uma coisa vaga. Horizontes são promessas!

A nossa IBML, motivo de estarmos aqui, é mais do que uma instituição de serviço social ou de assistência social. Isso o governo e um monte de gente também faz. A IBML é a concretização de um sonho, desejo, um anseio da CECLBH. É IBML é um sonho de fazer com que a nossa fé ganhe mãos e pés. O desejo de fazer com que a liberdade que Cristo nos deu nos liberte de nós mesmos – de uma fé muito egocêntrica - para servir. Hoje a CECLBH e IBML têm um horizonte: diaconia e evangelização.

Com razão muitas pessoas – inclusive algumas que estão aqui hoje – não gostam muito de blá, blá, blá. É certo! Muita conversa pode nos afastar do agir; pode nos afastar da fé concreta do dia-a-dia. Muita conversa pode significar pouca ação. Sem dúvida nenhuma eu concordo que é preciso “andar”, “caminhar”. Agora, todos vocês aqui hão de convir comigo que impossível caminhar sem “horizonte”. E, além disso, se vamos “caminhar” juntos, é fundamental que tenhamos o mesmo “horizonte”. É verdade que um “horizonte” é suficientemente amplo para incluir várias paisagens. No entanto, precisamos, pelo menos, de uma mesma direção. E principalmente, precisamos andar, caminhar sem deixar de mirar constantemente o nosso horizonte. Em outras palavras, vamos precisar equilibrar ação com reflexão, pois reflexão sem ação é uma inutilidade e ação sem reflexão é uma cegueira.

DIACONIA: O que é isso?

“Porque, em Cristo (...) tem valor (...)
a fé que atua pelo amor”

Gl 5.6

Gostaria de falar então do nosso horizonte: a diaconia. O que vem a ser diaconia é hoje uma grande reflexão em na Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Estamos lançando esse conceito teológico no Brasil. Estamos refletindo para defini-lo melhor. A CECLBH está trabalhando nessa discussão – realizamos um seminário sobre a relação “diaconia e evangelização”.

Em primeiro lugar, concluímos que evangelização e diaconia constituem a “missão de Deus”. Em outras palavras, isso não é uma opção da comunidade ou da igreja. Pelo contrário, a igreja e a comunidade só se constituem como tais na “missão de Deus”. Em segundo lugar, concluímos que não há evangelização sem diaconia e não há diaconia sem evangelização. Se ambas não caminham juntas, a diaconia e a evangelização não são completas.

Mas reflitamos sobre a “missão de Deus” olhando pelo lado da diaconia. Antes de mais nada, diaconia, como dito, é “a fé que atua pelo amor”. O termo “diaconia” aparece de forma clara em At 6, quando os discípulos sugerem que sejam escolhidas pessoas para fazer a distribuição diária do “pão” (cesta básica) para as “viúvas”. Aparece aqui a primeira semente de “organização”. A necessidade de organização surgiu do dia-a-dia porque os discípulos não davam conta de se “consagrar à palavra e à oração” e de “diakonein”, isto é, “servir à mesa”. Aparece aí também o critério claro da diaconia: atender os “fracos”, os que estão ficando “à margem”, os “excluídos” (a viúvas dos helenistas estavam sendo esquecidas (excluídas) na distribuição diária do pão, At 6.1.). Portanto, diaconia, mais do que “fazer o bem sem olhar a quem”, é restauração da justiça na sociedade e restituição da dignidade do ser humano (crianças, adolescente, idoso, família). A diaconia é uma defesa radical e intransigente de toda e qualquer vida que esteja ameaçada. E, principalmente, não devemos defender a vida para paternalizar pessoas. A defesa da vida deve buscar criar espaço de liberdade, autonomia e co-responsabilidade das pessoas.

A MIGRAÇÃO DA DIACONIA

A história do “bom samaritano” é o exemplo clássico da diaconia. A grande questão é que foi ficando complicado ser “bom samaritano”. Os “feridos” à beira das estradas vidas só têm aumentado dia após dia e as exigências financeiras, administrativas e legais não param de crescer. Foi preciso “institucionalizar” a ação do “bom samaritano”. Além disso, hoje exige-se que ação do “bom samaritano” seja “efeciente”. Foi preciso, então, “profissionalizar” partes da ação do “bom samaritano”. Agora, tornou-se evidente que sem planejar muito e sem uma linha estratégica de ação, a instituição não sobrevive. Tudo isso, porém, vem conduzindo a uma progressiva “migração” da diaconia de dentro das comunidades para instituições diaconais gigantescas.

UMA COMUNIDADE DIACONAL – UMA DIACONIA COMUNITÁRIA

A IBML, que foi crescendo à medida que cresciam as demandas, vem passando por essa reflexão. Percebemos o perigo! A partir de 1998, iniciou-se o esforço de enraizar a diaconia cada vez mais profundamente na vida da comunidade. O desejo é chegarmos a uma comunidade toda diaconal e uma diaconia toda comunitária.

Se, porém, a diaconia migrar definitivamente da comunidade será muito cômodo para todos nós. Teremos uma grande instituição que daria prestígio à comunidade e uma instituição que conta com alguma contribuição financeira da comunidade. Isso, porém, seria uma traição ao evangelho que entende que o mandato diaconal é de toda a comunidade. Essa traição lavra o atestado de óbito da instituição como concretização do mandato diaconal dirigido à comunidade. De um lado, teremos uma comunidade espiritualmente pobre: uma fé sem concreticidade. De outro lado, teremos uma instituição de vida muito curta com crise permanente de sentido, pois desapareceria do seu serviço aquele amor desinteressado e autêntico ao outro, que dá a identidade cristã à diaconia.

A “fé que atua pelo amor” é o maior ativo de uma instituição diaconal. Essa fé é despertada e alimentada pelo anúncio e testemunho do evangelho daquele que disse: “eu vim para todos tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo 10.10b) Sem a fé que atua pelo amor nem mesmo rios de dinheiros dos cofres privados e públicos vão preservar o essencial: a defesa amorosa da vida dos fracos e excluídos.

Para que essa fé permaneça viva e atuante precisamos igualmente de uma comunidade viva. É na comunidade, na reuniões, devocionais e nos cultos, que recebemos continuamente a riqueza que nos permite compartilhar com os que necessitam: a graça e o amor incondicional de Deus. É justamente dessa riqueza que vive o amor diaconal que acolhe e inclui.

Obrigado a vocês que sentiram, pela fé, no coração o toque poderoso do amor que leva à diaconia. Que Deus conserve todos vocês na fartura do seu amor. Amém.

Valério Guilherme Schaper, pastor
Conselheiro para diaconia do Conselho Deliberativo da IBML
Obs.: Texto de reflexão apresentado na primeira Reunião do Conselho Deliberativo da IBML.
 


Autor(a): Pastor Doutor Valério Guilherme Schaper
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Organismo: IBML - Instituição Beneficente Martim Lutero
Título da publicação: DIACONIA – O NOSSO “NEGÓCIO”
Natureza do Texto: Artigo
ID: 16716
Nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte nem a vida; nem o presente nem o futuro.
Romanos 8.38
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