Friedrich von Bodelschwingh (pai) (1831-1910)

O pai de Bethel (bei Bielefeld)

01/03/2010

Em Tecklenburg, no sudoeste de Hamburgo, na Alemanha, vivia a família dos Von Bodelschwingh. O pai era presidente da Província do Reno. A mãe, já com cinco filhos, e grávida do sexto, após ler um livro do pregador Hofacker, pediu a Deus que colocasse a criança a seu serviço. Nasceu, em 1831, Friedrich.

Quando ele fez onze anos, o pai foi chamado para Berlim para ser Ministro das Finanças. Lá, Friedrich, muitas vezes, brincava com o filho do Rei.

Após terminar o ginásio, Friedrich queria dedicar-se à agricultura e fez um estágio perto de Berlim, no Oderbruch, uma baixada onde o governo da Prússia tinha conseguido transformar banhados em terras férteis, por meio de drenagens.

O serviço militar, que ele iniciou depois, só teve que prestar durante nove meses. Por causa de uma pontada grave no pulmão, ele foi declarado inválido. Depois da recuperação, Friedrich não sabia o que ia fazer. Viajou, com um amigo para o nordeste da Alemanha, para a Pomerânia, onde o pai do amigo tinha terras. Ele foi convidado para supervisionar uma parte da propriedade. Depois de um ano e meio, – ele tinha vinte e dois anos – ficou responsável por tudo, tendo que orientar e supervisionar os empregados. Eram muitos empregados, e uma boa parte estava endividada com o dono. Friedrich viu que o maior problema era o alcoolismo que deixava muitas famílias passar fome, porque todo o dinheiro ia logo para a bebida. Friedrich, então, fez uma distribuição semanal de alimentos, além de promover festas nos domingos, onde reunia o pessoal ao ar livre. Ali, ele cuidava do corpo e da alma dos participantes: com palavras e ensinamentos da Bíblia, com orações, com uma distribuição de bolos e frutas e jogos para todas as idades.

No último ano que trabalhou na Pomerânia, a partir de um folheto e uma pregação na Igreja, Friedrich teve a certeza de que queria ser Pastor ou missionário. Antes da sua decisão, dois acidentes, quando caiu do seu cavalo, lhe permitiam dirigir os seus pensamentos a Deus e pedir que Ele lhe mostrasse o seu caminho.

Bodelschwingh foi para o sul e estudou teologia na Universidade de Basel, ao mesmo tempo que participava das atividades na Casa de Missão desta cidade. Neste tempo conheceu, também, o Pastor Blumhardt.

Ele terminou o seu curso de teologia nas Universidades de Erlangen e Berlim. Em Berlim, paralelamente à universidade, fez um curso de enfermagem. Ele queria preparar-se bem para ser missionário.

O chamado veio, mas não para um lugar muito distante. O velho Pastor de Paris, que cuidava dos alemães nesta cidade, chamou-o, em 1858, para cuidar das crianças dos membros da sua Comunidade. Os pais das crianças trabalhavam como garis, ou juntavam lixo. A maioria das famílias veio da Alemanha, quando, por motivo de construção de fábricas, perderam o seu sustento: o trabalho manual não era mais preciso. Ao todo, havia cem mil alemães em Paris.

Friedrich encontrou muita pobreza e abandono espiritual. Nos dois quartos que ocupava em Paris, ele começou a reunir as crianças, para contar para elas as histórias da Bíblia. Ao mesmo tempo, ensinava a ler e escrever. Não demorou, e ele estava à procura de um lugar, onde havia mais espaço. Quando, um dia, caminhava numa das favelas, ele passou por um pequeno morro. Teve a impressão de que ouvia uma voz, dizendo: “Este morro é do Senhor”. Ele conseguiu alugá-lo e construiu um chalé com três salinhas, que serviam como sala de aula e moradia para ele e um professor. Aos domingos, removendo as paredes entre as salinhas, o chalé virava igreja da Comunidade.

Quando o velho Pastor deixou Paris, Friedrich von Bodelschwingh cuidava de tudo. Com o crescimento da Comunidade, Friedrich queria uma solução mais definitiva e conseguiu comprar o morro. Depois, com a ajuda dos amigos na Alemanha, foi possível construir uma pequena igreja e uma casa com dois andares para as moradias do Pastor e do professor. Nessa época, ele casou. Mais tarde, ele dizia de sua esposa: “Durante 34 anos, ela orava por mim, ela me consolava, ela cuidava do meu corpo, ela me alertava, ela me amava”.

Em 1864, Pastor Bodelschwingh foi chamado para assumir o pastorado de Hellwig, na Alemanha. O começo foi difícil, pois era uma comunidade adormecida. Aos poucos, Pastor Bodelschwingh, pregando de maneira simples e agindo com amor, conseguiu mudanças muito positivas. Só que, no fim do ano de 1869, houve um surto de difteria. Os quatro filhos dos Bodelschwingh ficaram doentes e morreram.

Nos relatos de Bodelschwingh sobre essas poucas semanas, lemos que as quatro crianças morreram com tanta fé e com tanta certeza do encontro com Jesus e com aqueles que já morreram – ou, um dia, com seus pais – , que elas os consolaram, quando os viram tristes.

Em 1871, veio o chamado para Bielefeld, onde faltava um Pastor para construir um prédio definitivo para a Casa Matriz de Diaconisas, além de cuidar de uma casa com epilépticos.

Com Bodelschwingh o trabalho cresceu em muitas dimensões. Outros doentes ou necessitados chamaram atenção de Bodelschwingh. Desde o começo de sua atividade, em 1871, até 1910, quando faleceu, foram construídos lares, casas, oficinas e uma Igreja, de maneira, que, aos poucos, nasceu uma cidade com muitas “filiais” (abrigos e lares com oficinas em outros lugares).

Todos os prédios têm nomes bíblicos. O nome da primeira casa grande para epilépticos, Bethel, deu o nome para toda a instituição que, em 1910, abrigava quatro mil pessoas, entre abrigados e pessoas atendentes. Hoje, quase cem anos depois, o número é bem mais alto.

Pontos altos na vida em Bethel eram os cultos ou os encontros de trombones ao ar livre, num grande terreno no meio da floresta. Nesses dias, quem não conseguia caminhar, era levado para lá. Todos se reuniam para o culto festivo com canto, acompanhado de trombones. Quem dirigia o coro dos trombones era o Pastor Kuhlo, que, desde 1891, dirigiu a Casa dos Irmãos. Ele era conhecido pela sua originalidade e vitalidade. Foi ele quem conseguiu organizar o trabalho dos coros de trombones em toda a Alemanha.

Entre os abrigados, encontravam-se, além de muitos epilépticos e outros doentes, homens sem-teto, que moravam em abrigos nos mais diversos lugares da Alemanha. Nestes abrigos, longe de bares para comprar bebidas, eles encontravam trabalho e um lar, especialmente nos invernos.

Bodelschwingh observava que, nas universidades, muitos estudantes perdiam a sua fé por causa do estudo crítico da Bíblia. Para formar Pastores com o fundamento nos ensinos bíblicos, foi criada, em 1905, uma Escola de Teologia.

Depois de 1884, Bethel também mandou missionários para a África, para o estado que hoje é a Tanzania.

Os Bodelschwingh não ficaram sem filhos. Dos quatro filhos que nasceram depois, um trabalhava junto com o pai e ocupou, depois da morte dele, o seu lugar. Como ele tinha o mesmo nome, fala-se de “Pai Bodelschwingh” e de “Pastor Fritz”. Este filho, o “Pastor Fritz”, conseguiu, na época de Hitler, evitar que doentes de Bethel fossem deportados e eliminados pelos nazistas, que consideravam essas pessoas como “não merecedores da vida”.


Autor(a): Isolde Mohr Frank
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Da nuvem de testemunhas / Ano: 2007
Natureza do Texto: Artigo
ID: 11555
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Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas ações a fazer e, sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar.
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