É difícil imaginar as mudanças acontecidas quando, em curto tempo, máquinas começaram a fazer o que antes era feito manualmente. A vida organizada nas cidades e nas vilas deu lugar a situações incontroláveis. Muitas famílias perderam seu ganho e estavam, de repente, na pobreza. A migração para as cidades não estava prevista e planejada e, quando aconteceu, faltava toda a infra-estrutura: água, esgoto, ruas, escolas. As famílias viviam em pouco espaço e, no desespero, o alcoolismo e os crimes aumentavam de forma incontrolável.
A cidade de Hamburgo na Alemanha, de repente, tinha 200 crianças nos seus presídios para jovens.
Na Comunidade de Sankt Georg, que fica um pouco para fora de Hamburgo, um Pastor viu que não tinha escola para muitas crianças de famílias pobres. Ele iniciou uma “Escola Dominical”, porque os colégios oficiais da cidade só atendiam os filhos das famílias tradicionais.
O candidato de teologia, Johann Hinrich Wichern, começou, em 1832, o seu estágio na “Escola Dominical”. Graças a algumas pessoas de boa vontade que o ajudaram financeiramente, ele havia conseguido fazer a faculdade. Ele tinha perdido o pai com dezesseis anos e, para ajudar a mãe e seus seis irmãos mais moços, teve que trabalhar duro para conseguir sustentar a família. Na “Escola Dominical”, ele era o responsável pela equipe dos professores.
Uma das professoras, mais tarde, tornou-se a sua esposa. Juntos, constataram que os jovens, tendo aulas só num dia da semana, não podiam ser salvos. Nas famílias, eles vivenciavam diariamente não só a falta do essencial, mas, o que era muito pior, o alcoolismo, roubos, prostituição e crimes. Estavam, portanto, a caminho de se tornarem criminosos. Cada vez mais, os dois pensavam numa instituição, onde as crianças e os jovens pudessem tornar-se pessoas felizes.
Wichern levou estas idéias para os administradores da cidade. Numa reunião com muitas dessas pessoas, os administradores deram a palavra a Wichern, para que falasse da necessidade de criar uma “Casa de Salvação”. A resposta veio bem concreta : ele ganhou, de um senador da cidade, um terreno grande com uma casa abandonada, chamada “Rauhes Haus”, para iniciar o trabalho. Além disso, recebeu uma ajuda financeira.
Em outubro de 1833, ele inaugurou a casa e, até o fim do ano, já cuidava de 14 jovens “perigosos”. Ele vivia com o Evangelho e queria que os jovens sentissem que Cristo estava morando com eles. Suas diretrizes eram: tratar os jovens com amor e dar-lhes bastante atividade. Ele, que tinha perdido o seu pai tão cedo, imaginava “famílias” e, por isso, foram construídas casas para cada uma abrigar 12 jovens. Também construiu, com eles, uma casa com oficinas para diversas profissões e uma escola para as meninas. Quando um dos rapazes fugiu de novo – já tinha fugido algumas vezes – ele mesmo o buscou numa boate, o levou até uma padaria para escolher algo a seu gosto para comer e voltou com ele. Nunca mais este jovem fugiu.
Wichern precisava de colaboradores e, para formá-los, iniciou logo um seminário. Chamou o seminário de “Casa dos Irmãos”, porque o objetivo era formar irmãos para os jovens. Outras cidades, enfrentando os mesmos problemas como a cidade de Hamburgo, começaram a abrir abrigos e lares, e a demanda de Irmãos do Seminário (hoje diríamos “assistentes sociais cristãos”) era grande: foram solicitados 513 Irmãos.
Já em 1844, o Rei da Prússia solicitou Irmãos para cuidar de presos.
Em 1848, por ocasião do Dia da Igreja, em Wittenberg, Wichern falou para os participantes do compromisso da Igreja com essa situação. Seu chamado aos cristãos que pertenciam à Igreja, para um “ amor que atua e salva”, foi ouvido, e nasceu a “Comissão Central de Missão Interna”. Hoje, chamamos a Missão Interna de Diaconia.
Não demorou muito e foi criada a Missão Urbana em Hamburgo que, depois, em outras cidades, surgiu da mesma forma.
Muitas famílias, tendo o pai desempregado, decidiram emigrar para outros países. Para ajudá-los, foi criada a Missão para Emigrantes.
Em 1851, o Rei da Prussia pediu a Wichern que elaborasse uma reforma dos presídios, e seis anos depois, Wichern entregou a direção do “Rauhes Haus” a um outro Irmão e mudou-se para Berlim, para dirigir esta reforma.
Wichern, desde 1848, era conhecido em toda a Alemanha e chamado, sempre quando havia situações de emergência como o surto de tifo que, em 1848, assolou a Silésia, uma região no leste da Alemanha. Lá precisavam achar uma solução para os milhares de órfãos que sobraram. Numa outra ocasião, Wichern ajudou a solucionar o problema dos rapazes que caminhavam pelas estradas, procurando serviço. Para eles foram criados albergues. Mais tarde, na Guerra da Dinamarca, em 1864, ele levou 12 Irmãos para, junto com ele, cuidar dos feridos. Nas duas guerras que houve depois, 1360 Irmãos ajudavam neste trabalho, chamando-o de “Diaconia do Campo de Batalha”.
Na guerra de 1870/71, Wichern perdeu seu filho mais moço.
A partir de 1872, Wichern, por motivo de grave doença, não podia mais ser ativo e faleceu em 1881. A esposa mandou colocar no túmulo as palavras da carta de João: “A nossa fé é a vitória que vence o mundo”.