Paróquia Ferrabraz

Sínodo Rio dos Sinos


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O Círculo da Gratidão | Salmo 100.4

6º Domingo após Pentecostes - ANO A

07/07/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Era uma vez uma senhora idosa chamada Maria. Mesmo com a idade avançada, ela mantinha o hábito de caminhar todas as manhãs em um parque próximo à sua casa.

Certo dia, enquanto caminhava, ela avistou já muito próxima de sua casa uma pequena árvore recém-plantada que estava murcha e quase morrendo por falta de água – aquele era um tempo de seca. Maria, movida por compaixão, decidiu levar um balde de água todos os dias para regar a pequenina árvore.

Com o tempo, a pequena árvore começou a se recuperar e a crescer robusta e verde, tornando-se a árvore mais bonita do parque. Maria sentia uma imensa gratidão por ter contribuído para sua recuperação.

Anos mais tarde, Maria se tornou muito fraca e não conseguia mais sair de casa. Em uma tarde quente, quando o sol brilhava forte e Maria desejava um pouco de sombra, ela foi para as sombras da árvore que agora a abrigava debaixo de seus grandes galhos. Naquele momento, Maria se lembrou de sua gentileza para com a árvore e entendeu que, na vida, a gratidão e o amor que oferecemos ao mundo sempre nos retornam de maneiras que nem sequer conseguimos imaginar.

Irmãos e irmãs, assim é a gratidão. Uma vida egoísta fecha o círculo da solidariedade; uma vida agradecida abre o círculo da solidariedade; enquanto uma vida fechada em si mesma fecha o ciclo do amor, uma vida aberta para o próximo abre a continuidade da missão; enquanto uma vida que não enxerga nada além do próprio umbigo gera o individualismo, uma vida que enxerga o próximo consegue expandir o horizonte da esperança.

Ação de Graças tem a ver com isso: já recebemos algo, mas esse “algo” não deve parar em nossas mãos! Precisa ser passado adiante! Tudo o que recebemos nos foi dado para que seja compartilhado. E é por isso que vivemos comunidade! Para que juntos nos tornemos mais fortes através da fé, da esperança e do amor.

A gratidão está diretamente vinculada à doação. Nesse sentido, a gratidão não se resume apenas à doação de bens, produtos ou dinheiro, mas também de tempo e habilidades. Uma vida ingrata é uma vida que quer todo o tempo apenas para si e que não dispõe de tempo para Deus e para o próximo; da mesma forma, uma vida ingrata é uma vida onde as habilidades (dons e talentos) são usadas apenas em benefício próprio e não como modo de servir a Deus por meio do próximo (Beruf e Berufung).

De outro lado, uma vida que é marcada pela gratidão irá administrar de uma maneira diferente tanto o tesouro, quanto o tempo e os talentos. Haverá a solidariedade da partilha de bens e produtos; haverá a solidariedade com tempo de qualidade para o próximo, seja para prestar-lhe algum serviço, para ajudar-lhe ou até para ouvir empaticamente tudo o que tem a dizer; haverá habilidades para ajudar com criatividade aqueles que mais precisam de ajuda – criatividade para a construção e para a vida e não para a morte!

Uma vida cheia de gratidão é uma vida que se abre para novas possibilidades; é uma vida que se abre para o novo; é uma vida que se doa para o próximo sem querer nada em troca. Afinal de contas, quantas bênçãos já recebemos, não é mesmo? O ar que respiramos, a água que bebemos, o alimento que comemos, a família que amamos, a comunidade que nos acolhe, o trabalho que nos sustenta, a vida que se vive!

Aliás, geralmente esquecemos de agradecer pelas coisas mais simples e consideradas mais banais. Entretanto, geralmente são essas coisas “banais” que em grande parte das vezes mantêm a vida: o pulmão que ao respirar realiza a troca dos gazes e o coração que, pulsando, bombeia o oxigênio para todas as partes do corpo. Respire fundo e agradeça! Você está vivo! Você está viva!

Queremos testemunhar grandes obras e grandes milagres. Nessa ilusão, deixamos de agradecer pelos pequenos milagres de cada dia! E espero que não esperemos chegar ao “tarde demais” para perceber isso: a beleza que está em cada pequeno detalhe!

Isso é gratidão! O contrário é “gratidinha”. Gratidão é o que nos move à ação. Gratidão é o que nos engaja a fazer diferença. Gratidão é o que nos impulsiona a buscar a paz e a justiça do Reino de Deus. Gratidão! Gratidão não apenas se diz, mas se pratica para que o círculo da solidariedade não se feche em nós mesmos, mas continue “por todas as nações, até os confins da terra” (cf. Mateus 28.18-20). Gratidão só se multiplica com divisão: É preciso repartir para multiplicar o amor! É assim no Reino de Deus.

Amados irmãos, amadas irmãs,

a gratidão não é uma imposição, mas é um chamado, um convite. Que o eco da gratidão ressoe hoje em cada coração, unindo-nos, mesmo tão diferentes, em uma só voz. Vivamos a gratidão na ação, na doação. Martinho Lutero dizia que pela fé, o ser humano é livre e não obrigado a nada; já pelo amor, o ser humano é escravo e obrigado a tudo. Pela fé, livres; pelo amor, escravos! Pela fé, não devo nada a ninguém; pelo amor, devo tudo a todos. Diz Lutero: “Fé e amor perfazem a natureza do cristão. A fé recebe, o amor dá; a fé leva a pessoa a Deus, o amor a aproxima das demais. Através da fé ela aceita os benefícios de Deus, através do amor ela beneficia seus semelhantes.”

Fé cristã não é individualismo; fé cristã não é mero sentimentalismo; fé cristã não é “show”. Fé cristã é compromisso com Deus e com o próximo! Fé cristã é solidariedade ao próximo e à boa Criação! Fé cristã é compaixão e amor!

No Reino de Deus, a gratidão não é uma moeda de troca, mas um dom precioso, uma chama que queima em nossos corações e que é capaz de iluminar o mundo com a sua luz. No Reino de Deus, a gratidão não é um sentimento, mas uma característica própria do que é ser cristão. É um convite ao amor, à partilha, ao servir.

Aceite hoje esse chamado. A gratidão se torna verdadeira na solidariedade, na partilha, na resiliência e na persistência: efetiva na solidariedade, presente na partilha, resiliente aos sofrimentos e persistente na missão. Assim, a gratidão é um círculo aberto, convidando cada um a se unir em comunhão e amor, gerando esperança e construindo pontes – não levantando muros!

Sim! Somos responsáveis uns pelos outros. Isso é ser Igreja. Isso é ser Comunidade! O menor ato talvez não mude o mundo – mas talvez mude o nosso mundo! Por isso, a gratidão é a semente do amor e da solidariedade. Nossa missão é plantar a semente e nutri-la com as melhores intenções. Já a colheita pertence ao bondoso Deus.

Faça da gratidão o seu estilo de vida. Viva a gratidão em palavras, ações, com tempo e com talentos. Afinal, além de receber, somos chamados para compartilhar, para amar, para doar. No centro de tudo isso está a gratidão. Que sua multiplicação chegue a todos os cantos do mundo para que as suas sementes sejam plantadas, cresçam e deem frutos de amor – mundo novo de justiça e paz. Amém.

 

6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – AÇÃO DE GRAÇAS | VERMELHO | CICLO DO TEMPO COMUM | ANO A

 

09 de Julho de 2023

 

P. William Felipe Zacarias

 

 


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 100 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 70771

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