Paróquia Ferrabraz

Sínodo Rio dos Sinos


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Jesus, o Construtor | Mateus 21.33-46

19º Domingo após Pentecostes - ANO A

07/10/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

temos diante de nós uma interessante parábola de Jesus. Para entendermos uma parábola, precisamos identificar seu público-alvo. Neste caso, Jesus conta a parábola aos principais sacerdotes e anciãos do povo. Assim, a parábola contada por Jesus traz crítica severas aos religiosos do seu tempo. Karl Barth, um importante teólogo reformado do séc. XX, diz: “Nenhum comportamento humano é em si mais questionável, duvidoso e perigoso que justamente o comportamento religioso”[1]. Por que ele está dizendo isso? Porque a religião pode muito facilmente tornar o ser humano orgulhoso e fazer com que se ache melhor que os outros por crer de uma maneira diferente da maneira como os outros creem.

É interessante pensar sobre isso: os perseguidores de Jesus não são os infiéis, mas os fiéis; os perseguidores de Jesus não são os sem religião, mas os religiosos; os perseguidores de Jesus não eram os perdidos, mas o próprio rebanho. Interessante, não é? Os religiosos do seu tempo queriam manter o mundo tal qual estava; Jesus, porém, anunciava a novidade do Reino de Deus onde todas as pessoas são tornadas iguais; os religiosos eram adeptos de leis de morte (como apedrejamento, por exemplo); Jesus, porém, anunciava a vida e vida em abundância e com dignidade para todas as pessoas. E por causa disso foi perseguido!

Não é difícil entender a parábola. O dono da vinha é Deus; os servos são os profetas; os lavradores maus são os religiosos; o Filho é Jesus. Deus é o dono de todas as coisas. Quando o povo se desviou dos caminhos de Deus, então o Senhor enviou profetas para anunciarem a necessidade de arrependimento e conversão. Os profetas foram ouvidos? Não! Ao contrário, foram perseguidos e mortos pelos próprios líderes religiosos que não aceitavam o convite à conversão. Então, Deus decide enviar o seu próprio Filho ao mundo. E até mesmo o Filho de Deus foi pendurado na cruz! A palavra encarnada Jesus Cristo também não foi ouvida. A verdade foi rejeitada e a mentira foi acolhida.

Esse é o drama do povo de Deus. Esse texto bíblico é em si um resumo da História da Salvação de Deus. Esse texto bíblico é um resumo da própria missão do Filho de Deus, Jesus Cristo, enviado ao mundo para a nossa salvação. E o público-alvo da mensagem a compreendeu direitinho: “Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas parábolas, entenderam que era a respeito deles que Jesus falava”. (Mateus 21.45). E se converteram dos seus maus caminhos? Não! Ao contrário, “e, conquanto, buscassem prendê-lo, temeram as multidões, porque estas o consideravam como profeta”. (Mateus 21.46). Ao invés de brotar arrependimento em seus corações, brotava ainda mais raiva, rancor e ódio contra Jesus.

Amados irmãos, amadas irmãs,

mas o que Jesus fazia que deixava as autoridades religiosas tão incomodadas? Qual era o mau que ele cometia que os enfurecia tanto? Qual era a “culpa de Jesus”? Jesus promovia a paz; Jesus falava do amor a Deus e ao próximo; Jesus falava da verdade do Reino de Deus. Por incrível que pareça, essa era uma mensagem que incomodava quem estava na zona de conforto.

Jesus é a pedra angular da construção – a pedra que sustenta a construção. “A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?” (Mateus 21.42). Pedra angular é aquela pedra que faz o ângulo na formação de um arco de pedras. Se tirar a pedra angular, todas caem!

Jesus é essa pedra! Mesmo sendo o Filho de Deus, ele foi rejeitado – tal qual foram rejeitados os profetas. E justamente a pedra que foi rejeitada é a pedra que dá sustentação à construção da Igreja. Ele mesmo é o critério de toda a fé: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ele cair ficará reduzido a pó” (Mateus 21.44). Acima ou abaixo dessa pedra, não sobra ego, orgulho ou ódio. Os projetos humanos de poder são reduzidos a nada tanto acima quanto abaixo dessa pedra! Não sobra ego, não sobra orgulho, não sobra rancor! Sobra Somente Cristo!

Jesus é um construtor: para a paz, para a justiça e para o amor! Gosto muito dos ícones pintados pela artista contemporânea norte-americana Kelly Latimore. Já compartilhei muitos dos seus ícones nas minhas redes sociais. Quem sabe você já viu alguns deles por lá.

Ela desenhou um ícone sobre Mateus 21.42 que achei bastante interessante. O que vemos nessa imagem? Vemos Jesus indo ao trabalho. Ele está com um madeiro sobre os ombros e o que parece ser uma caixa de ferramentas na sua mão esquerda. Vamos olhar o rosto de Jesus? Ele apresenta um rosto de cansaço – talvez até de dor.

O que mais vemos nessa imagem? O nome “Jesus, o construtor” sugere que Jesus é o construtor de um novo mundo. Ele está construindo um mundo onde todos são amados e aceitos, um mundo onde um ser humano não causa dor e sofrimento ao outro.

Perceba que a sombra refletida na terra forma uma cruz. A cruz é o símbolo do sacrifício e da redenção. Jesus se sacrificou pela humanidade. Ao morrer, se torna a Pedra Angular na construção de um novo mundo. Construir requer sacrifícios. Jesus entregou a si mesmo na cruz como rejeitado e humilhado para construir e edificar o Reino de Deus. Ele foi rejeitado, ele foi julgado, ele foi condenado, ele foi morto! É assim que é construído o reino de Deus: não com poder, mas na fraqueza; não com orgulho, mas com humildade; não com ódio, mas com amor!

O escritor inglês contemporâneo Jay Hulme diz sobre Jesus:

Ele não comandou grandes exércitos para a guerra. Ele não dominou vastos territórios nem acumulou grandes fortunas. Baseando-nos no nosso entendimento contemporâneo de grandeza, Jesus Cristo seria considerado um fracasso. Ele não possuía propriedades notáveis, não detinha cargos em conselhos ou governos terrestres, insistia em doar seu dinheiro e seus pertences, e morreu em agonia, executado por soldados aos quais não resistiu fisicamente. E ainda assim, acredito que são justamente essas características que tornam Jesus Cristo tão grandioso. Esses atos de humildade, caridade, amor e paz são comportamentos que deveríamos imitar no mundo atual.[2]

 

O filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche também percebeu o quão Jesus foi diferente: “A prática foi o que ele deixou para a humanidade: sua atitude diante dos juízes, diante dos soldados, diante dos acusadores e de todo tipo de calúnia e escárnio – sua atitude na cruz. Ele não resiste, não defende seu direito”[3].

Amados irmãos, amadas irmãs,

quantas lições esse texto bíblico nos dá. Pratiquemos a humildade, mesmo que nos rejeitem com orgulho; pratiquemos o amor, mesmo que nos ataquem com ódio; pratiquemos a paz, mesmo que declarem guerra contra nós. Vivamos o Reino de Deus e sejamos também nós os construtores de um novo mundo de paz e justiça. Se não puder mudar o mundo, mude sua casa! Comece por ali!

Termino com essas palavras tão impactantes do falecido antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro:

Fracassei em tudo o que tentei na vida.

Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.

Tentei salvar os índios, não consegui.

Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.

Mas os fracassos são minhas vitórias.

Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.

 

Amém.

 

 


[1] BARTH, Karl. A Carta aos Romanos. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2016. p. 163.

[2] HULME, Jay. “Christ the leader”. in: Daily Service: A space for spiritual reflection with a Bible reading, prayer and a range of Christian music. Programa de Rádio. Londres: BBC Rádio 4, 2023. Disponível em: <https://www.bbc.co.uk/sounds/play/m001mly7>. Acesso em: 09. jun. 2023. Tradução: William Felipe Zacarias.

[3] NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. “O Anticristo – 1888”. in: NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Obras Escolhidas. Porto Alegre: L&PM, 2013. p. 401. Grifo do autor.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 33 / Versículo Final: 46
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 71452
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