Amados irmãos, amadas irmãs,

para o biênio 2023-2024, a IECLB tem como Tema “IECLB: Igreja de Jesus Cristo”, com o lema “Vocês são o sal da terra. Vocês são a luz do mundo”. (Mateus 5.13-14). Esse tema e lema tem tudo a ver com a nossa identidade confessional! Somos Igreja, e não um clube, associação ou empresa. Temos presbitérios, não diretorias. Somos irmãos e irmãs, não patrões e empregados. E somos Igreja de Cristo, não do/a ministro/a, do presbitério ou de quem mais contribui financeiramente. Cristo é o Senhor da Igreja! Somente Cristo.

A carta de Paulo aos Filipenses é muito significativa para o contexto das comemorações dos 200 anos de Presença Luterana no Brasil. Perceba: diferente das cidades ou estados, não estamos celebrando os 200 anos da Imigração Alemã, mas os 200 anos de Presença Luterana – que inclui não apenas descendentes de alemães, mas de diversas origens e etnias em todo o vasto território brasileiro. Não somos “igreja dos alemães”, somos Igreja de Cristo!

A comunidade em Filipos é a comunidade da alegria do apóstolo Paulo. Nenhuma comunidade do Novo Testamento recebeu tantos elogios do apóstolo quanto a dos filipenses. A comunidade em Filipos era conduzida especialmente por mulheres e era uma comunidade profundamente engajada na prática da diaconia, o serviço cristão.

O apóstolo Paulo escreveu sua carta aos filipenses da sua prisão. Após tantos elogios à comunidade logo já no primeiro capítulo da carta, agora, Paulo só pede que a comunidade “complete sua alegria” (cf. Filipenses 2.2), de modo que “tenham o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus” (cf. Filipenses 2.5). Ao ouvirem os elogios, a comunidade em Filipos não deve ficar orgulhosa e se achar melhor que as outras comunidades que enfrentavam tantos problemas e divisões. Ao contrário, deveriam manter a humildade a partir do exemplo do próprio Senhor Jesus Cristo, o Kyrios-doulos (Senhor-servo).

A mensagem de Paulo àquela comunidade é prática: que exemplo ele poderia dar para incentivar os filipenses à humildade? Ele olha para Cristo: o Deus que se esvaziou e assumiu a forma de servo! Quem foi batizado/a e se diz cristão/ã, segue o exemplo de Cristo! Mas, quem é Jesus Cristo? “Cristo Jesus, que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, 8ele se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2.5-11).

Nos primeiros séculos da Igreja Cristã, houve muitos debates sobre a identidade de Jesus. Havia quem dizia que ele era apenas homem e não poderia ser Deus; Ário, por exemplo, dizia que “Deus não pode nascer entre fezes e urina”, negando que Jesus fosse Deus. Outros, diziam que Jesus era um semideus. Após séculos de debates e estudos das Sagradas Escrituras, a Igreja Cristã chegou a essa conclusão no Concílio da Calcedônia em 451 d. C.:

Seguindo, pois, os santos Padres, com unanimidade ensinamos que se confesse que um só e o mesmo Filho, o Senhor nosso Jesus Cristo, perfeito na sua divindade e perfeito na sua humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, de alma racional e corpo, da mesma essência que o Pai quanto à divindade e da mesma essência que a nossa quanto à humanidade, em tudo igual a nós, exceto no pecado, gerado do Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nestes últimos dias, em prol de nós e de nossa salvação, de Maria a virgem, a mãe de Deus, segundo a humanidade;^[1]

 

A Confissão de Augsburgo – mais importante documento da doutrina luterana – confirma o Credo da Calcedônia na nossa fé em Cristo Jesus no Artigo III: Do Filho de Deus. Sobre a essência da Igreja Cristã, o Artigo VII da CA diz:

Ensina-se também que sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho.

Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus.^[2]

 

Diante de toda essa importante base confessional sobre a Pessoa e Obra de Jesus Cristo e sobre a essência da Igreja, quais são as lições práticas deixadas a nós pelo apóstolo Paulo em Filipenses 2.1-13? Vamos aos tópicos:

 

1      Quem é a Igreja de Jesus Cristo? Somos nós! Quando falamos mal da Igreja de Jesus Cristo, falamos mal de nós mesmos e envergonhamos ao nosso Senhor e Salvador. Como diria Nikolaus Ludwig von Zinzendorf em um de seus hinos:

Cristo assim nos tem amado

que seu sangue deu por nós.

Como ficará magoado,

se há discórdia entre vós! LCI 13, estrofe 3.

 

2      Somos Igreja Evangélica! Não somos um clube ou associação; não somos uma empresa – embora tenhamos CNPJ. Não somos um lugar para nós nos “sentirmos bem”. A Igreja é Evangélica porque é lugar em que a Palavra de Deus é pregada em Lei e Evangelho: Lei que acusa e Evangelho que perdoa; Lei que condena e Evangelho que absolve; Lei que traz desespero e Evangelho que traz esperança. O Evangelho é o próprio Cristo. Por isso, ser Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil pressupõe humildade, diálogo e colaboração a partir do próprio Evangelho de Jesus.

 

3      Quando a Igreja está longe de Cristo?

·      Uma igreja que é arrogante, orgulhosa e egoísta é uma igreja que está longe de Cristo (cf. Filipenses 2.3a);

·      Uma igreja em que o “eu” é mais importante que o nós é uma igreja que está longe de Cristo (cf. Filipenses 2.4a);

·      Uma igreja que quer ser servida, mas não quer servir é uma igreja que está longe de Cristo (cf. Marcos 10.45);

 

4      Quando a Igreja está perto de Cristo?

·      A igreja que acolhe e abraça sem preconceitos (cf. Atos 10.34);

·      A igreja em que Cristo troca o “eu” pelo “nós” (cf. Filipenses 2.3-4);

·      A igreja, Corpo de Cristo, que serve a Deus por meio do próximo (cf. Mateus 25.31-46);

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

 

somos Igreja de Cristo, o Deus-humano. Somos Igreja que serve a Deus, mas que tem como missão ser humana como Jesus: empatia, solidariedade, compaixão, inclusão.

Uma vez um homem disse ao seu pastor que iria trocar de igreja, pois havia encontrado uma que era “perfeita”; o pastor olhou para ele com misericórdia, e lhe disse: “pena que logo ela deixará de ser perfeita”. “Por quê?”, perguntou o homem. E o pastor lhe disse: “Porque você vai para lá”.

A pergunta mais importante não é: “para quê serve a Igreja?”, mas “a quem a Igreja serve?”. A resposta cristã-luterana a partir do Sacerdócio Geral de Todos os/as Crentes é: a Deus por meio do próximo! Essa é a essência do ser Igreja!

Não somos um clube; não somos uma associação; não somos uma boate; o centro não está nas nossas vontades, desejos e expectativas humanas; o centro deve estar em Jesus – como retrata a famosa pintura de Lucas Cranach.

Sejamos IECLB, Igreja de Jesus Cristo que vive o Evangelho na prática do dia a dia na solidariedade, na compaixão e no amor. “Vocês são o sal da terra. Vocês são a luz do mundo”. (Mateus 5.13-14).

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus, amém.

 

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18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERDE | CICLO DO TEMPO COMUM | ANO A

01 de Outubro de 2023

 

P. William Felipe Zacarias