Paróquia Ferrabraz

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Hoje é tempo de louvar a Deus | Deuteronômio 4.39

7º Domingo após a Páscoa - ANO A - 42º aniversário da Comunidade Vida Nova

19/05/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Onde nós estamos? Ou talvez, pela ocasião do 42º aniversário da nossa Comunidade, a pergunta deveria ser: “Quando” nós estamos? “Quando” nós somos? “Onde” nós somos? Onde nós estamos?

A pergunta pelo “quando” é importante. É a pergunta pelo “quando” que nos situa na história. Não estamos no tempo da Igreja Primitiva, onde era difícil viver a mensagem da ressurreição; também não estamos na Idade Média, onde o Evangelho havia sido perdido completamente; da mesma forma, não estamos em meio às Duas Grandes Guerras que assolaram o mundo no séc. XX. Não! Nós estamos em 2023! Esse é o momento! Esse é o contexto! Esse é o ano.

Ao mesmo tempo, a pergunta pelo “quando” nos torna pessoas humildes. Não somos os primeiros seres humanos a existirem e, a princípio, não seremos os últimos – a não ser que a destruição ambiental em nome da ambição e do egoísmo continue desenfreadamente. Nossos 42 anos de história como Comunidade Vida Nova está inserido dentro dos dois mil anos de História da Igreja: graças a Deus! O livro de Atos dos Apóstolos comprova que Deus age na História da Igreja. E dentro da grande história cristã, estamos nós com 42 anos de vivência comunitária; estamos também no contexto dos mais de 500 anos da Reforma Luterana – o nosso legado, a nossa identidade confessional e o nosso “jeito” de ser igreja; e estamos às vésperas dos 200 anos de Presença Luterana no Brasil. Isso significa que a nossa forma de ver e ler Lutero é brasileira. Somos brasileiros. Somos luteranos de verde e amarelo.

Mas, o que significam 42 anos diante dos tantos anos de história? Significam muito! É a nossa geração que está vivendo esse momento – nem as gerações passadas e nem as gerações futuras. A oportunidade de comemorar nesse momento é temporalmente exclusiva nossa! Por isso, hoje é dia de festa – de fato! Estamos celebrando as tantas histórias do passado que nos permitiram chegar até aqui; ao mesmo tempo, celebramos a história que continuará sendo escrita através das gerações que virão.

Tic-tac – o tempo está passando! Que bom! Que bom que o tempo passa. Que bom que algumas coisas mudam. Que bom que algumas coisas essenciais mantemos junto conosco ao longo do tempo. Jacques LeGoff, importante historiador francês, nos diz:

Resta assinalar que a concepção do tempo é de grande importância para a história. O Cristianismo marcou uma viragem na história e na maneira de escrever história, porque combinou pelo menos três tempos: o tempo circular da liturgia, ligado às estações (...); o tempo linear, homogêneo e neutro, medido pelo relógio, e o tempo teleológico, o tempo escatológico.[1]

 

Tudo o que nós fazemos em nossa vivência comunitária está marcado pelo tempo. O tempo da liturgia é circular, pois o calendário litúrgico se repete anualmente. Todos os anos comemoramos os mesmos eventos cristãos. Por seis meses, passamos por toda a história de Jesus – de seu nascimento até sua morte, ressurreição e ascensão; depois, após o pentecostes, por seis meses o Espírito Santo ilumina a Igreja para que a vida de Jesus seja colocada em prática no seu dia a dia. Esse é o tempo litúrgico. É um tempo circular que sempre retorna, mas de maneira nova, diferente e contextualizada. O passado está sempre em movimento. O passado é focado a partir daquilo que se vive no presente.

Ao mesmo tempo, vivemos o tempo do relógio que não faz outra coisa senão ir para a frente. Esse é o tempo da história. É o tempo que olha para os eventos do passado. São os anos que rumam sempre à frente – na mesma direção. Somos viajantes no tempo – sempre para frente! Nossos 42 anos se inserem nesse tempo do relógio, do calendário. Já são 42 anos de história; 42 anos de vivência comunitária; 42 anos de dedicação, amor e carinho à causa de Cristo. E inserimos o tempo do relógio no tempo da liturgia, pois comemoramos o aniversário da Comunidade anualmente.

E então vem o tempo escatológico (palavra difícil para um Domingo de manhã, não é mesmo?). É o tempo da esperança! Daquilo que está por vir! Novos céus e nova terra! Salvação! A vinda da novidade do Reino de Deus. Vivemos o hoje na expectativa do amanhã; ou seja: vivemos o tempo litúrgico e o tempo do relógio na esperança do tempo eterno. Esse é o motivo de ser Igreja: Jesus ressuscitou! Ele inaugurou um novo tempo – de um novo lar onde há muitas moradas (cf. João 14.1ss). Vivemos o hoje na certeza de que “porque ele vive, podemos crer no amanhã!”

Tempo. Hoje é dia de falar sobre o tempo! Quanto tempo já passou! É abençoado este tempo que estamos vivendo. Quanto tempo ainda haverá pela frente. Tempo. E tudo começou aqui no “Teewald”. Sim. Segundo o professor Lúcio Fleck, esse foi o primeiro nome do atual “Bairro Sete de Setembro”[2]. Era o “Teewald”, a floresta de chá. Por que esse nome? Exatamente, não sabemos. Mas deve ser porque havia muitos chás aqui neste lugar. E se antes os chás que aqui estavam traziam alguma espécie de ajuda e cura, permito-me dizer que hoje nós mesmos, como Comunidade Vida Nova, podemos ser “Teewald”, ou seja, um lugar que traz cura, ajuda e libertação a quem precisa.

Mais tarde, quando o bairro já se chamava “Sete de Setembro”, para ir ao encontro dos membros que viviam nos bairros da nossa cidade, o P. Hans Erdmann Götz começou a criar grupos de estudos bíblicos e até cultos nas casas das famílias destes bairros. “Num ambiente familiar, entre conhecidos e amigos, todos se sentiam à vontade e era possível realizar uma verdadeira comunhão”[3]. Conforme o professor Lúcio Fleck, o bairro que melhor respondeu à proposta foi o Sete de Setembro. Logo se providenciou a aquisição de um terreno para que se construísse uma casa pastoral no bairro. Mas houve mais:

As lideranças dinâmicas do bairro Sete de Setembro sonharam alto e decidiram construir um Centro Comunitário, inicialmente denominado de “Sub-Centro”, mas que hoje tem o significativo nome de “Centro Comunitário Vida Nova”. A pedra fundamental foi lançada e 19 de Outubro de 1981.[4]

Foi o início. A semente da Palavra de Deus plantada com muito amor e dedicação brotou, cresceu e continua a dar frutos. Em 1996, foi construída a igreja onde se realizam os cultos. Em 1998, foram pendurados os sinos que anunciam o início e o final das celebrações e que também badalam em tom triste quando algum irmão ou irmã parte desta vida para o mistério da morte. Esse é o tempo! Essa é a história! É o tempo do relógio passando e, através da história, permitindo que tenhamos um espaço para vivenciar o ciclo do tempo litúrgico.

Ecce tempus! (Eis o tempo!). Fiquem sabendo agora e nunca esqueçam isto: somente o Senhor é Deus lá em cima no céu e aqui embaixo na terra. Não há outro deus.” (Deuteronômio 4.39). O tempo passa! Mas não esqueçamos daquilo que é mais fundamental: Deus continua sendo o mesmo: Pai, Filho e Espírito Santo. Não há outro deus. É ao Deus cristão que servimos através desse lugar – em tudo o que fazemos. Como Evangélicos de Confissão Luterana, seguimos a Confissão de Augsburgo (1530), que diz em seu Artigo I: De Deus:

há uma só essência divina, que é chamada Deus e é verdadeiramente Deus. E, todavia há três pessoas nesta única essência divina, igualmente poderosas, igualmente eternas, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, todas três uma única essência divina, eterna, indivisa, infinita e incomensurável poder, sabedoria e bondade, um só criador e mantenedor de todas as coisas visíveis e invisíveis.[5]

 

Esse é o Deus em que cremos enquanto Comunidade Vida Nova – o Deus-Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Ele é o Deus cristão. Ele é o mantenedor de todas as coisas – também da nossa Comunidade. E qual é o fundamento? “Ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” (1 Coríntios 3.11). Tudo o que fazemos em todo tempo está fundamentado na pedra angular Jesus Cristo. Somos servos de Cristo – a Igreja é seu corpo! “Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.” (1 Coríntios 3.6). Poderíamos hoje dizer: P. Götz plantou, outros regaram, mas o crescimento veio de Deus.

E tudo começou com grupos de Estudo Bíblico. Por isso minha insistência em convidá-los para o Estudo Bíblico. Como pastor, faço essa advertência: se como Igreja nós não tivermos amor pelo Estudo Bíblico, talvez não haja novos 42 anos de história!

Não queremos apenas a sua contribuição e as suas ofertas! Queremos a sua presença! Aqui você tem lugar! Venha! Participe! Envolva-se! Há espaço para você! Aqui seus dons são importantes – sejam quais forem! Vivamos nossas tradições; ao mesmo tempo, procuremos estar abertos ao novo. Há uma nova geração vindo aí e há muito o que fazer. Precisamos pensar neles! Um som legal! Um ambiente litúrgico adequado. Diante dos novos tempos do relógio, é preciso pensar em novas maneiras de vivenciar o tempo da liturgia para as novas gerações continuarem vivenciando o Evangelho. Não basta pensar em quantidade; é preciso pensar em qualidade.

Por fim, relembro uma frase do historiador cristão Carter Lindberg, que diz: “se não conhecemos nossa história pessoal e comunitária, seremos como crianças facilmente manipuladas por aqueles que revisariam o passado, para seus próprios propósitos”[6]. Como brasileiros, precisamos aprender a conhecer e a valorizar a nossa história, pois ela significa a nossa própria identidade. É olhando para o nosso passado que descobrimos quem somos no presente.

Hoje é tempo de louvar a Deus! Hoje é tempo de recordar o que Deus fez entre nós nesse bairro! Hoje é tempo de sermos recordados sobre o fundamento da Igreja – Jesus Cristo! Hoje é tempo de lembrar dos antepassados que com trabalho e dedicação ergueram essas construções que hoje usamos com cuidado e dedicação. Hoje é tempo de festejar!

Hoje é tempo de se alegrar! Alegremo-nos pela dádiva da esperança em Cristo Jesus; alegremo-nos pela oportunidade de viver mais esse aniversário da nossa querida Comunidade Vida Nova; alegremo-nos que Deus tem cuidado e mantido a Comunidade; alegremo-nos pelas pessoas que tem colocado seus dons á serviço nessa Comunidade, seja no presbitério, nos grupos de trabalho, no louvor, na manutenção das estruturas, na limpeza destes espaços. Alegremo-nos!

Viva a Comunidade Vida Nova!

Viva o Evangelho!

Viva nosso Senhor Jesus Cristo!

Viva a História da Igreja!

Viva os 505 anos da Reforma Luterana!

Viva os 199 anos de Presença Luterana no Brasil!

Viva os 42 anos da nossa Comunidade!

Viva!

Amém.


7º DOMINGO DA PÁSCOA | VERMELHO | CICLO DA PÁSCOA | ANO A

14 de Maio de 2023


P. William Felipe Zacarias

 


[1] LEGOFF, Jacques. História e memória. 4. ed. Campinas: UNICAMP, 1996. p. 57.

[2] FLECK, Lúcio. A História de Sapiranga. São Leopoldo: Pallotti, 1994. p. 282.

[3] FLECK, Lucio. Sereis minhas testemunhas. Sapiranga: Edição do autor, 2001. p. 57.

[4] FLECK, 2001. p. 58.

[5] DREHMER, Darci (ed.). Livro de Concórdia. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal; Canoas: Ulbra; Porto Alegre: Concórdia, 2006. p. 27-28.

[6] LINDBERG, Carter. Uma breve história do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2008. p. 16.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Antigo / Livro: Deuteronômio / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 39 / Versículo Final: 39
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 70367
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