Paróquia Ferrabraz

Sínodo Rio dos Sinos


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Esperança | Romanos 8.18-25

3º Domingo após Pentecostes

13/06/2021

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Qual é o nosso sofrimento? Quais são as nossas expectativas para o futuro? O que o mundo reserva para os filhos de vocês? Há futuro?

Nós vivemos em um tempo cheio de dúvidas. Quando ligamos a televisão, nos deparamos com um monte de notícias de morte, corrupção, impunidade, violência e guerra. A terra se tornou em um lugar hostil à vida. Viver tornou-se uma tarefa difícil. Na verdade, parece que estamos sobrevivendo.

De onde vem tudo isto? Tudo tem sua origem em Adão e Eva. Ao desobedecerem a ordem de Deus, tornaram a sua natureza pecaminosa. Assim, todos somos pecadores desde Adão e Eva. Eles abriram o precedente para que o mal e o pecado agissem no mundo. Mesmo que tenham encontrado o amor e o cuidado de Deus, ainda assim, o pecado se tornou uma marca que foi passada de geração após geração. Todos nascemos debaixo do sinal do pecado, quer queiramos, quer não.

O apóstolo Paulo diz em Romanos 3.23: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus.” Adão, Eva, Moisés, Davi, Jonas, Isaías, Pedro, Paulo, William, assim por diante. Nossa constante desobediência não apenas nos afasta de Deus, mas também estraga a Criação de Deus. Como diz Isaías 59.2: “Nossos pecados fazem separação entre nós e Deus.” Quando descumprimos a vontade de Deus, nos distanciamos da sua presença amorosa. A verdade é que Deus não se afasta de nós, mas nós insistimos em nos afastar de Deus. Este é o veredito de Deus como juiz: somos pecadores e precisamos da sua graça. Nossos pecados afetam não somente a nós mesmos, mas nossas famílias, nossa sociedade e também o mundo em que vivemos.

Toda a criação está debaixo do pecado. A perfeita criação de Deus se tornou em um paraíso perdido, algo da qual sentimos falta mesmo sem nunca o termos conhecido em perfeição. Sentimos falta do paraíso mesmo nunca tendo colocado nossos pés nele. Sentimos falta de algo que possa preencher nosso vazio interior e dar sentido à nossa vida. O pecado nos afasta de Deus. Mas há esperança!

A criação geme as dores de um parto. As mulheres que já realizaram parto normal devem imaginar como esta dor é imensa. A criação de Deus sofre tanto que sente dores como de um parto. Nossa desobediência afetou a tudo o que Deus criou. A Criação não pecou, mas sofre por causa dos nossos pecados. A Criação é dádiva, mas, por causa do pecado, nós a pisoteamos e destruímos. No fim, as consequências deste pisotear podem voltar contra nós mesmos. Talvez muitos de vocês tem visto que estamos diante da maior estiagem dos últimos tempos. Em 2021, há riscos para a falta de água e até mesmo apagões elétricos. Entretanto, ainda parecemos adormecidos para as questões ambientais. Parece que enquanto a situação não se tornar extrema, negaremos sermos acordados para uma vida ecológica e para uma economia sustentável.

Quando Paulo escreveu a sua carta aos Romanos, não havia aquecimento global, derretimento das geleiras ou a estiagem de 2021. Porém, Paulo já constatou naquela época que a Criação de Deus sofre com nossa devastação e com o nosso pecado. Deus criou tudo o que existe e colocou o ser humano em Adão e Eva como cuidadores do que havia criado, mas, após a queda, passamos apenas a consumir a criação em nosso próprio benefício. Passamos a destruir a perfeita obra de arte de Deus. Fomos colocados como jardineiros da boa Criação de Deus, mas passamos apenas a dominá-la e consumi-la conforme os nossos próprios interesses.

Na mente humana, a Criação passa a ser de seu domínio e não mais de Deus. O ser humano colocou a si mesmo como “senhor” da criação e passou a brincar de “deus”. Fomos convencidos pelo consumismo que queremos ter mais do que precisamos ter. Com isso, a boa Criação é manipulada e destruída como se estivesse aí apenas para satisfazer a todos os nossos interesses humanos.

Nós, como cristãos, habitamos no mundo caído pelo pecado. Vivemos em um mundo que geme e sofre. Parece não haver expectativa de amanhã. Há tragédia após tragédia. Neste caos em que vivemos, haverá a possibilidade de um futuro melhor? Neste vazio que sentimos e que não conseguimos preencher, para onde olhar? Paulo nos dá uma direção.

Paulo consola a comunidade em Roma e também a nós com uma palavra de esperança. A esperança em Cristo aponta para um amanhã melhor e maior. Esperança significa apostar no futuro ainda que o hoje seja de completo desapontamento. A esperança surge na falta de expectativa, no sofrimento e na dor. É durante uma doença que temos esperança de melhorar; é durante um problema que temos esperança em alguma solução; é na dificuldade que temos esperança em tempos de facilidade. Do contrário, não haveria o que esperar. Quando tudo está bem, não há pelo que esperar. Para quem está tudo bem, não há esperança. Esperança é algo para quem geme e sofre!

Dizem que a esperança é a última que morre. Biblicamente falando, esperança que morre não é esperança. A esperança é viva e nos mantém em movimento. Quando há um problema, não nos entregamos, mas agimos com tudo o que temos. A esperança nos leva a agir hoje. A espera do amanhã nos faz lutar hoje.

Há muitas falsas “esperanças” no mundo. Esperança que morre não é esperança, mas desespero. Como cristãos, somos pecadores e habitamos em um mundo que geme as dores de um parto. Mas a nossa esperança em Cristo nos leva a olharmos para muito além. Olhamos para o futuro com a esperança da nova Criação de Deus, novos céus e nova terra onde habitaremos para sempre em paz com o nosso Senhor Jesus. Nossa esperança não termina na morte, em um caixão ou em um jazigo no cemitério. A nossa esperança está fundamentada na ressurreição de Cristo dos mortos. Sem isso, “somos as mais infelizes de todas as pessoas”, diz Paulo em 1 Coríntios 15.19.

Habitamos em um mundo mal, mas não estamos sozinhos. O Espírito de Deus habita entre nós e traz a presença de Deus para junto de nós. Não como um fantasma ou uma energia a perambular por aí, mas como a presença poderosa do próprio Deus entre os seres humanos. O Espírito Santo consolador é quem nos consola em meio aos sofrimentos do tempo presente. Não é uma mera “energia positiva” recebida ou enviada, mas a presença real daquele que sofreu por nós na cruz e que, por isso mesmo, sofre em nós hoje!

O Espírito Santo é quem nos concede esperança. E como ele o faz? A esperança traz o futuro para o presente, traz o amanhã para o hoje. A esperança faz com que já hoje possamos viver e sentir a paz que ele tem prometido a nós no futuro. A esperança cristã traz a paz da nova Criação para dentro da velha Criação em que nós vivemos. É como se nós pudéssemos sentir o céu e a eternidade ainda que estejamos habitando na terra. Aqui e a agora sentimos um pouco do que há de vir. Já agora sentimos o que ainda não chegou.

A diferença da esperança cristã está em sua base que é Cristo ressurreto. A esperança cristã não se baseia naquilo que nós fazemos, mas naquilo que Cristo já fez por nós. A esperança cristã está baseada na morte de Cristo na cruz e sua ressurreição dos mortos. Não é uma energia apenas, nem mesmo uma filosofia de vida ou um pensamento positivo. A esperança cristã é palpável! Vem de Jesus e aponta para Jesus. Vem da cruz e ressurreição e aponta para os novos céus e a nova terra.

O fundamento da nossa esperança é a cruz, ou seja, aquilo que Deus fez por nós no passado. O alvo da nossa esperança está no futuro que já podemos sentir no presente. Podemos no presente crer no futuro por causa do que Cristo já fez por nós no passado. Repito: Podemos no presente crer no futuro por causa do que Cristo já fez por nós no passado. Não há esperança cristã sem Cristo. Esperar é aguardar o melhor que há pela frente; porém, a esperança cristã tem seu início em algo que ocorreu lá trás: o Cristo da cruz.

Martin Dreher, pastor e professor aposentado da nossa igreja, diz:

Esperança cristã parte da esperança do sofrimento, parte da cruz do crucificado. Mas o sofrimento que experimentamos nada é se comparado à glória que nos aguarda (v. 18). Mas é necessário que passemos por ele. É verdade, a criatura geme, os cristãos gemem, até o Espírito geme, mesmo que de forma diferente do que os cristãos. Cristãos gemem enquanto esperam que Deus os liberte completamente. Enquanto gemem, o Espírito auxilia-os em sua fraqueza. É ele quem intercede pelos cristãos junto a Deus.1

Martin Dreher continua, dizendo: “o Espírito intercede por nós, é ele quem interpreta o que o nosso coração deseja, e Deus entende”2.

Portanto, é assim que o Espírito Santo nos consola em nosso sofrimento e diante do atual cenário mundial: O Espírito Santo nos faz olhar para trás, para aquilo que Jesus já fez por nós. Todos pecaram, menos um: Este foi Jesus Cristo. Ele, sem pecado e sem maldade alguma, se entregou na cruz no meu e no seu lugar e assumiu a nossa culpa para nos libertar de nossos pecados e nos dar a salvação. Ele, como inocente, assumiu o nosso pecado para que nós, como pecadores, pudéssemos ser transformados em inocentes. Há uma maravilhosa troca: o pecador é transformado em inocente e o inocente é transformado no próprio pecado (cf. 2 Coríntios 5.21). Sem sofrimento não há esperança. Se sofremos, é porque temos algo muito grande a nos esperar, mesmo que seja apenas na eternidade com Deus.

O Espírito Santo também nos faz olhar para frente. O melhor está por vir! Jesus Cristo diz em João 14.1-3: “Não se perturbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.” Estamos aqui, embaixo. O Espírito Santo nos consola em nosso sofrimento. Enquanto isso, Jesus Cristo, o Filho de Deus, está preparando a nossa casa celestial. Quando olhamos para o mundo em destruição, podemos esperar que o melhor está por vir. A esperança não surge de nós e nem está em nós mesmos. A esperança que está baseada no ser humano transforma o próximo passo em um abismo. Somos pecadores e não podemos produzir a esperança por nós mesmos. Por isso Deus, em sua providência, age em nosso favor e nos concede a verdadeira esperança em seu Filho Jesus Cristo.

Deus perdoa nossos pecados pela fé e nos dá a Salvação. Aquilo que é reservado ao futuro já pode ser recebido hoje. Mas, quando abrirmos esta janela chamada esperança e olhamos para fora dela com alegrias e expectativas, não podemos esquecer da condição em que estamos. Quem crê em Cristo já está salvo, mesmo que ainda viva no mundo que geme e sofre. Ainda somos pecadores! Por isso, precisamos agir em favor deste mundo promovendo a paz e a justiça, pois Deus é pacífico e justo. Deus se torna presente – em um mundo caído – na força do Espírito Santo.

Não somos tirados deste mundo, mas somos consolados aqui onde estamos. Basta olharmos para trás, para a cruz, para sabermos que nosso pecado foi aniquilado por Cristo. Basta olharmos para frente para sabermos que o melhor ainda está por vir.

Há um hino que gosto muito que diz:

Aqui na terra as dores não cessam, as tentações me atacam sem fim. Porém em breve, de tudo me esqueço com as delícias preparadas pra mim. Eu tenho uma casa naquela cidade, resplandecente em celeste fulgor. Da minha casa eu tenho saudades, e hei de estar com Jesus meu Senhor!3

Sentimos falta de algo: é da casa celestial de Deus. Só lá é que teremos uma verdadeira morada segura que só existe no além. Ainda aguardamos por isto ou achamos que com a morte, tudo acabou? Eu creio que não. Se Cristo ressuscitou e se até hoje seu corpo nunca foi encontrado é porque há algo de muito verdadeiro em toda esta história. Não termina aqui, nem mesmo se o ser humano se destruir com bombas e guerras. Há uma morada sendo preparada para quem crê em Jesus. Esta morada não poderá ser destruída por ninguém de nós, pois está sendo construída pelo próprio Senhor Jesus.

Se esquecermos de olhar para trás, para a obra de Cristo na cruz, nos tornamos ingênuos achando que somos bons o suficiente e que não temos pecados a confessar. A cruz sempre nos leva à confissão diante do crucificado; se esquecermos de olhar para frente, para a eternidade, nos desesperamos em ter os prazeres desta vida, pois a vida seria uma só e a morte acabaria com tudo. Temos que aproveitar a vida, mas aproveitá-la para que possamos estar juntos na eternidade e não desperdiça-la não servindo a Deus e nem ao próximo.

Que Deus possa fortalecer a nossa esperança para que possamos cada vez mais crer nas suas promessas e permanecermos firmes nelas. Já agora podemos sentir e receber o que Deus está preparando para os seus. Basta crer em Jesus como único e suficiente Senhor e Salvador.

O apóstolo Paulo nos diz em 1 Coríntios 2.9: “Todavia, como está escrito: Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam.” Nem podemos imaginar que surpresas Deus nos reserva na eternidade. Quem não crer de fato, não poderá entrar. Eu desejo que todos nós possamos estar reunidos lá. O ingresso já foi pago com o sangue de Cristo na cruz.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus,
amém.


 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERDE | TEMPO COMUM | ANO B

13 de Junho de 2021


P. William Felipe Zacarias


1 DREHER, Martin. “Domingo de Pentecostes – 25 Mai 2015”. in: HOEFELMANN, Verner (Coord.). Proclamar Libertação. vol. 39. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2014. p. 184.

2 DREHER, 2014. p. 184.

3 MEUC. Vamos Todos Cantar. 4. ed. São Bento do Sul: União Cristã, nº 13.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Testamento: Novo / Livro: Romanos / Capitulo: 8 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 25
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 62975
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