Paróquia Ferrabraz

Sínodo Rio dos Sinos


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Ele tragou a morte | Mateus 28.1-10

Domingo da Páscoa | ANO A

04/04/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,


onde as mãos humanas não alcançam, as mãos de Deus alcançam; onde a medicina humana não enxerga solução, o poder de Deus mostra sua realização; onde o ser humano enxerga apenas a morte, Deus é capaz de produzir a vida.


Essa é a mensagem da Páscoa. O ser humano não é todo-poderoso. O ser humano não tem a decisão sobre a vida e a morte em suas mãos. Com sua medicina e conhecimento, o ser humano pode até atrasar a morte; impedi-la, porém, não lhe é possível! Mesmo com tantos conhecimentos sobre a vida e o mundo, ninguém é capaz de escapar da morte! Ela é um fato a ricos e pobres, homens e mulheres, religiosos e não religiosos, assim por diante! A morte é a grande niveladora: ela torna todos os seres humanos iguais!


Jesus estava morto. As mulheres e os discípulos viviam o luto. Haviam caminhado com Jesus por três anos. Viram e testemunharam Jesus fazer muitos sinais: curas, milagres, feitos extraordinários. Em seus corações, as mulheres e os discípulos percebiam a vinda de algo novo. Sim! Um novo Reino bem diferente dos reinos deste mundo. Eles estavam dispostos a tudo por esse Reino. Pedro chegou a dizer que seria crucificado com Jesus (cf. Lucas 22.33) quando, na verdade, negou Jesus três vezes para escapar da morte (cf. Lucas 22.54-62); a mãe de Tiago e João chegou a pedir que no reino de Jesus, um se assentasse à sua direita e outro à sua esquerda (cf. Mateus 20.21), quando, na verdade, beberiam o amargo cálice do martírio por Cristo (cf. Mateus 20.23; Atos 12.1).


Eles haviam criado uma grande expectativa pelo novo reino a ser trazido por Jesus. A cobiça e a ambição invadiram seus corações. Por mais que tivessem caminhado com Jesus por três anos, aparentemente a mensagem do Cristo não havia realmente sido compreendida pelos seus seguidores. Sonhavam com um poderoso reino terreno, enquanto Jesus veio trazer o reino que é eterno! E naquela sexta-feira da Paixão, todas as suas expectativas foram frustradas. Seu mestre estava morto! Por mais que esperassem, ele não desceu da cruz. Ele de fato estava morto! Em seu luto, as mulheres e os discípulos estão reclusos, confusos e temerosos diante de tudo o que viram e ouviram naqueles dias.


Assim estavam! De luto! Confusos! “O que será da vida a partir de agora? O que fazer daqui em diante? Como seguir em frente?” Conseguiriam ignorar aqueles três anos como se nunca tivessem acontecido? Ou seriam também eles julgados e crucificados? Dúvidas certamente não faltavam na mente dos discípulos – especialmente para Tomé.


Em seu luto, Maria Madalena e a outra Maria, mãe de Jesus (cf. Marcos 16.1) vão até o túmulo. Era o que estava ao seu alcance: visitar o túmulo; talvez, oferecer flores; talvez, ter ali algumas recordações... Aquilo que nós fazemos quando perdemos alguém que amamos. Quem ama, chora! Se choramos a perda de alguém, é porque amamos muito aquela pessoa. Quem ama, sente falta!


Mas então aconteceu a maravilhosa surpresa de Páscoa. Aquele Domingo, de um dia como qualquer outro, transformou-se na vitória: “E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, removeu a pedra e sentou sobre ela.” (Mateus 28.2). Não é um terremoto da morte, mas é o terremoto da força da vida. Não é uma força destruidora e aniquiladora, mas uma força transbordante de vida e de recomeço. A terra treme e dela brota a maior esperança da humanidade.


Juntamente ao terremoto apareceu um anjo. Sua mensagem é claramente uma boa notícia: “ – Não tenham medo!” (Mateus 28.5). “Não fiquem apavorados! Acalmem seus corações! O que está acontecendo aqui não é uma cena aterrorizante, mas cheia de alegria.” “Sei que vocês procuram Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver onde ele jazia.” (Mateus 28.5-6). Aquilo que causou pavor aos guardas foi motivo de alegria para aquelas mulheres. Há uma surpresa: Jesus ressuscitou! Ele não está mais na sepultura! O túmulo está vazio! Ele, de fato, está vivo! Sua missão não terminou! Na verdade, aquele era de fato apenas o recomeço!


E já em seguida se dá início à missão: “Agora vão depressa e digam aos seus discípulos que ele ressuscitou dos mortos e vai adiante de vocês para a Galileia; lá vocês o verão. É como acabei de dizer a vocês.” (Mateus 28.7). É preciso testemunhar! É preciso pregar aos quatro ventos: aquele que foi crucificado agora está vivo! Ele venceu a morte! Não, aquelas mulheres não estavam loucas. Também não tiveram algum tipo de ilusão. Ele de fato ressuscitou. E agora tinham a difícil tarefa de falar disso aos discípulos. Contudo, a fé deles na ressurreição não dependia do testemunho delas, mas do próprio agir de Deus.


Diante de tal acontecimento, elas não perdem tempo: “E, retirando-se elas apressadamente do sepulcro, tomadas de medo e grande alegria, correram para anunciar isso aos discípulos.” (Mateus 28.8). Elas não andam; elas não caminham; elas correm! Aquela notícia é urgente! A urgência da boa notícia não pode esperar; precisa ser testemunhada aos quatro cantos do mundo! Elas não tinham internet ou celular, mas tinham pernas. E usam as pernas para levarem a mensagem da ressurreição o mais rápido possível aos discípulos.


Então, elas novamente são surpreendidas: “E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: - Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram os pés dele e o adoraram.” (Mateus 28.9). Agora elas não tinham apenas ouvido falar da ressurreição de Jesus; não! Agora elas mesmas o viram frente a frente. Não era um espírito; não era um fantasma; não era apenas uma alma! Ele havia ressuscitado corporalmente. Elas, inclusive, abraçam os seus pés, algo que não seria possível se o Jesus ressurreto fosse apenas um espírito. Elas o acolhem, recebem e adoram! O reconhecem no mesmo instante! Ainda não sabem como aconteceu! O que sabiam é que Jesus estava vivo e que mais pessoas precisavam saber disso!


Jesus não apenas apareceu a elas, mas também falou com elas, dizendo: “ – Não tenham medo! Vão dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galileia e lá eles me verão.” (Mateus 28.10). Ou seja: não apenas vocês vão ter esse privilégio, mas também meus discípulos. Aliás, muito mais gente que os discípulos! Após a ressurreição, Jesus permaneceu ainda por 40 dias na terra. O apóstolo Paulo testemunha: “e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maioria ainda vive; porém alguns já dormem. Depois, foi visto por Tiago e, mais tarde, por todos os apóstolos. Por último, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora do tempo.” (1 Coríntios 15.4-8).


Cristo está vivo! Nós não cremos em um Deus morto! Após esses 40 dias, ele subiu aos céus e está assentado à direita de Deus, o Pai. Ele reina! É Rei dos reis e Senhor dos Senhores. A ele, toda a Igreja Cristã canta hoje “Aleluia” – o mesmo que ocultamos das nossas liturgias nos 40 dias da Quaresma.


Hoje é dia de festa! Hoje é dia de júbilo! Hoje é dia de comemoração! Hoje é dia de libertação! Cristo está vivo! E porque ele vive, nós podemos crer no amanhã!


Amados irmãos e amadas irmãs,


esse é o significado da Páscoa. Antes, acreditávamos que a morte era a força mais poderosa existente. A partir da Páscoa, somos convidados a crermos que a morte perdeu o seu poder. A morte foi vencida! Martinho Lutero nos diz no seu hino “Cristo estava preso nas amarras da morte”:


Foi uma guerra assombrosa,
quando a morte e a vida se degladiaram.
A vida alcançou a vitória,
ela tragou a morte.1

 

É por isso que hoje celebramos a Santa Ceia. Como Evangélicos de Confissão Luterana, cremos, ensinamos e confessamos a Presença Real do Cristo vivo na ceia. O pão é ao mesmo tempo o corpo de Cristo; o vinho é ao mesmo tempo o sangue de Cristo. Ele mesmo se faz refeição sobre a mesa do altar. Ele mesmo é pão e suco. Lutero diz:


Eis aqui o verdadeiro cordeiro pascoal
preceituado por Deus;
no tronco da cruz
em ardoroso amor ele foi assado,
seu sangue marca nossa porta.
Com isso a fé enfrenta a morte,
o estrangulador não consegue nos tocar.
Aleluia.2
(...).
Cristo quer ser o alimento
e nutrir sozinho a alma,
a fé não quer viver de outro.
Aleluia.3

 

Ao mesmo tempo, a ressurreição de Jesus nos demonstra que Deus não está do lado das forças que produzem a violência e a morte. Não! Deus está do lado daquilo que promove vida – e vida digna e em abundância! Seguidor dele é quem traz a vida e não a morte, quem rompe com a violência e quem busca a paz.


No encontro com o crucificado, corramos ao mundo espalhando sua ressurreição. Amém.


DOMINGO DA PÁSCOA | BRANCO | CICLO DA PÁSCOA | ANO A

09 de Abril de 2023


P. William Felipe Zacarias


1 LUTERO, Martinho. “Cristo estava preso nas amarras da morte – 1524. in: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas – Vida em Comunidade: Comunidade – Ministério – Culto – Sacramentos – Visitação – Catecismo – Hinos. 2. ed. vol. 7. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia; Canoas: Ulbra, 2016. p. 523.

 

2 LUTERO, 2016. p. 523.

 

3 LUTERO, 2026. p. 524.


 


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 70037
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