Paróquia Ferrabraz

Sínodo Rio dos Sinos


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A Porta | João 10.1-10

4º Domingo da Páscoa | ANO A

25/04/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Portas! Por quantas portas passamos todos os dias? São as portas do lar; são as portas da escola ou universidade; são as portas do local de trabalho; são as portas das lojas; são os portais das cidades. Portas! Algumas que se abrem; algumas que se fecham. Abertas, são um convite para que todos sejam muito bem-vindos; fechadas, porém, guardam em segurança quem já chegou e por elas já passou.

Portas! Por incrível que pareça, a porta – por mais simples que seja – é assunto até mesmo para a sociologia. Assim escreveu o sociólogo polonês Zygmunt Bauman: “O momento em que a porta é trancada do lado de fora, o lar se torna um sonho. O momento em que a porta é trancada do lado de dentro, ela se converte em prisão”[1]. Esta alegoria é mais que instigante: é provocativa! Se do lado de fora da casa a pessoa pode experimentar da liberdade colocando sua segurança em risco – por estar do lado de fora – de outro lado, dentro do lar há maior segurança, mas menor liberdade de trânsito. Da porta para fora, a lembrança do lar é um sonho de segurança, afabilidade, amor, carinho, partilha; do lado de dentro, o mundo é um sonho de liberdade, potencialidades e descobertas.

Estas são as portas! Portas que podem também simbolizar as transições que passamos pela vida; portas que simbolizam a passagem por diferentes realidades cotidianas; portas que nos provocam para que por elas entremos; portas que nos seguram para que de um limite não passemos; portas que são conexões entre diferentes ambientes que também não deixam de ser realidades diferentes; portas que nos protegem e isolam quando precisamos de segurança; portas que podemos associar também à hospitalidade, pois é na porta que recebemos aqueles/as que nos visitam; portas que podem simbolizar também a curiosidade: “o que há do outro lado? E se eu abrir a essa porta?” As portas que, conforme a fantasia de C. S. Lewis em “As Crônicas de Nárnia”, podem ser a abertura para um novo mundo repleto de coisas maravilhosas. Portas e mais portas! Quanta reflexão!

No texto que ouvimos, Jesus se apresenta a nós como a porta. Mas, o que isso realmente significa? O que Jesus quis dizer com isso?

 

1                 A PORTA GENUÍNA (vs. 1-5)

 

Um lugar pode ter diferentes entradas. Há diferentes acessos para diferentes lugares. Há portas e mais portas! Isso dá uma vantagem ao ladrão. Certamente que o ladrão não irá escolher adentrar ao ambiente pela porta da frente onde todos poderiam vê-lo e capturá-lo. Isso seria uma tolice sem tamanho. Inversamente, o ladrão “sobe por outro lugar” (João 1.1). O salteador age “nas trevas”. Não atuará com transparência, mas fará seus projetos de maneira secreta! Por isso, devemos ser sóbrios e vigilantes (cf. 1 Pedro 5.8-9), astutos como as serpentes e simples como as pombas (cf. Mateus 10.16).

Percebamos, portanto, que salteador não é apenas aquele que entra em um ambiente e rouba alguma coisa; salteadores são aqueles que agem nas trevas, de maneira escondida, desapercebida, crendo que seus planos maléficos nunca serão descobertos. Eles têm medo de agir à luz – e, por isso, tem medo de serem descobertos. Na Igreja de Jesus, quem age às escondidas e com combinações escondidas não serve ao Reino da Luz, mas ao maldito reino das trevas! Não tenhamos dúvidas disso! Por isso, o salteador usa um caminho falso.

Já o pastor de ovelhas não tem o que temer. Quem quer cuidar do rebanho, entra pela porta da frente! Não tem nada a esconder! Pode agir à plena luz do dia sem nenhum temor. Não precisa tramar nada as escondidas, pois não tem nada a camuflar. Seu desejo não é outro senão o de cuidar do rebanho. Quem é esse pastor? É Jesus!

O pastoreio de Jesus entra pela porta da frente. Jesus não tinha nada a esconder. Ele não entra por portas falsas ou pela porta dos fundos; ele entra pela porta genuína! Seu ministério foi totalmente às claras. Não agiu às escondidas para agir em nome do poder. Não! Jesus agiu às claras para demonstrar claramente o seu amor. Foi comprometido com a justiça, a inclusão e a libertação dos sofredores. E por isso mesmo ele foi levado à cruz! Não porque foi descoberto em uma trama “por baixo dos panos”, mas por pregar e falar da novidade do Reino de Deus publicamente! Eis o pastor a quem nós, cristãos, cremos ser Deus: um pastor crucificado no madeiro!

 

2                 A PORTA DEFINITIVA (vs. 6-10)

 

Mesmo Jesus explicando tudo claramente, seus ouvintes têm dificuldade em compreender aquilo que está sendo dito: “Jesus fez esta comparação, mas eles não compreenderam o sentido daquilo que ele falava.” (João 10.6). Jesus fez uma comparação. Contou uma “mini parábola” para que seus ouvintes imaginassem a cena do ladrão nervoso e ansioso entrando pela porta dos fundos e do pastor entrando tranquilamente pela porta da frente. Porém, eles ainda não haviam compreendido a essência do ensinamento.

Então, Jesus deixa as coisas muito mais claras, indo diretamente ao ponto e no alvo sem nenhum temor: “ – Em verdade, em verdade lhes digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes deram ouvidos.” (João 10.7-8). A grande pergunta é: quem são esses “todos”? “Todos” se refere aos fariseus e escribas – que no capítulo 9 expulsaram da sinagoga o cego que Jesus havia curado. Os fariseus e escribas achavam que conheciam alguma coisa, achavam que conheciam a realidade da fé, dizendo inclusive serem discípulos de Moisés (cf. João 9.28). Jesus, porém, agora lhes diz claramente: “são ladrões e salteadores”. Não passam de aproveitadores! Não fazem outra coisa senão destruir e oprimir ao próprio povo! Oprimem a mente das pessoas para que não tenham nem sequer a liberdade de pensar! Escravizavam o povo dentro de um sistema religioso limitante. Os fariseus e escribas eram, porém, hipócritas: “ – Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas, porque vocês são semelhantes aos sepulcros pintados de branco, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão!” (Mateus 23.27).

Enquanto os fariseus e escribas vieram somente para “roubar, matar e destruir” (João 10.10a), Jesus veio para que todos “tenham vida e a tenham em abundância” (João 10.10b). Jesus está do lado daquilo que promove a vida – e vida digna e em abundância! Jesus não quer que pessoas morram de fome; Jesus não quer que pessoas morram de sede; Jesus não quer que pessoas morram de frio na rua; Jesus não quer que os indígenas sejam mortos em nome do chamado “progresso material”; Jesus não quer que pessoas sejam assassinadas por causa do seu gênero; Jesus não quer que pessoas sejam assassinadas por causa da sua religião; Jesus não quer que pessoas sejam mortas por causa da sua cor de pele; não!

Jesus quer vida e vida em abundância! Quem deseja a morte do seu próximo é o ladrão, o salteador! Não é Jesus! Ele mesmo é a porta à qual todos podem entrar! Ele é uma porta aberta e definitiva para acolher a todas as pessoas, especialmente as que mais sofrem. Ele, que ainda no ventre de Maria teve as portas fechadas “em sua cara” quando deveria encontrar um lugar para nascer, agora ele mesmo é porta aberta e disponível para todas as pessoas – especialmente as mais vulneráveis.

Ele não é uma porta como aquelas que deram acesso para a entrada de Pilatos ao Pretório – porta de julgamento e morte; ele não é uma “porta” como o “véu” no templo que separava as pessoas de Deus; ele não é uma porta como as tantas que seu pai José deve ter feito como carpinteiro; não! Ele é uma porta viva! Ele nos chama pelo nosso nome!

Jesus é porta que se abre para uma nova vida pautada pelo amor, inclusão, respeito, tolerância; Jesus é porta que se abre para uma nova realidade de busca de justiça e paz para todas as pessoas; Jesus é porta que se abre para novos céus e nova terra; Jesus é porta que se abre para a vivência comunitária onde todos são igualmente importantes – em tempos de tanto individualismo; Jesus é porta que se abre para uma nova sociedade onde o maior sonho não é o poder, mas a fraqueza: colocar-se ao lado dos mais fracos; Jesus é porta que se abre para um novo mundo onde a Criação é respeitada e a exploração predatória é eliminada. Jesus é a porta!

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

vamos passar por essa porta que é Jesus. “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, sairá e achará pastagem.” (João 10.9). A palavra “Páscoa” vem do hebraico “Pessach” que significa “passagem”. Hoje nós vivemos o 4º Domingo da Páscoa. Sim, já se passaram quatro domingos. Já passamos pela porta chamada Jesus? Já fomos transformados para uma nova vida?

Hoje também é dia de Páscoa, pois hoje também é dia de passar pela porta que é Jesus. Venham todos, sem distinção. Sintam-se todos muito bem incluídos. Aqui você tem lugar! Entre pela porta de Jesus. Experimente transformação! E então, saia para achar pastagem e para trazer outros à genuína e definitiva porta da Salvação.

Ele é o caminho; ele é a porta! Amém.

 

4º DOMINGO DA PÁSCOA | BRANCO | CICLO DA PÁSCOA | ANO A

30 de Abril de 2023

P. William Felipe Zacarias



[1] BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 117.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 70199

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