Espiritualidade Evangélica Luterana


ID: 2686

Marcos 10.13-16

Dia Mundial de Oração 2016

30/10/2015

 

Dia Mundial de Oração - Cuba

4 de março de 2016

 

“Quem receber esta criança em meu nome, a mim me recebe.”

 

Estudo Bíblico 1


 

Receber as crianças

Texto Bíblico – Marcos 10.13-16

 

Narradora: Imaginemos que fazemos parte de uma reunião na comunidade do Evangelista Marcos. Nós participamos do processo da redação do documento base do Evangelho. Escutemos os testemunhos:

Mulher 1: Somos membros, homens e mulheres, das primeiras comunidades cristãs de Roma, que participamos ativamente da redação do “Evangelho de Jesus, o Messias, o Filho de Deus” (1.1) por volta do ano 71 D.C. Para entender bem sua mensagem, cremos ser importante que todos estejam cientes de onde e como nasceu este livro, quais situações, quais motivos e com qual finalidade foi escrito.

Para ser sincera, esta obra não surgiu do nada. Surgiu da vida e do caminhar de nossas comunidades. Foi nascendo pouco a pouco, provocado pela pregação dos apóstolos, dos missionários e missionárias itinerantes que visitavam as comunidades. Foi aproveitada a memória composta de muitos testemunhos mantidos vivos nas tradições orais transmitidas nas comunidades, talvez por nossas mães e avós, nas celebrações e nas reuniões de reflexão. Todo este material foi organizado tendo em conta a vida e as situações concretas das comunidades. Nossa intenção foi manter viva a memória da vida de Jesus, para que essa memória sirva de orientação decisiva para o caminhar difícil pelo que estamos passando.

Mulher 2: O Evangelho de Marcos foi escrito quarenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus. Portanto, foi bastante tempo depois, quando havia dezenas de comunidades espalhadas por várias regiões do Império Romano. Através de pessoas cristãs e missionárias itinerantes que passaram ou viveram em Roma, tínhamos notícias de muitas comunidades espalhadas por todo o mundo, com suas alegrias, suas dificuldades e esperanças (I Tessalonicenses 1.7-8). Graças aos muitos caminhos e aos muitos barcos que circulavam pelo Mediterrâneo, era bastante fácil o intercâmbio de notícias entre as comunidades espalhadas pelo Império (Romanos 1.8; Atos 18.1-3; I Pedro 1.1). Este intercâmbio de notícias animava-nos bastante e nos dava mais força para o caminho.

A situação dura e conflitiva marcou profundamente toda a composição do livro. Perseguições, ameaças, calúnias, suspeitas, eram nosso pão de cada dia. Não foi fácil encontrar tempo e lugar para a redação, além do tempo necessário para o cuidado da casa e de nossos filhos. O Evangelho foi escrito pouco a pouco, por pedido das comunidades. Foi escrito nas próprias comunidades, em um clima de muita abertura à presença do Espírito e à voz de Deus.

Mulher 3: Sim, foi escrito por nós, homens e mulheres membros ativos das comunidades que, apesar das fragilidades, buscamos ser discípulas e discípulos de Jesus e testemunhas de seu Reino. Nosso testemunho está presente no evangelho. O livro foi escrito baseado e inspirado no testemunho dos que conviveram mais próximos de Jesus. Tivemos a sorte de que alguns deles viveram conosco, como Pedro e Marcos (I Pedro 5.13).

Mulher 4: São muitos os temas que poderíamos abordar sobre a realidade de meninos e meninas de nossa época, mas escolhemos este como exemplo do desafio que Jesus apresentou para entendermos as relações dentro da comunidade, o cuidado com os grupos mais vulneráveis e os requisitos para viver e construir o Reino de Deus.

No império romano uma das práticas mais bárbaras de comportamento adulto com relação aos meninos e meninas era o abandono do recém-nascido, e isso é comprovado pelo direito que se concedia ao chefe de família. O recém-nascido deveria ser colocado aos pés do chefe de família e se este não o levantasse do solo, não poderia ser criado pela família.

Os motivos para o abandono de crianças podiam ser vários, mas o que mais pesava era a razão socioeconômica da maioria da população, que se caracterizava pela mais absoluta miséria.

No judaísmo não se permitia nem a rejeição nem a morte do recém-nascido. No entanto, o pai judeu podia vender ou empenhar seus filhos. Desde pouca idade deviam ajudar seus pais no trabalho. Dessa maneira também contribuíam para a subsistência da família.

Narradora: Busquemos no texto bíblico as luzes que nos guiem através da vida. Destaquemos a expressão “Receber as crianças”.

Leitura: Marcos 9.33-37: “Quem receber esta criança em meu nome, a mim me recebe.”

Jesus regressa a Cafarnaum e, ao chegar à casa (talvez a de Pedro e André), pergunta aos discípulos qual assunto estavam discutindo pelo caminho. O silêncio deles evidencia o reconhecimento inapropriado do tema da discussão. O Evangelista assinala que Ele se assenta porque esta é a posição do mestre; aquele que vai falar tem caráter didático. O que diz a seguir causa surpresa em sua época, tendo em conta que seu auditório é de homens. Jesus toma um menino e afirma que quem recebe um menino recebe a Ele e quem recebe a Ele recebe a Deus. O impactante da expressão não é percebido facilmente por quem, na atualidade, lê a passagem com o foco na inocência da infância com que se interpreta este fato. Para os discípulos, a criança no tempo de Jesus “não era uma pessoa”, devia estar com as mulheres, que tampouco eram consideradas “pessoas” e, por isso, não deviam estar com os mestres e seus seguidores.

Dizer que quem recebe a Jesus recebe a Deus não é problema, mas dizer que quem recebe um menino recebe a Jesus, é inconcebível. O menosprezo para com a infância era tal que entre os romanos era comum que, quem necessitasse de um herdeiro, adotava um adulto e não um menino. O exemplo de Jesus apresenta o menino, que é invisível socialmente, como seu representante, e isso muda totalmente os valores de dignidade sustentado em sua época.

Leitura: Marcos 10.13-16: “Deixai vir a mim os meninos ...”

Jesus, recebendo os meninos e as meninas, permitiu também receber as mães e as avós que os traziam. Isto era como receber os “sem status” de poder em uma contraposição de valores de honra e grandeza de sua época. Além disso, era receber toda a realidade que rodeava essas crianças; ou seja, sua situação econômica, física e psicológica.

A conduta de Jesus se projeta para corrigir não ideias sobre crianças e pessoas que não têm poder na sociedade, mas para corrigir a conduta dos adultos. Baseia-se no ensino de receber o outro. Os sinais do Reino apontam para a reconstrução e reconciliação de novas relações harmônicas, e nesse processo os meninos e as meninas são parte ativa.

A comunidade de Marcos recupera esse fato para repensar sua maneira de ser Igreja. Qual modelo de comunidade que o texto nos oferece? A Igreja é uma comunidade onde se vivem antecipadamente os sinais do reino. Assim a Igreja, como espaço de formação educativa e de valores, recebe a infância, não por imposição, mas por sentir sua dependência da comunidade. À medida em que formamos meninos e meninas, nós criamos neles uma consciência de comunidade com o rosto do Reino e depois, quando forem adultos, poderão dar testemunho disso.

Tanto em Marcos 9.37 como em 10.15, é assinalada a responsabilidade de acolher os que são vulneráveis ou considerados sem valor na sociedade. Esta atitude corrigia critérios éticos da época e possibilitava uma comunidade que desse continuidade à missão de Jesus.

Perguntas para conversação:

- O que evoca o texto?
- Quem levou as crianças a Jesus? O pai, a mãe, o irmão mais velho, as avós? Que reação de Jesus esperavam ao conduzirem as crianças até ele?
- Quais crianças foram conduzidas a Jesus para que as tocasse – crianças saudáveis, enfermas, deficientes, órfãs?
- O que significava a bênção de Jesus para elas?
- O que significa, sob a perspectiva de Jesus, receber as crianças e o que esse ensino significa para nós, hoje?
 


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