Lucas 23.33-43
O texto bíblico nos fala da crucificação de Jesus e de dois ladroes. Jesus é pregado na cruz e os ladroes foram apenas amarrados. Isso quer dizer que apesar da situação dos três ser a mesma – o sofrimento de Jesus foi maior. O sofrimento de quem sofre por culpa própria é bem menor do que o sofrimento de Jesus que sofre pelos pecados de muitos. Jesus não morreu por sua culpa, mas ele morreu por nós. Ele é o mártir, que se entrega por amor. Com isso o evangelista ressalta que Jesus inocente, injustamente condenado, sofreu mais porque carregou sobre si a culpa de todos nós.
Além do sofrimento físico, Jesus também sofre o escarnio, a zombaria, os insultos de três grupos distintos: do povo, como expectador, talvez como massa de manobra, das autoridades religiosas e dos soldados. São pessoas de grupos aparentemente opostos, que se unem por um interesse comum: a condenação e a morte de Jesus. Os motivos são políticos e religiosos. Mas todos se unem para acabar com Jesus. Até mesmo um dos ladroes – uma pessoa crucificada ao lado de Jesus, toma o lado dos zombadores. De todos vem o mesmo insulto: Salvou os outros. Que salve a si mesmo.
É verdade que Jesus salvou a muitas pessoas, uns de suas moléstias e carências físicas, outros por meio do perdão, incluindo-os no chamado para o reino de Deus.
Um dos crucificados, no entanto, reconhece que a punição deles é justa. Mas que Jesus não não faz nada para sofrer dessa maneira. Jesus mostra então mais uma vez sua missão de salvador ao dizer: Ainda hoje estarás comigo no paraíso.
Os minutos de agonia passam e a energia vital de Jesus crucificado vai se esvaindo aos poucos. No entanto, ela ainda tem forças para realizar um último ato de amor em favor de um dos dois condenados à morte que estão ao seu lado naqueles momentos trágicos. Entre Cristo e aquele homem ocorre um tênue diálogo, composto por duas frases essenciais.
Por um lado, o pedido do criminoso, a quem a tradição chama de bom ladrão, o convertido na hora extrema da sua vida: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino. Ele faz o pedido diretamente a Jesus, chamando-o pelo nome.
Por outro lado, há a resposta de Jesus, muito breve, quase como um suspiro: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. A palavra Paraíso, tão rara nas Escrituras que aparece apenas outras duas vezes no Novo Testamento [ Cf. 2 Corintios 12, 4; Apocalipsis 2, 7] , em seu significado original evoca um jardim fértil e florido. É uma imagem perfumada daquele Reino de luz e paz que Jesus havia anunciado em sua pregação. É a meta do nosso cansativo caminho na história, é a plenitude da vida, é a intimidade do abraço com Deus. É o último dom que Cristo nos dá, precisamente através do sacrifício da sua morte, que se abre à glória da ressurreição.
Nada mais se disse naquele dia de angústia e dor, mas aquelas poucas palavras pronunciadas com dificuldade por suas gargantas secas ainda hoje ressoam e são sempre um sinal de confiança e salvação para aqueles que pecaram. Dizemos que Jesus conhece todo tipo de sofrimento e por isso nenhum de nós, por pior que seja a situação – podemos sentir a solidariedade do abraço de Jesus.
Por isso, esse último domingo de Cristo rei nos convida a entrar no tempo de Advento, tempo de preparação para mais uma vez celebrar o nascimento de Jesus. Se diferentes forças e grupos desse mundo se empenham por condenar, crucificar e eliminar a Jesus – o tempo de Advento nos diz que Jesus nascerá de novo, nascerá de novo para nós, nascerá para todas as pessoas que a doença, a discriminação, a intolerância crucificou – ou seja – condenou a morte. Esse domingo Cristo Rei nos introduz ao tempo de Advento para nos dizer que os crucificados em nossos tempos - as vítimas inocentes da fome e das guerras, as mulheres vítima de violência e feminicídio, as pessoas vítimas de insultos por serem pobres, negros, indígenas, enfim para todos os que sofrem nesse mundo por atitudes discriminatórias, a todas elas o tempo de Advento vem dizer: Os senhores deste mundo já estão passando – mas o nosso Senhor e Salvador está chegando.
Por isso, aceitar a esse Jesus não é fazer grandes confissões de fé. A melhor maneira de aceitar esse Jesus é imitá-lo, é colocar a sua própria vida a serviço do amor de Deus. Amém.