Estevão tentou apresentar aos seus acusadores a história de Deus como história da salvação, pois o que Deus quer é mostrar às pessoas a saída para sua escravidão. Este penoso e doloroso caminho precisou de um homem na cruz, um Gólgota fora da cidade, um justo que pudesse suportar toda a injustiça do mundo: Jesus Cristo, o Filho de Deus. Como numa represa, Estevão armazenou todos os argumentos possíveis. Porém, agora não dependia mais dele. Os “pais e irmãos” ouviram a verdade que repentinamente se derramou sobre eles com o ímpeto de uma represa que se rompe. “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis” – estas palavras tiveram o efeito de um tsunami sobre eles. E também sobre nós.
Não lemos também toda a história da salvação na Bíblia sem que isso transforme a nossa vida? Lemos e falamos a respeito dos grandes feitos de Deus – e prosseguimos desanimados sem contar com ele em nossos problemas. Sabemos que existe o juízo e a graça – ainda assim, guardamos ressentimentos e julgamos as pessoas sem misericórdia. Conhecemos o mistério da justiça de Deus em Jesus Cristo – e não retrocedemos um milímetro sequer da nossa justiça própria. Será este o “cassetete” que Estevão usa aqui? Não. É o grito desesperado de um grande amor pelas pessoas que permanecem obstinadas em seus próprios conceitos; pessoas que celebram o culto, mas não permitem que Deus as transforme. Esta é a dor de Deus em relação aos seus filhos teimosos: “Estendi as minhas mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos, povo que de contínuo me irrita abertamente” (Is 65.2 e 3a; leia Nm 14.9; 17.25; Dt 9.7; Sl 106.43; 2 Tm 2.23-26).