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Erva-de-passarinho versus câncer ou Câncer versus erva-de-passarinho

16/01/2017

Erva-de-passarinho, conforme explicação do dicionário, é uma designação comum a diversas plantas da família das lorantáceas, que parasitam as árvores, por disseminação feita pelos passarinhos, ávidos dos pequenos frutos dessas espécies.

A contraposição dos dois enunciados torna-se mais fácil de entender quando já experimentamos o câncer no próprio corpo, na família ou, se no mínimo, temos sensibilidade ao sofrimento alheio. Nem todas as pessoas que sofrem do câncer morrem deste mal quando tratadas em tempo hábil, e podem morrer no tempo certo de outros males. Da mesma forma, a erva-de-passarinho não mata se tivermos um pouco de boa vontade em cuidar das plantas hospedeiras, limpando-as periodicamente, assim como limpamos a nossa casa para bem viver e cuidamos da nossa saúde para não morrer antes da hora.

É uma planta parasitária que cresce junto a uma outra planta viva extraindo dela a seiva sufocando-a lentamente até à morte. Quando a árvore hospedeira morre a erva-de-passarinho também morre. Desenvolve-se com muita agressividade nas plantas não nativas, daí é comum ver aquelas enormes moitas nas enormes árvores das plantações de cedros australianos. Também é comum ver cafezais em abandono cobertos por esta espécie como se fosse uma só ramalhada.

A planta não é do “diabo”, como já fomos acostumados a tachar outras plantas que não nos serviam. Todas as plantas fazem parte da criação, como falamos nas palavras do Credo Apostólico, nossa confissão de fé. A erva-de-passarinho está inclusive arrolada em vários livros de fitoterapia como planta medicinal com um poderoso princípio ativo contra inúmeros mal-estares.

Há muito tempo me surpreendi quando numa reunião mostrei ramos desta planta pedindo aos presentes serem mais cuidadosos com seus pomares para evitar prejuízos e decepções, pois cedo as árvores hospedeiras morreriam. Como reação tive a negação de meu pedido com a argumentação de que, “a planta era muito milagrosa como remédio”.

Sua semente carregada, pelos passarinhos, é envolvida com uma gosma grudenta, assim como no comércio as sementes de soja e muitas outras são envolvidas por uma camada de venenos contra pragas. A gosma em volta da semente da erva-de-passarinho não é venenosa, mas ao cair se adere em qualquer superfície, seja uma folha lisa ou enrugada, um galho, e até já percebi brotinhos novos desta erva em fio de luz. O brotinho sobrevive enquanto se alimenta da gosma, que faz o mesmo papel que a clara do ovo faz para o pinto até dois dias após seu nascimento. Se a superfície for de uma planta viva ele desde cedo retira dela, por meio de um processo delicado, a força para viver e vai crescendo com ela até a morte.

Quando olho e reparo a abundância de erva-de-passarinho nas plantas em hortos florestais, em viveiros chiques e em tantos lugares públicos e particulares é de pensar que somos um povo muito preocupado e solidário com as pessoas doentes. E como tal, deixamos crescer esta erva para socorrer doentes. Conclusão não verdadeira. Mas deixamos crescer esta planta agressora de forma selvagem em nossa volta expondo visivelmente nossa ausência de capricho e sensibilidade com as plantas hospedeiras. Parece que estamos à espera do lançamento de mais um veneno seletivo, para só então atacá-la comodamente.

Um colega meu, que possui um hábito singular de reparar nas cidades por onde passa o capricho das pessoas, mandou-me uma foto de uma linda avenida com enormes e bonitas árvores em flor com a seguinte observação: “Está claro que esta fotografia não é do Brasil, pois aqui somos acostumados a ver as árvores cobertas com erva-de-passarinho”.

Vejo que ainda temos muito que aprender a enxergar o que denota a expressão de seu Abílio quando fala para o filho: “Você já está vendo erva-de-passarinho demais”. A gente simplesmente não vê o que não quer enxergar.

Concluindo: O câncer também pode ser controlado quando cedo for descoberto e assumido. Isso causa transtornos, como: consultas, aplicações disso e daquilo, mudança de hábitos alimentares, mudança de jeitos de trabalho, requer novos jeitos de convivência, requer investimento em tempo e também dinheiro, procura de ajuda... Hoje já se sabe que o paciente com câncer, mesmo recuperado, precisa ficar atento, pois sempre fica algum fiapinho escondido em algum lugar secreto do corpo e quando menos se espera ele brota, cresce e causa desconforto. Consultas e cuidados regulares são necessários, tal qual acontece com as árvores frutíferas com erva-de-passarinho.

Com um pequeno olhar de boa vontade a gente percebe os sinais ainda bem pequenos da erva nas árvores, em certas épocas mais visíveis do que em outras. Então é hora de agir. Agindo com pressa, às vezes, nem é preciso mutilar a árvore e ela pouco sente e no tempo certo retribuirá com flores e frutos como se quisesse agradecer pelo trato recebido. Estes cuidados são necessários com todas as árvores uma vez por ano.

Claro, na época da soberba em que vivemos certamente nenhum candidato a cargo público verá diferença em seu resultado eleitoral se colocar em seu programa a limpeza das árvores nas vias públicas da cidade. Mas nós poderíamos ensaiar um exemplar carinho com as plantas em volta de nossas moradias e nos jardins diante de nossas igrejas. Estaríamos também, desta forma, praticando o tão em moda e bonito discurso teórico do “cuidado”.


 


Autor(a): P. Em. Ido Port
Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Subnível: Missão - Diaconia - Saúde e alimentação
Natureza do Texto: Vários
Perfil do Texto: Crônica
ID: 40914

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