1. Certa vez, vi num filme dois ladrões fugindo com muito dinheiro. Na fuga perceberam que estavam sendo cercados pela polícia e que, inevitavelmente, seriam presos com o dinheiro nos bolsos. Naquele país ser pego com dinheiro roubado no bolso era vergonhoso. Encurralados, ouviram o badalar dos sinos de uma poderosa Comunidade chamando para o culto. Voltaram, entraram e se misturaram ao público “santo” desta igreja. Não demorou e passou, como esperavam, a bandeja de prata para juntar a coleta. Os dois descarregaram seus pacotes de dólares. Os nobres crentões ao lado, constrangidos, dobraram suas ofertas. Após um tempo os dois gatunos saíram sorrateiramente da igreja e sumiram. Ninguém dos religiosos descobriu os ricos piedosos doadores (ladrões) e a polícia já tinha ido adiante.
2. Coisa acontecida há muito tempo numa capela surrada, chique na sua infância, mas agora devido à falta de manutenção, tanto externa como interna, era nada convidativa. Iam apenas alguns poucos na cega piedade de agradar a Deus, ao Pastor e talvez ao próximo. O Coletor, no fim do Culto, plantado ao lado do portal da saída, fazia questão de cuidar de seu trabalho, e contava com orgulho que já fazia este serviço na época do Pastor Willi, já há muito tempo aposentado. Ele era muito jeitoso, para não atrapalhar as pessoas que costumavam conversar com o Pastor na hora da despedida, fazia a volta por fora e entrava novamente na Igreja pela porta da sacristia. Na caminhada, botava sua coleta e fazia seu troco. Mesmo ninguém sabendo, muitos suspeitavam de alguma atitude desonesta do Coletor, já que na vida do dia a dia era um sovina em alto nível, e por isso indicaram para o presbitério um jovem e ingênuo membro, mas zeloso nas suas atitudes. Este honrou sua indicação, fez-se sempre presente, ativo depositante na caixa das ofertas (melhor, no chapéu do Coletor) e também ajudava após o culto a conferir as mesmas despejadas no altar. Lá pelas tantas, deu-se conta que sua nota não chegava ao altar. Marcou previamente sua próxima oferta com um pinguinho de tinta e mais uma vez sua nota não apareceu na hora da soma junto com as demais. Desconfiou de algum desvio e postou-se perto da janela por onde podia acompanhar a caminhada do Coletor após seu serviço em direção à porta da sacristia. Viu com seus próprios olhos, que o Coletor, nesta estranha e solitária volta, aproveitava para fazer a sua “oferta”, colocava uma nota mínima e para disfarçar fazia seu troco (dizia), pegando a maior nota do chapéu que, por coincidência, era sempre a nota marcada do jovem presbítero.
3. Há poucos dias li num devocionário (NA 28.03) que o Pastor de uma Comunidade havia anunciado que a quarta coleta do mês destinava-se para uma família pobre da Comunidade. Em casa, uma viúva e seus filhos também combinaram o que fazer para que sobrasse um dinheirinho extra para cooperar na ajuda para a família pobre. As idéias foram brilhantes. As duas adolescentes resolveram ajudar na vizinhança fazendo companhia, por algumas horas por semana, a crianças de mães ocupadas. Os meninos disseram que iam olhar menos televisão e tomar banho mais rápido para poupar na luz. Também iam estudar mais e usar menos o telefone. Todos concordaram em não comprar sorvetes, picolés e biscoitos recheados durante o mês. No final do mês sobraram 70 dólares que, radiantes, depositaram na caixa das ofertas em favor da “Família Pobre”, e felizes foram para casa. Na hora do meio dia, enquanto todos satisfeitos reunidos na mesa tomando com apetite a sopa de verduras com alguns pedacinhos de lingüiça, alguém bateu a campainha. Quem seria a esta hora? E para surpresa de todos era o Pastor, que veio procurá-los para entregar a soma da Coleta em favor da “Família Pobre”. Dizia: “O presbitério disse que aqui morava a “Família Pobre”. Deixou a coleta de 87 dólares e, ocupado demais, logo se despediu.
Dias depois o Pastor anunciou a visita de um Missionário que atuava na África e que faria algumas palestras para a Comunidade. Todos assistiram com muita atenção o relato do trabalho junto aquelas Comunidades no interior da África. O Pastor pediu que na última apresentação do Missionário todos deviam trazer uma coleta espontânea para o trabalho do Missionário. A “Família Pobre” resolveu levar os 87 dólares para esta oferta. No final da apresentação e nas palavras de despedida, o Missionário fez questão de agradecer pelas ofertas espontâneas e concluiu dizendo que nesta Comunidade certamente havia alguns ricos, pois a Coleta havia somado 100 dólares. A viúva e os seus filhos foram cheios de alegria para casa pois eles eram a “Família Rica” da Comunidade que dos 100 dólares havia doado 87 dólares.
4. Na Vila existia um pequeno grupo de fiéis que regularmente se encontrava para culto no porão de uma casa de número 99 (onde sempre faltava a centésima ovelha, Mt 18. 11-14). Mas logo surgiu a saudável vontade de possuir seu lugar próprio para os encontros. Resolveram preparar uma caixinha na qual iriam colocar seus óbolos espontâneos sonhando ter um dia a própria igreja. O sonho foi compartilhado e vivido.
Um belo dia, quando todas as pessoas de boa saúde estavam na roça ou na escola, veio seu Emílio espiar se eu estaria em casa e sozinho. Explicou que havia escolhido esta hora pois tinha algo importante para me contar. Seguro, entre paredes, tirou um pacote de dinheiro do bolso e disse: “Isto é uma poupança. Eu e a minha esposa já somos muito velhos, mas também queremos ajudar para que um dia possam construir uma igreja aqui na Vila. Esta é a nossa doação, por favor, aceita-a e não precisa falar meu nome”. Demorou muitos anos para que estes talentos se multiplicassem e contagiassem outros tantos, entrementes faleceram seu Emílio e sua esposa. Hoje, antes de chegar na Vila, avista-se de longe a bonita torre da igreja apontando para o céu, cujo início não veio de dólares, bancos suíços, ou dotações de parlamentares, mas de muitas coletas e pequeninas doações anônimas.
E para concluir: Imagino quantas histórias surpreendentes Jesus não teria para contar sobre as nossas ofertas. Observações como aquelas que os discípulos não viam e que nós tantas vezes desconsideramos Mc 12.41-44, pois queremos transformar pedreiras em pão, e preferimos circo onde rolam milhões, Mt 4.1-11. Se você tiver dúvidas, procure ajuda junto ao seu Pastor ou a sua Pastora. Ou, escreva-me.