Na oração do Credo Apostólico nós professamos: “subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso”. Na infância, aprendemos que Deus mora no céu. Tantas vezes fomos levados a crer neste céu como espaço físico que paira sobre nós. O céu divino não pertence à realidade que conhecemos. O fato de Jesus ter subido ao céu não significa que ele se retirou do meio do seu povo, mas que se tornou universal. Se antes Jesus só podia estar em um lugar, junto a um pequeno grupo de pessoas, agora, depois da ressurreição e de ter subido ao céu, ele está em todos os lugares e com todas as pessoas; ele está ao lado de Deus e ao nosso lado em todos os tempos e lugares.
Céu não significa somente o azul que vemos quando olhamos para cima. Céu é a morada de Deus; céu é todo lugar que Deus habita. A porta aberta para este céu divino e bíblico nós encontramos nas promessas de Cristo, que diz: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim” (Jo 14.6). “Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; poderá entrar e sair e achará comida” (Jo 10.9).
Nós cristãos cremos que Deus está entre nós, que ele habita em nosso meio. O fato de Jesus ter subido ao céu significa que ele agora também habita entre nós.
Com a Ascensão, Jesus Cristo assume o poder, é o todo-poderoso. Em Mateus 28.18ss lemos: “Então Jesus chegou perto deles e disse: Deus me deu todo o poder no céu e na terra”.
Na Ascensão, Jesus Cristo assume toda a autoridade no céu e na terra. E isto é muito interessante, porque Jesus, que na Ascensão é proclamado como o todo-poderoso, é o mesmo que o Novo Testamento também testemunha como aquele que não tem poder algum! Vejamos: No seu nascimento, a manjedoura, o estábulo, a fuga por causa da perseguição de Herodes mostram esta realidade – o poder de Herodes. Na sua vida, Jesus se negou a aceitar o poder que lhe é oferecido (Mateus 4.1-11) e o intuito de o proclamarem rei (João 6.15). Na sua paixão, a prisão violenta, a tortura, a cruz; na cruz o deboche mais cruel talvez tenha sido exatamente este das autoridades: “Ele salvou os outros, mas não pode salvar a si mesmo. Ele é o Rei de Israel, não é? Se descer agora mesmo da cruz, nós creremos nele!” (Mt 27.42). Sem poder, Jesus exclamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27.46). O poder era das autoridades políticas e religiosas.
Portanto, Jesus não tinha e se negava a aceitar o poder concebido na sociedade da época: o poder político, o poder econômico, o poder religioso, o poder de um milagreiro.
Jesus agiu assim porque a sociedade em que vivia entendia o poder como uma forma de dominação. Assim, uma elite detém o poder e mantém o povo sob seu domínio, numa situação de dependência, exploração e pobreza. Se Jesus aceitasse o poder que lhe ofereceram, se tivesse caído em tentação, teria ficado com os poucos que dominavam. Se na cruz tivesse lançado mão deste poder, teria salvado a sua própria pele, mas teria anulado toda a sua obra.
A obra de Jesus consiste exatamente em denunciar o falso poder. E daí provém sua autoridade: ter resistido ao poder deste mundo e ter se colocado ao lado dos desprovidos do poder. Percebendo isso, Mateus confessa: “Ele não era como os mestres da Lei; pelo contrário, ensinava com a autoridade dele mesmo” (Mt 7.29). Ou seja, Jesus usou a autoridade a ele confiada para manifestar o poder de Deus. Nesse sentido, a autoridade de Jesus é poder para os que não têm poder. O apóstolo Paulo declara que este poder se manifesta na fraqueza (2 Co 12.9-10 e 13.4).
Confessar o poder de Cristo é aderir ao poder na fraqueza; é abdicar do falso poder; é chamar de falso todo poder que tem como base o egoísmo, o individualismo; é deixar de reconhecer o poder daqueles que exploram, que pisam, que desrespeitam. Assim, o poder de Cristo é transformação.
A partir da Ascensão, somos incumbidos de testemunhar este poder aqui na terra. E para esta tarefa precisamos de uma força especial. E justamente esta é a promessa da Ascensão: “Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra” (At 1.8).
O relato bíblico da Ascensão faz uma pergunta desafiadora: “Por que vocês estão aí olhando para o céu?” (At 1.11a). Olhar somente para cima impede que os pés fiquem firmes no chão; impede caminhar de mãos dadas e em segurança; impede transformação.
Com o poder do Espírito Santo, somos fortes na fraqueza. Esta força nos ajudará a não ficarmos olhando para o céu distante e inacessível, mas a lutarmos cada vez mais por justiça, liberdade, igualdade, paz, verdade, salvação. Ascensão é justamente isto: semearmos sinais visíveis do amor de Deus neste mundo.