O Sacramento do Santo Batismo

Auxílio Homilético

29/03/1982

O SACRAMENTO DO SANTO BATISMO

Dario G. Schaeffer

Falar sobre o Batismo hoje aqui no Brasil parece ser chover no molhado. Todo mundo sabe o que é o Batismo. Todo mundo o pratica de um ou de outro modo. Não parece haver mais discussões importantes em torno desse assunto: Passou quase despercebida, pelo menos sem debates mais generalizados e aprofundados, a assinatura da mútua aceitação do Batismo entre a Igreja Católica e a IECLB. No documento nem se chegou a mencionar uma das práticas que também é feita em ambas as Igrejas, que é o Batismo de crianças recém-nascidas. Por que não se menciona este uso? Parece que isso é tão natural e tão óbvio que nem precisa ser tocado. Ou será que é porque existem problemas com relação a esse uso? O Batismo só se torna de novo assunto interessante e agudo, quando alguém dos membros de uma Comunidade passa para a Igreja Batista ou para outra e é, então, novamente balizado. Surge em consequência, aqui e ali, algum debate em torno disso. Mas, no mais, evita-se tocar no assunto, também nas Comunidades, em eventuais encontros sobre Batismo, pois parece que a coisa, como está, está bem.

De fato, deve-se perguntar: Qual é o interesse que desperta hoje, em nosso contexto eclesiástico e social, a questão do Batismo? Num Brasil que enfrenta problemas tão grandes como a inflação incontrolável, a mortandade de crianças por causa da miséria e da consequente fome, ou o fato de que 40% das crianças hoje nascidas no Brasil não terão possibilidade de sequer conseguir entrar em alguma escola! E se elas entrarem serão peneiradas depois de um ano de frequência e, mais uma vez, outro tanto desiste ou repete o ano por retardamento mental, causado pela fome. Qual é o interesse em se debater o Batismo, quando estamos enterrados em problemas como finanças, enterros, visitas ou em equilibrar nossas pregações para, se não agradar a gregos e troianos, pelo menos, não desagradar em demasia nossa sensível classe média? E, além disso, é preciso que se pergunte qual é o pastor que ainda tem tempo, resistência e energia para assumir um debate, cujo sentido e cujo término ele não pode calcular ou prever?

Tudo isso faz parecer que reacender o debate em torno do assunto Batismo pode parecer muito enfadonho.

Mas ao lado dessa questão devem-se colocar outras. Será que não é por não levarmos a sério o Batismo que enfrentamos essa situação, que nada mais é do que um conformismo com o que está aí? Será que não é exatamente na compreensão e no constante diálogo em torno do Batismo que muitas questões acima se aclararão para nós, para a Igreja e para a sociedade? É isso que precisamos analisar agora.

I - Fundamentação bíblica e teológica

1. O Novo Testamento

A palavra batismo ou batizar no Novo Testamento tem vários significados (cf. Lc 16.24 — dedo molhado de água; João 13.26 — pão molhado, etc.). Entre eles, importante é talvez o fato de que o verbo batizar também é usado para designar nossa participação na morte de Jesus (Rm 6.3) e para indicar que existe um Batismo do Espirito Santo (Mt 3.11). Mas, de modo geral, o Batismo é fundamentado por dois aspectos principais no Novo Testamento: O Batismo feito por João Batista e o envio missionário de Jesus em Mt 28.18-20.

No entanto há outros textos e passagens que dão força ao fato de que o Batismo não tenha sido apenas ordenado por Jesus Cristo, mas também praticado na Comunidade primitiva, como Rm 6.4, em que Paulo deixa subentender que tanto ele como a Comunidade são batizados; Cl 2.12, onde o Batismo também é entendido como morte e enterro, referindo-se ao que é velho e que passou; At 2.41, no Batismo dos três mil primeiros cristãos; Tt 3.4-5, onde o lavar regenerador do Espirito Santo deve ser visto lambem como Batismo do Espírito Santo, que muda radicalmente a existência; também 1 Co 6.11 refere-se ao lavar de santificação e de justificação. At 9.18 e 22.16 mostram o próprio Paulo como batizado; At 8.36 o eunuco oficial de Candace é batizado por Felipe.

O Batismo era, pois, praxe normal considerado até necessário para a existência da Comunidade primitiva. O Batismo do Espírito Santo, o Batismo na morte e na ressurreição de Cristo, o Batismo com água, interligados entre si ou um sendo consequência do outro, demonstram, no Novo Testamento, que esse modo de incluir novos membros no convívio da Comunidade era algo normal e óbvio. Não há grandes debates em torno do assunto. Era ato natural na Comunidade primitiva, que se seguia à aceitação da fé cristã. Poder-se-ia dizer que era o momento da assinatura do contrato entre Deus e o homem, principalmente por parte deste último. A ação do Espírito Santo na fé e na consciência do batizando já estava acontecendo neste momento e não era iniciada no Batismo. O Batismo não era, pois, comparável aos ritos mágicos de iniciação, conhecidos até hoje, mas era e é diferente em seu conteúdo. Fazê-lo em nome da Trindade, com o consentimento e a ciência da pessoa, dá ao Batismo um conteúdo novo.

2. Conteúdo do Batismo

Exatamente este conteúdo novo do Batismo devemos ver agora.  O Batismo de João é um Batismo de arrependimento. Ele chama a pessoa a se colocar totalmente sob a obediência e a lei de Deus. E de que a pessoa o fez, ela é batizada. Observamos que o primeiro passo a ser dado é o arrependimento, a aceitação da realidade de Deus pela pessoa a ser batizada e, então, acontece o Batismo com Agua, como sinal deste arrependimento. O Batismo é sinal para o inicio de uma vida totalmente nova, agora voltada à fidelidade a Deus. O próprio Jesus de Nazaré colocou-se sob esta obediência, deixando-se batizar por João. Ele próprio mostrou que não poderia iniciar sua obra, pelo menos neste momento, sem que esse sinal visível e claro da subserviência a Deus estivesse em seu início e o colocasse dentro da comunhão de todos aqueles que iniciam um caminho novo de vida sob a fidelidade a Deus. Este é o significado do Batismo joanino, que é para nós hoje, de importância.

Mas ele mostra já para além de si mesmo. E o envio de Jesus, a partir de Mt 28.18ss, tem mais do que isso. Não é apenas um Batismo de arrependimento, mas é agora Batismo para dentro da ação libertadora e justificadora de Cristo, o que João ainda não conhecia e que só podia prever que viria. Vivemos após a morte e a ressurreição de Cristo, vivemos a história de um mundo que conhece a redenção. E se temos consciência de que queremos escolher a vida de cristãos livres num mundo amado por Deus, aceitamos sua oferta. E isso acontece no Batismo. Jesus agora já fez por nós o que não estava feito para João e o que não poderíamos fazer nunca por força de nosso arrependimento: torcer e mudar o destino de homem condenado para o destino de homem amado e redimido, através da cruz e da ressurreição. Nossa fé nos faz escolher o destino de homem amado por Deus.

O Batismo é, então, a expressão central das duas coisas mais importantes na vida do ser humano: o fato de que Deus, em Jesus Cristo, se volta ao homem, aceita-o, perdoa-o e inclui-o em sua obra salvífíca e humanizadora e, com isso, em seu Reino, e o fato de que o homem, em fé, sempre de novo se volta a seu Deus, confessa-se a ele, torna-se obediente unicamente a ele, lhe jura fidelidade e, com isso, se humaniza e se volta ao homem sofredor ao seu lado. No Batismo Deus toma morada no homem, através de seu Espirito Santo, e o faz, desse modo, inatingível em seus direitos fundamentais, mas também o desafia, em primeiro lugar, em seus deveres de filho de Deus, de imagem de Deus para com o mundo e a sociedade que ajuda a construir. E o homem responde a esse desafio com o seu sim, completando, através de sua aceitação, o contrato de Deus com o homem. Ambas as coisas estão ligadas uma à outra e são inseparáveis, como o vemos nos testemunhos do Novo Testamento. Não há nenhum relato neotestamentário com indícios de que estes dois aspectos tenham sido separados: Há a fé e há o Batismo. A fé necessária, a compreensão e a aceitação da história de Jesus Cristo com nossa história existem e a consequência lógica e imediata é o Batismo. Como também não há inversão das duas coisas: É necessário haver fé para que se possa aceitar a dádiva de salvação de Deus. E o Batismo era e é o sinal claro dessa aceitação. Através da ação do Espirito Santo cria-se no homem a fé em Deus. E o Espirito Santo age através do Evangelho, sendo este um reconhecimento da Reforma. Existe, pois, a fé e esta fé faz o homem ir ao encontro da obediência a Cristo, e o primeiro passo na ação de fé é sempre o Batismo.

3. Por que batizamos?

Em primeiro lugar, batizamos hoje ainda em obediência ao mando de Cristo conforme Mt 28.18ss. Dentro da autoridade de Cristo sobre todas as coisas e dentro da promessa de que ele estará conosco todos os dias até o fim dos tempos, está colocado o sinal do Batismo com água para todos aqueles que forem discípulos, que crerem neste Senhor. Mas o Batismo com água é expressão de algo que acontece ao homem, ou seja uma mudança fundamental e radical no seu modo de ver e principalmente de viver sua história no mundo. E esta transformação no homem, que é algo dinâmico, em constante processo, constantemente a caminho, chamamos de vida de fé. Esta mudança de vida, no entanto, não devemos entender como algo mágico e inexplicável. Pois é triste entender mágico do Batismo e do que acontece nele que o torna herético. Devemos entender o fato de que o homem aceita uma visão, uma perspectiva e uma ação totalmente nova de vida, dentro da liberdade em que Deus colocou o homem desde sua criação, para poder escolher esta ou outra vida qualquer. Deus lhe dá a possibilidade e a liberdade. O Batismo é o sinal de que o homem aceitou, em sua total liberdade, o caminho que Deus lhe indica e que o mantém livre. K. Barth diz: A resposta que achamos no Novo Testamento para esta pergunta mostra, por sobre todas as outras concepções, para o ponto que é importante: para a mudança que acontece para o homem a partir da liberdade de Deus, na qual ele próprio, o homem, se torna livre, para ser o que antes ele não era nem poderia ser, o que antes ele não fazia nem podia fazer: ser fiel a Deus (p. 6). E nesta mudança que acontece por parte de Deus a uma pessoa, a vida crista tem seu verdadeiro início (p. 7).

Se pudermos considerar isso fé, então é essa transformação que precisa acontecer para que o homem possa entender a dádiva que recebe no Batismo. Também Lutero acentua: As ações de Deus são boas e necessárias para nossa salvação e não excluem, mas exigem a fé, pois sem a fé não seria possível captá-las. Pois pelo fato de que deixas que sejam derramadas sobre ti, ainda não as tens nem as seguraste para que sejam de algum valor para ti. Mas elas se tornam úteis e importantes para ti, quando te deixares batizar na compreensão de que o estás fazendo por ordem e mando de Deus (Der grossa Katechismus, p.114).

Batizamos, pois, porque o homem de fé, que entende e vê a necessidade da perspectiva cristã de sua vida, corre e exige uma ação concreta de fé: E esta primeira ação è o sinal através do qual, em obediência a Deus, diante da Comunidade, na comunhão de seus irmãos, ele aceita as dádivas de Deus e, ao mesmo tempo, promete fidelidade constante a Deus e, com isso, ao irmão pobre e oprimido pelo poderes desumanos que querem tomar conta do mundo de Deus.

Esta fé não precisa ser entendida como algo completo. Mas sempre será apenas um pequeno começo. Um começo que, no entanto, indica para uma outra realidade, oposta à velha realidade, e que começa, como o pequeno leme de um grande barco, a mudar o curso e a história cie sua vida. Em todo caso, esta fé e esta compreensão nova de vida exigem e vão fazer com que exista uma constante ação. Diz Lutero: Por isso um cristão terá uma vida inteira para exercitar-se no Batismo e aprender dele; pois ele sempre terá que trabalhar para que ele tenha fé firme naquilo que ele lhe traz e promete, vitória sobre o diabo e a morte, perdão dos pecados, graça de Deus, o Cristo completo e o Espírito Santo com suas dádivas ( Der grosse Katechismus, p. 115). E nesse sentido que batizamos ainda hoje.

4. O Batismo de crianças recém-nascidas

Neste momento não podemos deixar de entrar na questão sempre de novo melindrosa do Batismo de crianças. E devemos analisar esse assunto a partir de duas visões, a teológica e a eclesiástica.

Teologicamente Karl Barth demonstrou exaustivamente em sua dogmática, que não há indícios nem fundamentação neotestamentária para o Batismo de crianças recém-nascidas. O que muitas vezes se usa para argumentar são episódios em que a família toda é batizada (como por exemplo At 16.15). E afirma-se que também ali deveria ter havido crianças recém-nascidas entre os adultos. Ou então, quando Paulo se refere em 1 Co 7.14 à circuncisão ou mais além quando, em Cl 2.11, falado Batismo como circuncisão de Cristo, parece haver referência a crianças, pois era nelas que acontecia a circuncisão. Mas tudo isso não passa de hipótese. Na realidade não há, até o fim do segundo século, nenhuma confirmação de que crianças, que ainda não tivessem condições de entender e aceitar o que está contido na história de Jesus Cristo para nós, tenham sido batizadas.

Mas instituiu-se, mais tarde, o Batismo de pessoas que pertencem à mesma fé, isto é, de crianças de pais já batizados e cristãos. Também o surgimento dessa praxe não conhecida no Novo Testamento é nebuloso e aconteceu entre o segundo e o quarto século (cf. K. Barth, pp. 182 ss) de nossa era e se fixou como algo constante a partir do século V.

P. Althaus afirma também, apesar de depois tentar argumentar a favor do contrário, que esta prática não é algo evidente diante da compreensão neotestamentária do Batismo (p.550). Todas as tentativas de procurar um argumento nas Escrituras têm apenas um alto índice de probabilidade (p. 552). Vemos, portanto, que a partir da Escritura do Novo Testamento não há argumentos plausíveis para o Batismo de crianças.

Igualmente a partir do conteúdo e do sentido do Batismo não é bem possível aceitarmos este fato tão corrente. Apesar de que se possa reconhecer que Deus aceita, em seu amor, também as crianças e nos dê reconhecimento desse amor e dessa sua comiseração para com elas (Mt 19.13-15 e par.), não há possibilidade de exigir-se delas uma colocação consciente diante disso ou, então, uma possibilidade de escolha e de definição diante do fato. Pelo menos não no caso de recém-nascido. Com o Batismo de crianças recém-nascidas cai por terra a compreensão de que é necessário a fé para o Batismo, para que possa ser aceito e total.

Mesmo assim, Lutero e os reformadores defendem o Batismo de crianças com o argumento de que, neste caso, a fé não é tão importante assim: Dizemos, além disso, que não colocamos a maior força no fato de que o batizado tenha ou não tenha fé; pois, com isso, o Batismo não se torna errado, mas depende unicamente da palavra e do mandamento de Deus. Ou, então, chegam a argumentar com uma fé que já se pode pressupor na criança: Trazemos a criança (para o Batismo) na opinião e na esperança de que ela tenha fé e pedimos a Deus que lhe dê fé...(Der grosse Katechismus, p.117). De uma certa maneira o perigo da compreensão errada das seitas e de uma derrocada política da Reforma, caso se tocasse neste problema, era tão grande que os reformadores tinham que passar por cima desta contradição, sem planejar muito. Mas isso não pode ser argumento para nós hoje, quando vemos na tradição usual um problema tão grande ou maior talvez. Deve-se, em todo caso, levantar a pergunta de como nós nos colocamos diante dos batistas e dos que apelam apenas para a conversão individual e, com isso, esvaziam o Batismo.

Um argumento para o surgimento do Batismo de recém-nascidos, filhos de cristãos, é que a Igreja estava ligada, a partir da era constantiniana, ao Estado Romano e até hoje, de uma certa maneira, está ligada ao Estado ou então à mentalidade estatal. Se a Igreja per dia um adepto, o Estado perdia um súdito. Por isso tratava-se de batizar os recém-nascidos, incorporando-os, com isso, à Igreja e ao Estado Isso pode ser hipótese (Barth, p. 185), mas surge a pergunta para nós hoje, até que ponto também não estamos muito mais preocupados com números e aumento numérico de nossa Igreja e de nossa Comunidade, do que com o conteúdo do Batismo? Não reside nisso o fato de o Batismo ser tão maltratado e menosprezado em seu verdadeiro sentido'? Não reside nisso também o fato de que temos uma Igreja que sempre mais se assemelha a um clube onde o Evangelho é pregado como enfeite dominical e não mais engaja numa ação realmente eficaz. Pois o primeiro ato consciente de fé de um cristão, que é o Batismo, é feito inconscientemente e sob-crenças, as mais variadas e absurdas, incluindo, na maioria das vezes, muitas superstições que, em vez de fazerem o cristão agir, o atiram num fatalismo e num individualismo castrantes e ineficazes..

Mas é diante deste fato eclesiástico que é colocada a teologia Surge, então, a pergunta, que não pode ser respondida aqui e agora: São a Igreja e sua tradição que condicionam a teologia ou è a teologia que deve mostrar o caminho à Igreja? Ou há um outro modo de ver a coisa? No caso do Batismo de crianças recém-nascidas, uma tradição eclesiástica instituída e aceita há milênios, contradiz os reconhecimentos teológicos e as afirmações do Novo Testamento. Que fazer? Pelo menos deveríamos questionar, sempre de novo, nossa práxis eclesiástica e levantar a questão juntamente com as Comunidades, com os pais e padrinhos de crianças a serem batizadas, ou, então, em círculos de estudo criados nas Comunidades. Em todo caso, não se pode deixar simplesmente o problema cair debaixo da mesa, pois o modo de como o Batismo é entendido, recebido e feito é fundamental para a compreensão de como a Igreja deve se tornar presente com a sua confissão de fé no nosso Brasil de hoje.

II - Batismo no contexto brasileiro

No início perguntei pelo interesse que teríamos hoje em perguntar pelo Batismo, seu significado, seu sentido, etc., quando enfrentamos problemas realmente cruciais na área econômica e social do nosso país. Problemas pelo quais uma Igreja responsável deveria estar interessada e importar-se muito mais do que atualmente o está a nossa.

Mas quero afirmar que reside na má compreensão e no uso errado do Sacramento do Batismo, entre outras más compreensões, o fato de que não nos sentimos, como Igreja, impulsionados a nos envolver com mais clareza e mais coragem nos problemas que afligem nosso povo e fazem dele um povo subdesenvolvido e com fome.

O Batismo é coisa para criança! Desde que elas sejam batizadas e com isso garantidamente incluídas na Comunidade ou, então, salvas de doenças graves ou de uma morte pagã, tudo bem! É a isso que, na maioria dos casos, se reduz a compreensão do Batismo. Os pais prometem educar seus filhos na fé cristã. Mas como é que vão fazer isso se, na maioria das vezes, são também analfabetos na fé ou, na melhor das hipóteses, quando levam a sério a educação cristã de seus filhos, o fazem de modo moralista, legalista ou individualista? Ensinam que fumar, beber e ter relacionamento sexual é pecado. O problema é que isso não indica para a liberdade da mudança radical e fundamental da existência que vem de Deus. E a educação pelo menos deveria indicar nesta direção: A vida cristã, a vida a partir da fidelidade a Deus é uma outra vida, com outras medidas, com outros padrões, nova em sua totalidade! E isso já se deveria mostrar na família em que a criança está vivendo.

Já que isso acontece tão pouco em nossas famílias, tem-se ainda o recurso do Ensino Confirmatório. Ele, no entanto, é a instituição que paga o pato por uma má aplicação do Batismo e por uma falta de educação cristã em casa, E daí surgem todos os problemas que conhecemos bem demais a respeito do Ensino Confirmatório, que é possibilidade insuficiente para levar um adolescente a uma fé realmente responsável diante dos fatos que atualmente estão acontecendo em nosso país.

Com isso é de se perguntar: Quando é que um cristão luterano vai entender que o compromisso que outros assumiram por ele, em seu nome, agora é o dele? Talvez nossos jovens possam entender a boa intenção dos pais, quando ficam sabendo da dádiva que recebem no Batismo. Mas quando reconhecem que isso não é um privilégio, mas muito antes uma responsabilidade diante de nosso próximo e de nossa conjuntura, notam que foram colocados por escolha de outro, onde não queriam estar. E a revolta transparece surdamente no menosprezo ao Ensino Confirmatório e no abandono em massa da Igreja. Isso, se não foram antes condicionados, por métodos, em si, secundários ao ensino cristão, a se agarrar, com unhas e dentes, a alguma ideia individualista de religião, coberta com o chocolate de uma pregação meliflua, atraente, mas muitas vezes sem contato com a verdadeira mensagem engajadora e libertadora de Cristo,

Quando, então, voltam é porque precisam de casamento, Batismo etc... E se fecha o círculo donde não saiu nenhuma indicação para a nova vida, a mudança essencial da existência. São largados sem defesa para dentro de nossa sociedade capitalista e exploradora que os abocanha avidamente como mão de obra barata, como objetos de programa, como cobaias do consumismo desenfreado e com urna ideologia de desenvolvimento completamente distorcida. E os que saíram da miséria das cidades ou do campo vão voltar para ela e levam consigo uma esperança a menos e uma revolta a mais.

III - Que fazer?

O Batismo deve ser levado a sério e sua força transformadora do sistema de vida (e não apenas de certos aspectos dela) precisa tomar corpo em nossa Igreja e em nossa sociedade. Talvez então não precisaremos mais viver nos preocupando com os problemas sociais ao lado dos problemas eclesiásticos, mas podemos relacioná-los intimamente. A Igreja tem no Batismo um elemento transformador o libertador dentro de si que não é alimentado por inteligências humanas e nem depende de suas fantasias e fraquezas, mas è a obra salvífica e libertadora do Espírito Santo. Levar a sério o Batismo é levar a sério o encargo ministerial e profético da Igreja e, com isso, talvez um dia não precisaremos mais explicar ou justificar o que já é óbvio, quo oferecer à nossa sociedade, de dentro para fora, uma nova alternativa de vida, cujo fim não seja o extermínio mútuo, mas a existência plena do ser humano em nosso mundo. Ide, fazei discípulos e batizai, nisso está contido tudo.

Algumas sugestões práticas:

1) Criar e fomentar grupos pequenos de estudo e de trabalho.

2) Colocar a reflexão sobre Batismo diante de noivos, jovens casais e pais de crianças a serem batizadas, sem escondei a problemática do Batismo de recém-nascidos.

3) Ler e estudar com a Comunidade, em grupos, documentos da IECLB como: Nossa responsabilidade social, Manifesto de Curitiba, Discipulado permanente, Catecumenato Permanente, Mensagem de Natal do Conselho Diretor para 1979.

4) Analisar com a Comunidade, em grupos de estudo, problemas concernentes à vida diária da Comunidade e colocá-la no contexto social, econômico e político do país e ao alcance da compreensão do Batismo.

5) Exigir e fomentar a criação de material de ensino e de orientação que vise auxiliar a caminhada neste sentido.

IV - Subsídios litúrgicos

1. Hinos: 151;(152): 171;68:56;38, 1-3;27;110:135.

2. Intróito: De que maneira poderá o jovem guardar puro seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra. Ensina-me, Senhor, o caminho dos teus decretos e os seguirei até o fim. Dá-me entendimento e guardarei a tua lei: de todo coração a cumprirei. Guia-me pela vereda de teus mandamentos, pois nela me comprazo. Inclina-me o coração aos teus testemunhos e não à cobiça. Desvia os meus olhos para que não vejam a vaidade e vivifíca-me no teu caminho. Confirma ao teu servo a tua promessa, feita aos que te temem. Eis que tenho suspirado pelos teus preceitos; vivifica-me por tua justiça (Salmo 119).

3. Anúncio da graça: Quem crer e for batizado será salvo, quem porém não crer, será condenado.

4. Oração da coleta: Quando batizamos, Senhor, atrevemo-nos a tomar em nossa boca e em nossas mãos tua promessa de libertação e proclamá-la. Esta dádiva é tão grande que muitas vezes não conseguimos entendê-la e muito menos realizá-la. Pelo contrário, queimamos nossas bocas, e nossas mãos
com ela.

Aceitas-nos assim como somos. Perdoas-nos e amas-nos. Dá, pois, nosso único Senhor, que saibamos pelo menos levar esta(s) criança(s) a um dia confessar-se a ti. Nossa fé é fraca, nossas tradições são fortes. Por isso, na maioria das vezes, fazemos o que sempre foi feito. Dá-nos força para reconhecermos que precisamos de fé naquilo que nos dás, e que não é tão automático que tu nos aceitas. Também nós devemos responder com nossas vidas ao teu convite. Dá-nos força sempre de novo para isso. Amém.

5. Confissão de fé

6. Alocução: Encerra em si a meditação sobre Batismo e deverá vir do diálogo anterior e do estudo de eventuais grupos, como também da experiência da própria Comunidade.

7. Pergunta aos pais e padrinhos: Vocês crêem que no Batismo Deus, em Jesus Cristo, aceita a nós homens todos como também esta(s) criança(s) na sua obra libertadora da cruz e da ressurreição e que este Batismo vale uma vez por todas, não podendo ser repetido?

Vocês sabem também que, para que o Batismo tenha valor, nós batizados, como também um dia esta(s) criança(s), temos que concordar em ser balizados e temos que ter fé numa vida nova, fiel ao Senhor Jesus Cristo?

Vocês concordam em mostrar a esta(s) criança(s) que Jesus Cristo é o Senhor do mundo, sobre todos os senhores, Deus de todos os deuses, único justo e compassivo, para que ela possa saber por que foi batizada e, então, possa escolher livremente sua participação na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil?

Se esta for a vontade de vocês, então respondam: Sim, com o auxílio de Deus!

V - Bibliografia

ALTHAUS P. Die christliche Wahrheit. 1. ed., Gütersloh. 1966
BARTH K Das christliche Leben. In: Die Kirckliche Dogmatik. /ol. IV/4, Zürich 1967
BURGER, G. ed. Quem assume esta tarefa? São Leopoldo, 1977.
LUTERO. M. Catecismo Menor. São Leopoldo. 1970
LUTHER M. Der grosse Katechismus. München (s.d.)
SEGUNDO , J.L. Os Sacramentos Hoje. In: Teologia aberta para on leigo adulto. Vol.4. São Paulo, 1977.
WESTERMANN, C. ed. Artigo Taufe. In: Arbeitsbuch, Religion und Theologie. Stuttgart, 1976.


Proclamar Libertação – Suplemento 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Dario G. Schaeffer
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1982 / Volume: Suplemento 1
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7308
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