Prédica: Salmo 46.1-7 (Hino Castelo Forte)
Leituras:Isaías 45.19-25 e Mateus 10.26b-33
Autora: Walter Altmann
Data Litúrgica: Dia da Reforma
Data da Pregação: 31/10/2013
Proclamar Libertação - Volume: XXXVII
1. Introdução:
Dia da Reforma x “dia das bruxas” No mundo protestante, e mesmo no mundo ecumênico mais amplo, o 31 de outubro é conhecido como Dia da Reforma, referência ao dia do ano em 1517 em que o monge Martim Lutero teria afixado à porta da igreja do Castelo de Wittenberg suas famosas 95 Teses, convidando para um debate acadêmico sobre as indulgências e o comércio de indulgências então em curso, com o objetivo de arrecadar recursos para a construção da Basílica de São Pedro em Roma. Mesmo que o fato seja hoje um tanto controvertido, havendo quem defenda que Lutero tão somente teria enviado as 95 Teses a seu arcebispo (o que, em verdade, realçaria o fato de que Lutero não nutria a intenção de uma cisão na cristandade ocidental), o texto tornou-se amplamente difundido de imediato, e a data passou à história como o Dia da Reforma. Assim tem sido celebrada até os dias de hoje.Mesmo que o protestantismo tenha depois se desdobrado em muitas variantes, a data permanece na consciência das igrejas protestantes, significativamente designadas como “igrejas da Reforma”, como marco fundante comum. Até mesmo a maioria das igrejas pentecostais reconhece o Dia da Reforma como um evento significativo de sua própria história.
Ainda assim, o pregador ou pregadora terão presente o fato de que, num ambiente cada vez mais dominado por meios de comunicação seculares, o dia 31 de outubro tem sido associado a uma origem pagã, hoje, porém, secularizada a comemorações quase que folclóricas, em que crianças se fantasiam e se divertem, pregam peças a outras pessoas e delas solicitam alguns obséquios, como a entrega de doces. Até alguns anos atrás, essa data e sua correspondente prática não eram muito observadas em nosso meio, mas vêm sendo crescentemente graças, como aludido, à sua difusão pelos meios de comunicação. O pregador estará, portanto, de certo modo, nadando contra a correnteza quando quiser chamar a atenção para um evento que transformou o transcurso da história da igreja, e mesmo do mundo ocidental, e não para uma brincadeira folclórica. Obviamente, porém, do ponto de vista material, o Dia da Reforma é incomparavelmente mais substancioso, razão pela qual é indispensável que o pregador e a pregadora lhe deem muito mais atenção.
O texto selecionado para a pregação é o Salmo 46, que serviu de base para o reformador Martim Lutero compor seu mais famoso hino, a saber: Castelo Forte. Como se mostrará tanto um como o outro é manifestação da confiança incondicional na ação misericordiosa e salvífica de Deus.
O texto de Isaías é adequadamente relacionado na medida em que expressa cabalmente a exclusividade da ação de Deus em contraposição a qualquer ídolo que será sempre uma fabricação humana e, portanto, não pode pretender ter a eficácia do Deus verdadeiro, embora as pessoas possam ajoelhar-se diante dele e servi-lo. Haverá de se ter cuidado, porém, no contexto da Reforma, para não identificar pura e simplesmente os ídolos com a Igreja Católica, na qual Lutero exerceu sua crítica. Em tempos de diálogo e compreensão ecumênica, em que não se lhe poderá negar a natureza de igreja cristã, haverá muitos outros ídolos a ser identificados, dentre os quais o próprio Lutero mencionou, na exposição do Primeiro Mandamento no Catecismo Maior, Mâmon, ou seja, as riquezas, como o maior deles.
Já o texto de Mateus realça, em absoluta consonância material com o Salmo 46, a proteção divina a quem proclama o evangelho. Sabê-lo e aceitá-lo gera destemor e intrepidez na proclamação, ainda que ela venha a suscitar antagonismos e resistências, acarretando inclusive sofrimento e perseguição. Como Lutero assevera no hino Castelo Forte: apesar de tudo, o reino de Deus é a herança de quem segue a palavra de Deus e nele confia.
A seguir, é aqui reproduzido, por pertinente, um ensaio sobre o Salmo 46 e o hino Castelo Forte, já publicados anteriormente em meu livro “Palavra a seu tempo”.
2. Observações exegéticas e interpretativas ao Salmo 46 e ao hino Castelo Forte
Deus é castelo forte – esse é, sem dúvida, o mais conhecido dos hinos de Lutero. Cantado em todo o mundo, sua influência vai muito além do luteranismo. Ele se tornou uma espécie de “hino nacional”, identificador do próprio protestantismo como um todo. Também é entoado em celebrações ecumênicas, e lembro de tê-lo ouvido ser cantado com entusiasmo e até orgulho em uma grande igreja pentecostal do Chile. Aquela comunidade identificava-se com esse hino como expressão de sua própria experiência (de vitória sobre os demônios, dos quais nós já secularizados nada mais queremos saber?!). Bem impressionante e até comovedor, mas com quanta razão o hino exerce esses papéis?
Não sabemos quando Lutero compôs o hino. Com toda a certeza, não foi para expressar qualquer orgulho denominacional ou confessional, tampouco como hino de vitória em qualquer competição religiosa a testar a eficácia da fé. Ele já estava incluído em um hinário de 1529, tendo sido, portanto, composto antes dessa data, mas certamente não nos primórdios da Reforma em 1517, quando da afixação das igualmente famosas 95 Teses ou quando Lutero em 1521 teve de enfrentar a Dieta de Worms e o imperador, como por vezes se supôs. Uma hipótese é que tenha sido composto quando Wittenberg, em 1527, enfrentava a terrível ameaça da peste. Como seja, desconhecemos sua origem. Ele é, contudo, em essência – isso seu texto revela sem margem a dúvidas –, um hino de confiança em Deus e de consolo em toda e qualquer tentação e tribulação, enfermidade, flagelo natural, catástrofes, guerras, angústias mil.
O que nos sustenta nos momentos difíceis de nossa vida? E quando chegarmos ao fim de nossa vida, o que nos sustentará? Essas são as questões de fundo do hino, assim como são no Salmo 46, em que ele está baseado. Trata-se esse de um salmo de confiança e conforto, com uma destemida confissão de confiança em Deus em face de toda e qualquer adversidade. Também o salmo é um hino, possivelmente para uso no culto, com três estrofes, cada qual culminando com a confissão de confiança em Deus, porventura a ser cantada pela comunidade: “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (v. 7, 11 e, conforme sugerido por comentaristas, também após o v. 4).
É uma afirmação de confiança em face de eventos que nos ameaçam e atingem a partir da natureza – catástrofes naturais, como deslizamentos e terremotos, são mencionadas (v. 2-3) – e na história dos povos – referidas são as guerras (v. 6 e 9). Em face dessas terríveis ameaças de destruição e morte, sustenta-se a afirmação inicial do salmista: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (v. 1). Em meio à realidade de sofrimento, Deus protege Jerusalém, a cidade santa, de cujas áridas terras brotarão águas vivas a alegrar o coração. A terceira estrofe relata-nos o maravilhoso livramento que vem de Deus: ele porá fi m às guerras despedaçando todas as suas armas e erigindo seu reino de paz e justiça, do qual podemos fazer parte. Por isso não precisamos temer (v. 2) e nele podemos confiar.
Em sua explanação do Salmo 46, Lutero afirma confiante:
Cantamos o salmo para louvor de Deus, por estar conosco e por preservar maravilhosamente sua palavra e a cristandade contra as portas do inferno, contra o furor de todos os demônios, dos entusiastas, do mundo, da carne, dos pecados, da morte etc. Nosso pequenino poço também há de permanecer fonte viva, enquanto seus pântanos, banhados e águas paradas apodrecerão, exalarão mau cheiro e hão de secar.
Uma esperança ingênua e irreal, à qual Lutero com seu hino deu ampla difusão? Podemos nós assumir como nosso quando na quarta estrofe cantamos:
“Se a morte eu sofrer, se os bens eu perder: que tudo se vá”? (O original alemão é ainda mais chocante ao mencionar “corpo, bens, honra, filhos e mulher”.)
Como no salmo, o hino de Lutero começa com a afirmação contundente:
Deus é castelo forte e bom,
defesa e armamento.
E acrescenta:
Assiste-nos com sua mão,
na dor e no tormento.
Lutero não ignora a dura realidade das tentações, do sofrimento, do mal e da morte. Ela será descrita com toda a crueza ao longo das estrofes do hino. Mas ele conhece uma realidade ainda maior: a graça de Deus, que sempre prevalecerá. Logo após a confissão de fé em Deus, o texto esclarece, ainda na primeira estrofe, contra quem Deus haverá de triunfar, a saber, o próprio Satanás, a quem na terra ninguém poderá resistir, a não ser se refugiando em Deus.
O rei infernal, das trevas, do mal,
com todo poder
e astúcia quer vencer,
igual não há na terra.
A segunda estrofe leva-nos ao âmago da redescoberta do evangelho por Lutero:
A minha força nada faz,
sozinho estou perdido.
Por nossos critérios e medidas, é uma causa perdida. Aqui se reflete a experiência que o próprio Lutero fez: por mais que se esforçasse em alcançar a salvação, nem sua consciência tampouco seu coração obtinham descanso. Não a obtemos por boas obras, sejam elas de benemerência, ações de autodisciplina, ainda nossa espiritualidade e suas orações. O inimigo é por demais poderoso. Será essa de fato uma causa perdida?
Um homem a vitória traz,
por Deus foi escolhido.
Para que não paire dúvida alguma:
Quem trouxe essa luz?
Foi Cristo Jesus,
o eterno Senhor,
outro não tem vigor;
triunfará na luta.
A salvação nos vem tão somente de Deus. Com essa certeza, podemos encarar a realidade em toda a sua aterradora dimensão, o que ocorre na terceira estrofe. Se todo o mundo estivesse tomado por “mil demônios”, querendo devorar-nos, já nada poderia nos atemorizar. Satanás não tem mais nenhum poder, uma única palavra de Deus há de destruí-lo. Conforme o original, basta para Jesus Cristo uma “palavrinha” só.
Se inúmeros demônios vêm, querendo exterminar-nos,
Sem medo estamos, pois não têm poder de superar-nos.
Pois o rei do mal,
de força infernal,
não dominará;
já condenado está
por uma só palavra.
A supremacia de Deus não pode ser expressa de maneira mais contundente. Todos os nossos esforços são em vão, mas para Deus uma “palavrinha” basta. Se uma única palavrinha lhe é suficiente, por que haveríamos nós de temer em dor e aflição quando dele recebemos tão abundantes promessas de salvação?
Essa conclusão é tirada na quarta estrofe:
O Verbo eterno vencerá
as hostes da maldade.
As armas, o Senhor nos dá:
Espírito, Verdade.
O original alemão é mais claramente centrado na ação de Deus: “Ele age entre nós com seu Espírito e dons”. Isto é: Deus abre-nos novas perspectivas e nos permite prosseguir nossa via, agora com seu espírito e com suas dádivas a nós. No horizonte final, não importa o que nos acontecer; mesmo se perdermos tudo quanto, depois de Deus, nos é mais importante, estaremos em seu reino de esperança, justiça e paz.
Se a morte eu sofrer,
se os bens eu perder:
que tudo se vá!
Jesus conosco está,
seu Reino é nossa herança.
“Que tudo se vá!”. “Corpo, bens, honra, filhos e mulher”, como consta no original? Não se trata aqui de desprezo por esses valores tão substanciais para nossa vida e tão íntimos em nossas relações, com os quais Lutero, em vida, também se alegrou? Mas nos demos conta: nada disso, por mais precioso que seja, nos dá segurança para a vida. Mais cedo ou mais tarde, seja em forma dramática, seja tranquila e natural, nos defrontaremos com o “último inimigo” (1Co 15.20), a saber, a morte. E todas as pessoas, sem exceção, sucumbirão diante dela. Será o fim de tudo? Definitivamente não. “O último inimigo a ser destruído é a morte” (v. 26). Também esse inimigo terá sido derrotado por Jesus. “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? [...] Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 55 e 57).
No início do hino, “Deus é castelo forte e bom”; no final: “Seu Reino é nossa herança”. Fica claro: nada de humano pode, em última instância, nos assegurar diante das ameaças que nos rodeiam. Podemos admirar portentosos castelos, mas os fabricados por mãos humanas não nos darão a segurança última que procuramos. Só Deus, por intermédio de Jesus Cristo, pode no-la dar. “Deus é castelo forte e bom”, e não há sobre a face da Terra nenhum outro castelo que seja, em última instância, firme e bom. Apenas nosso Deus é. “Isso é certissimamente verdade”, diz Lutero repetidamente no Catecismo. Por isso “Deus [e somente Deus] é castelo forte”.
Ainda uma palavra: nos dias em que preparei este texto originalmente – janeiro de 2010 –, corriam na tela de televisão, quase incessantemente, imagens dramáticas dos catastróficos efeitos do terremoto no Haiti. Destruição por toda a parte, de residências até a catedral, o palácio presidencial e a sede da missão da ONU. Um terço da população do país fora atingido. As estimativas de mortes cresciam a cada momento, também entre agentes de paz e desenvolvimento que estavam atuando no país. Faltavam moradia, água e comida. A multidão corria pelas ruas a esmo, sem saber para onde ir ou onde buscar alívio. Mais de meio milhão de migrantes internos, forçados pelas circunstâncias. Órfãos sem conta. Mas, em meio à tragédia, vinham também imagens de solidariedade no resgate a sobreviventes soterrados, no cuidado médico em condições precaríssimas, na distribuição dos parcos alimentos disponíveis, no nascimento saudável de novas crianças dadas à luz por mães feridas – um raio de futuro em meio à tragédia presente. E também nos chegaram imagens de um grupo de pessoas na rua, entre escombros, em oração e entoando hinos. Deus é castelo forte teria estado entre eles? Bem poderia ter estado.
Resumindo: com boa razão, o hino Deus é castelo forte recebeu o lugar de destaque na espiritualidade das igrejas da Reforma, com alcance ecumênico até. Mas não porque devesse ser celebrado como um hino de vitória do protestantismo, mas por expressar bem a centralidade da obra de salvação de Deus em Cristo em nosso favor. Por nos consolar na tribulação. Quando nos reconhecemos impotentes, Deus está ao nosso lado. Nele podemos confiar, sempre, em todas as circunstâncias, as mais dramáticas que sejam e, por fim, em face da morte. “Seu Reino é nossa herança.”
Até aqui o texto já anteriormente publicado e aqui levemente editado. Demos o passo seguinte.
3. Meditação: rumo à pregação
O pregador haverá de escolher a que quer dar maior ênfase: ao texto do Salmo ou ao hino Castelo Forte, tendo o outro em conta e como referência.
Se a escolha recair sobre o Salmo, sugiro referir-se a todo ele, observando sua estrutura em três estrofes, tendo como refrão de cada uma delas os versículos 7 e 11 (“O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio”), ou seja, incluindo-o também após o versículo 4, como conclusão da primeira estrofe. O tema geral (que seria então desdobrado nas três estrofes) estaria dado pelo versículo 1: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. A confiança expressa nele vence o temor: “Portanto não temeremos” (v. 2a).
A seguir, dando forma à primeira estrofe, vem o relato de terríveis eventos diante dos quais a fé deve se sustentar. O ser humano está exposto às calamidades da natureza. “Ainda que a terra seja abalada, e as montanhas caiam nas profundezas do oceano...” Na segunda estrofe (v. 4-6) são relatadas as ameaças, a dor e o sofrimento que nos vêm da história, da ação humana. Em meio à destruição, Deus preserva a cidade de Deus. Jerusalém era a figura da proteção de Deus. E em relação a ela, situada em região árida, é feita a promessa de que dela fluirá um rio a proporcionar alegria e redenção para todos os povos. A inclusão da terceira estrofe é também pertinente por voltar-se ao futuro e acentuar o livramento que vem de Deus. Ele terminará com as guerras, despedaçando todas as suas armas e trazendo um reino de paz, que, como sempre é na Bíblia, vem entrelaçada com a justiça e a preservação da boa criação de Deus. Pondo Deus fi m às guerras e suas armas mortíferas, fica o radical contraste com o empenho de tantos governos e grupos através da história e hoje em impor a outros pelas armas a sua própria ordem e vontade.
A pregação desdobrar-se-ia, então, em três partes, podendo retoricamente cada uma iniciar com a afirmação do tema dado com o versículo 1 e culminando cada vez com o refrão mencionado (v. 7 e 11).
Já a outra alternativa, tomando o hino Castelo Forte como possível fio condutor da pregação, propicia transmitir no dia comemorativo a percepção fundante da Reforma, a saber, a doutrina da justificação por graça mediante a fé (sola gratia, sola fide), todavia fora do jargão teológico, no contexto de uma profunda espiritualidade pessoal do Reformador. O tema geral poderia ser dado pela pergunta sobre o que importa na vida, em última instância, também em dor e sofrimento, até mesmo em face da morte. As diferentes estrofes podem ser desdobradas a partir daí, e a exposição acima pode servir de subsídio. A pergunta motivadora pelo que importa na vida pode, então, ser respondida de maneira incisiva.
Em qualquer dos casos, deve-se ter em conta que não convém adotar um tom triunfalista ao expor a Reforma ou ao descrever a vida do Reformador. Isso seria o contrário do que Lutero propôs. Somente seremos fiéis ao legado teológico do Reformador se toda a ênfase estiver voltada a exaltar a ação e a misericórdia de Deus em qualquer situação. O Salmo 46 e o hino Castelo Forte não são um cântico a incitar-nos para uma batalha, quiçá rotulada de santa, mas um cântico de consolação em toda e qualquer adversidade que nos acometa. Assim, eles também encaram com grande realismo as catástrofes naturais e a violência humana na história e o sofrimento por elas causado, mas afirma que sempre há algo maior e mais decisivo, e esse algo maior pode ser encontrado em Deus. Confiantes em Deus e por ele consolados, podemos também, em resposta de fé e gratidão, assumir o papel de servidores de nosso próximo, isto é, tornar-nos instrumentos de solidariedade a quem sofre, bem como de paz e justiça em meio às violências da história.
4. Subsídios litúrgicos
É apropriado, parece óbvio, que a comunidade cante o Castelo Forte após a pregação. O convite ao canto pode ser incisivo: “Em gratidão por Deus estar sempre ao nosso lado, cantemos com alegria esse hino de confiança em Deus: o Castelo Forte”.
Nas orações, o tema propicia motivos de gratidão e louvor, bem como de intercessão. Entre os motivos de gratidão mencionem-se a boa e bela criação, dádiva da salvação e do amparo divino nas tribulações, bem como o testemunho fiel do evangelho através dos séculos, em especial a redescoberta do evangelho da graça na Reforma. Tudo pode ser emoldurado pelo louvor a Deus por sua imensa misericórdia, não levando em consideração os pecados humanos, mas enviando seu Filho para a salvação de todas as pessoas. Pode-se empregar, em alusão ao tema do Salmo 46 (v. 1), repetidamente, uma evocação como: “Ó Deus, te exaltamos porque sempre estás conosco” ou “Ó Deus, te louvamos porque és nosso refúgio em todas as tribulações”.
Na confissão de pecados, sugere-se incluir o pedido de perdão pela divisão da igreja, pelos momentos de infidelidade ontem e hoje. Na intercessão, há que se lembrar tanto de situações de sofrimento pessoal (nas enfermidades, por exemplo, mas também causado por catástrofes naturais) como das vítimas de guerras, de fome e de injustiças, causadas pela ação humana. Cada petição pode ser introduzida, em alusão ao Salmo 46.1, por uma evocação como: “Ó Deus, tu que és o nosso refúgio e fortaleza” ou “Ó Deus, tu que és socorro bem presente nas tribulações”.
Bibliografia
ALTMANN, Walter. Salmo 46 – Deus é castelo forte. In: ALTMANN, Walter. Palavra a seu tempo. Prédicas, alocuções e estudos bíblicos. Org. por SOUZA, Mauro Batista de. São Leopoldo: Oikos; São Bento do Sul: União Cristã, 2010. p. 325-330.
LUTERO, Martinho. Catecismo Maior. In: LIVRO DE CONCÓRDIA: as Confissões da Igreja Evangélica Luterana. Trad. e notas Arnaldo Schüler. 5. ed. São Leopoldo-Porto Alegre: Sinodal-Concórdia, 1997. p. 385-496.