A véspera dos 500 anos de Reforma Protestante (1517-2017), muito se fala da necessidade de uma nova Reforma hoje. Deveríamos nos perguntar: por que uma nova Reforma hoje? Que tipo de Reforma?
Martim Lutero ficou conhecido como Reformador, basicamente por sua ousadia em afixar as 95 Teses na tábua do portal destinada a anúncios acadêmicos. O alvo das 95 Teses era a prática da concessão de indulgências, isto é, do perdão de punições da igreja.
Este ato simples de Lutero veio a desencadear uma avalanche sem precedentes na história espiritual, cultural, social e política da Europa, como também em grande parte do mundo. Algo incomum, uma série de teses em poucas semanas se transformou em assunto de conversa tanto do povo nas ruas como também dos nobres nos palácios e dos teólogos nos templos e mosteiros.
A igreja naquela época andava mal, ela tinha se afastado da simplicidade e da clareza do evangelho de Jesus. Lutero chegou a afirmar: “Sob o tema sacerdócio ninguém entende outra coisa senão os “celebradores” e aqueles que estão a serviço do sacrilégio inútil. E a não ser que se passe de largo por esses usos e costumes sem valor e te agarres de olhos bem abertos somente às Escrituras, não superarás esse escândalo”.
Lutero não planejou nenhuma Reforma, ele simplesmente levou a público sua fé cristã com base nas Escrituras questionando os abusos dos bispos baseadas em rígidas tradições e leis humanas. Entre estes abusos estava: veneração de santos, peregrinação a lugares sagrados, adoração de relíquias, missa para defuntos e outras práticas supersticiosas que tinham suplantando a doutrina de Jesus Cristo.
No século 16, o poder eclesiástico se achava instalado no papado, sediado em Roma, de onde o papa governava a igreja através dos cardeais e bispos, que a serviço de Roma, também mexiam com o poder político em seus países.
O povo não conhecia nada da Bíblia, só conheciam histórias de santos, leis e jejuns, regras de penitências, missas de defuntos, sendo mantidos em submissão pelos padres e bispos. Não servindo de exemplo para o povo, o clero vivia na ociosidade e imoralidade, fazendo negociatas com dinheiro arrecadado nos templos.
Esse contexto já antes de Lutero despertou o desejo por uma reforma da igreja, a ser feita “na cabeça dos membros”, mas todas as tentativas haviam sido frustradas.
A questão das indulgências, uma prática pedagógica da igreja que na época servia tão somente para arrecadar dinheiro a fim de custear a construção da Igreja de São Pedro, em Roma. Pregadores escrupulosos percorriam o país a cata de dinheiro. Das inúmeras formas, a mais conhecida artimanha era a de que “tão logo a moeda na caixa ecoa, uma alma do purgatório para o céu voa”.
O purgatório era a crença da existência de um lugar em que se imaginava os cristãos faltosos, após a sua morte. Com pouco dinheiro podia-se comprar indulgencias para um ano, por um pouco mais por cem anos e mais. O povo foi levado a não perguntar mais pelo perdão dos pecados. Naquele tempo era comum a preocupação pelo destino dos mortos, tendo algumas cidades mais de mil padres que não faziam outra coisa a não ser rezar missas por defuntos.
O evangelho do Salvador Jesus Cristo havia sido obscurecido por homens sem escrúpulos que transformaram a graça de Deus em negociata financeira. Aqui reside um ponto comum com os dias de hoje, onde que, novas formas de enganar as pessoas estão sendo praticadas por pastores, bispos e apóstolos “evangélicos”. Em vez de pregar nas praças e venda de indulgências, hoje se prega nas rádios, TV e internet e a venda é de livros de auto-ajuda, CD’s, rosas e vassouras ungidas e inclusive, promete-se cura e prosperidade através dos dízimos.
Nosso tempo é outro. Não basta reproduzir os reformadores do passado, para que a igreja reformada, sempre reformanda, será preciso aprender dos reformadores a paixão pela Palavra de Deus a fim de redescobrirmos a verdade de que “o justo viverá por fé”. Só assim poderemos passar de largo de toda e qualquer forma de mentira que falsos pastores pregam com o único propósito de enganar o povo em benefício próprio.
Precisamos aprender a articular os princípios bíblicos com clareza para que possamos encarar a vida e o mundo na perspectiva da cosmovisão cristã. Assim, o mesmo Espírito de Deus que agiu através dos profetas e na Reforma Protestante, nos ajudará a crer nele e agir hoje.