Livres para servir e amar
Liberdade! Algo tão sonhado, tão procurado. No passado, muitos já a buscaram e lutaram por ela. Mas ainda hoje, há tantos que lutam e buscam a liberdade: liberdade de expressão, liberdade política, liberdade religiosa, liberdade econômica etc.
Não resta dúvida que uma das coisas mais belas que Deus nos deu foi a liberdade. Mas, infelizmente, o ser humano muitas vezes impõe para os outros e até para si mesmo diversos tipos de escravidão. Era o que acontecia no século 16. As pessoas eram escravizadas pelo medo. Vários medos: medo da morte provocada pelas pestes e epidemias; medo das guerras e conflitos coma invasão dos turcos; medo das transformações sociais, econômicas e políticas da época; e principalmente, medo de Deus, medo este, imposto pela própria igreja, que anunciava um Deus temível, terrível e cruel; um implacável e furioso vingador.
Foi a partir da leitura da bíblia que Martin Lutero se descobriu um homem livre. Nas Escrituras Lutero descobriu um Deus amoroso e misericordioso, bem diferente do Deus punitivo e vingativo que até então tinha conhecimento. Lutero descobriu que o evangelho de Cristo é profundamente libertador, por nos mostra que Deus foi até as últimas consequências justamente para nos libertar da escravidão do pecado. Esta liberdade foi uma das grandes redescobertas da Reforma. As pessoas passaram a vivenciar a sua fé por amor a Deus, não mais por medo ou mera obrigação religiosa.
No entanto, a humanidade que tanto aspira, luta e sonha com a liberdade, ao mesmo tempo sempre de novo cria e impõe escravidões. Pretensas lutas por liberdade são permeadas por visões escravizantes e espalham rastros de opressão e dominação.
Acompanhamos nos últimos dias notícias dos protestos no Chile, onde um pequeno grupo, supostamente lutando pelos seus direitos e liberdades se achou no direito de vandalizar e incendiar igrejas na capital do país, como uma afronta e desprezo da fé cristã. O questionamento que fica é: que luta por direitos e liberdade é esta que destrói, fere e ofende?
Vivemos em tempos onde se diz: “Sou livre para fazer o que quero!” E aí, todo tipo de lei ou privação é motivo para alegar fobias e perseguição à liberdade. Contudo, a liberdade que não conhece limites já não é mais liberdade, e sim libertinagem e permissividade. E assim as pessoas passam a agir como animais selvagens, ferindo e prejudicando uns aos outros.
Cristo nos libertou! Ele nos libertou do jugo do pecado e da escravidão de nossas próprias vontades, de nossas próprias verdades e de nosso egoísmo. Esta liberdade em Cristo Jesus é para um propósito: amar uns aos outros. E toda vez que este propósito é esquecido ou desprezado nossa pretensa luta por liberdade no máximo troca a escravidão e opressão de lugar. Nada mais do que isso.
Liberdade, aos olhos da fé em Jesus Cristo, não significa fazer e dizer tudo o que se tem vontade. Somente Deus tem essa liberdade. Liberdade cristã significa, em última análise, tornar-se livre de si mesmo e da sua vontade de ser o centro do mundo e a medida de todas as coisas. Pela fé que opera em nós, somos livres para seguir a Jesus Cristo na busca por ‘vida e salvação’ para as outras pessoas. Que Deus nos ajude a vivermos a partir desta liberdade e não nos permita cairmos na escravidão de nossos próprios impulsos. Amém.