Dia da Reforma



ID: 2892

Gálatas 5.1-11

Auxílio homilético

31/10/1976

Prédica: Gálatas 5.1-11
Autor: Wilfrid Buchweitz
Data Litúrgica: Dia da Reforma
Proclamar Libertação - Volume: I
Tema: Dia da Reforma

I - Considerações sobre o texto

O texto

O texto não apresenta maiores problemas em matéria de tradução e interpretação, ao menos não em aspectos relevantes para a prédica.

O versículo 5 tem provocado alguma divergência na tradução. Optaria pelo seguinte: Porque pelo Espírito aguardamos em fé a esperança da justiça. A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz mais corretamente do que Almeida. Lutero diz: O primeiro que recebemos é o Espírito de Deus. Ele cria a fé em nós, e agora olhamos em direção ao futuro e aguardamos a vida integral com Deus.

Em torno do final do versículo 6 tem havido discussão se é a fé ou são as obras de amor que pesam, são vitais, importam. Mas parece que o texto está claro: A fé em Jesus Cristo é a chave e atua, tem como consequências obras de amor.

Sobre a limitação da perícope existem diversas sugestões. Para esta meditação são sugeridos os versículos 1-11. Há quem sugira 1-12. Outra proposição é 1-15. Outro é de opinião que isso é demais e que seria legítimo limitar-se a 1-6. Há mesmo quem optou pelo versículo l apenas.

De qualquer maneira, não se pode isolar o texto do contexto. A ideia central de qualquer forma é Cristo ou lei, liberdade em Cristo ou servidão na lei. O pregador terá que decidir sob que enfoque quer ou acha que deve abordar este tema. Cada um terá que se decidir. Eu fico com 1-11.

O contexto

O contexto maior em que o nosso trecho esta colocado começa em 3.1 e vai até 5.15 e tem como assunto a relação de lei e evangelho, lei e promessa, lei e fé, lei e liberdade, lei e Cristo.

O conteúdo

Seria bom ler a epístola desde o início, em todo o caso a parti r de 3,1.

A perícope é o ponto alto, parte final do que Paulo aborda e discute anteriormente.

O centro, o fundamento, ao mesmo tempo o alvo da vida dos gálatas fora Jesus Cristo. Neste sentido vós corríeis bem (v 7).

Isso está ameaçado agora, surpreendentemente (1.6). O novo estado de coisas, a vida nova, a renovação, a salvação, tudo isso está em perigo. Por incrível que pareça, há gente que está atrapalhando os gálatas, que está induzindo-os a darem um passo atrás, um passo sem sentido e esperança. Está ocorrendo uma volta à lei judaica. Certamente não há intenção de impor aos gálatas todas as leis judaicas. Pensam apenas em algumas das mais importantes, talvez apenas a da circuncisão. Esta era tão fundamental para o judeu que até podemos compreender a dificuldade de eliminá-la no novo Israel.

Mas Paulo lembra e insiste que agora vale outro fundamento: Jesus Cristo. é ou Ele ou a lei!

Cristo oferece e possibilita uma nova ordem no Reino de Deus. O Reino não é mais construído à base da obediência à lei.

O Reino de Deus nesta nova ordem é constituído por Jesus Cristo através do Espírito Santo presente na fé do cristão. A nova justiça não é obra do homem, mas de Jesus Cristo através do Espírito Santo, que torna possível ao homem a obediência e o arrependimento. Justiça plena se efetivará apenas no juízo final e por enquanto é alvo de esperança.

Qualquer volta à lei, mesmo que parcial, despreza e põe em perigo o acontecido em Jesus Cristo (v 4). Por isso ou se baseia na lei, no cumprimento total da lei, ou em Jesus Cristo, totalmente em Jesus Cristo. Misturar estes dois esquemas não é viável.

Na realidade o esquema da lei também não é viável.

Foi precisamente por isso que Cristo veio substituí-lo quando se tornou homem. Por isso Cristo traz uma nova possibilidade.

Mesmo assim os gálatas estão a ponto de dar um passo para trás, de voltar todo um caminho já percorrido.

Paulo coloca toda a sua pessoa, toda a sua autoridade, o amor pelos gálatas, a responsabilidade de apóstolo na afirmação de que isso não tem cabimento.

Aquele que está atrapalhando os gálatas sofrerá a condenação por isso (v 10).

Se alguém disse que ele, Paulo, também admite a circuncisão, então isso não é verdade. Prova disso é que ele está sendo perseguido pelos defensores da circuncisão (v 11). E admitir a circuncisão seria eliminar o escândalo da cruz.

A grande preocupação de Paulo é proclamar o novo estado de coisas: a libertação da lei por Jesus Cristo. É importante que os gálatas permaneçam firmes nisso.

Agora existe uma só lei, um só mandamento: o amor, no qual o próprio Cristo está presente.

Para quem se coloca sobre esta base, ate a circuncisão pode ter sentido (At 16.1-3).

Em Cristo Paulo confia nos gálatas, de que permanecerão firmes.

O escopo

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão (v 1).

Porque em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão, têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor (v 6).

II - Meditação

O texto está prescrito para o Dia da Reforma. Sabemos que a Reforma teve seu início quando Lutero leu a Epístola aos Romanos. Entre outras, a passagem de 3.28 teve um impacto renovador decisivo. Mas é a Epistola aos Gálatas que posteriormente ganhou importância especial na vida e teologia de Lutero e que chegou a ocupar um lugar todo especial.

A partir da Epístola aos Gálatas é que Lutero chegou a conclusões capazes de provocar decisões básicas da Reforma. Lutero chega a afirmar: A Epístola aos Gálatas é minha epístola, a que me confiei. É minha Catarina Bora.

Lutero achou sua liberdade da escravidão da igreja romana, do papa, do medo, de Carlos V, para uma nova dimensão da vida na fé que atua no amor.

Especialmente nos textos de Romanos e Gálatas a Reforma teve sua origem. Gálatas 5.1-11 é um texto central da Reforma. O Jesus Cristo libertador e doador da fé é base e fonte da salvação do homem, não o homem cumpridor das leis.

Hoje o texto e o Dia da Reforma são colocados na frente das comunidades da IECLB.

Durante séculos o Dia da Reforma foi festejado como dia de reflexão sobre as descobertas evangélicas de Lutero; também dia de procura para novas descobertas. Mas foi também um dia anti-católico, dia da condenação da teologia católica, inclusive dia de protesto.

A situação mudou. O Cristo libertador está em ação na igreja católica. Há uma renovação constante e impressionante em muitas áreas da igreja católica, renovação a partir do evangelho e coerente com o evangelho. Um documento da arquidiocese de Vitória, publicado em 1975 sob o título A igreja que a gente quer, tem o que dizer a qualquer igreja luterana.

Ao lado disso existe ainda o catolicismo dogmático e o catolicismo popular, com influências não evangélicas sobre membros de comunidades da IECLB.

A igreja luterana é a igreja do só Cristo, só Escritura, só graça, só fé, sem as obras da lei.

Essa verdade teológica continua. Nas igrejas luteranas, no entanto, ela foi mal entendida, mal vivida. Parece que levou a uma graça barata, que muito pouco atuam amor. Não se vêem consequências da graça. Parece haver muita fé sem obras. O Cristo libertador parece não estar presente. Não há libertação de certas coisas para outras coisas. Impressiona o número de reuniões, congressos, concílios em igrejas luteranas que tem como tema central obras, a igreja frente a situação social, frente a fome no mundo, frente a minorias, etc.

Há comunidades onde a tradição tem mais força condicionadora do que Cristo como libertador. Que é que está por detrás deste apego à tradição? Provavelmente isso varia de situação para situação. A tradição pode fazer as duas coisas, ela pode proteger, amparar, ou pode prender e travar.

A IECLB é ainda uma igreja onde os pastores enfeixam quase todo o trabalho e toda a responsabilidade nas suas mãos. Não é fácil para os pastores sair desta posição, há diversos motivos para isso, e não é fácil para os membros da comunidade assumirem o seu papel de sacerdócio de todos os crentes.

A IECLB vive e trabalha ao lado de outra igreja luterana no Brasil. As duas igrejas luteranas ainda não se deixaram libertar por Jesus Cristo para testemunharem juntas a fé que atua pelo amor. Ha situações em que elas se combatem e anulam mutuamente.

A IECLB está sofrendo com a situação de apatia, ignorância, passividade de suas comunidades e de seus membros, O Catecumenato Permanente foi declarado prioritário. Vai ser necessário muito empenho, muita mudança de mentalidade, vai custar muito sofrimento para pastores, comunidades, direção da igreja a implantação do catecumenato permanente. Não há atalhos e soluções mágicas. Só o poder do Cristo libertador poderá trazer algo de novo.

A IECLB olha com inveja o crescimento dos grupos pentecostais, ou com arrogância; olha com medo os terreiros de umbanda.

Há muita insatisfação entre pastores e membros da IECLB, muito desânimo. Isso leva à irritação, agressão, desconfianças, impaciência. Há confusão e não sabemos onde começar primeiro. De tantas árvores não vemos mais o mato.

A situação social dos membros da comunidade e tão diversa. Alguns são escravos do muito que possuem; outros são escravos da miséria, economicamente, culturalmente, espiritualmente, moralmente.

Muitas vezes confundimos liberdade com arbitrariedade. O que vale é a minha liberdade em que o outro tem que embarcar.

Ou confundimos liberdade com libertinagem, como se Cristo tivesse derrubado todas as ordens.

Às vezes nos recolhemos a pequenas ilhas, fechando os olhos para o todo da IECLB e da realidade brasileira. Às vezes sobrecarregamos nossas comunidades com problemas do Nordeste, quando elas não têm força de suportar os problemas locais.

A situação política não nos interessa e deixamos de dar a nossa participação responsável. Falta-nos libertação por Cristo.

Muitas coisas, muitas circuncisões ocupam mais a nossa vida do que Jesus Cristo. Muitas coisas nos impedem de continuar a obedecer a verdade. Ou nem começamos?

A nossa massa está levedada por muitos fermentos em vez de nos sermos fermentos no mundo.

Cada comunidade terá que colocar o texto diante de situações diferentes no Dia da Reforma.

Será que nós, pastores, estamos suficientemente libertos para sermos tão zelosos como Paulo? Jogamos todo o nosso amor, toda a nossa autoridade, responsabilidade na balança? É bom analisar com que paixão Paulo se dirige aos gálatas, está sofrendo com eles e por eles. Que importância ele dá à atitude que eles tomam! Só Cristo pode libertar e conservar livre!

III – Bibliografia

- BEYER, Hermann Wolfgang. Der Brief an die Galater. In: Das Neue Testament Deutsch. 5a. ed., Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht.
- DIBELIUS, Otto. Prédica sobre Gl 5.1-11. In: MUELLER-SCHWEFE, H. R., ed. Zur Zeit oder Unzeit. Stuttgart, Kreuz Verlag, 1958.
- LUTHER, Martin. Kommentar zum Galaterbrief. In: Calwer Lutherausgabe. München/Hamburg, Siebenstern Taschenbuch-Verlag, 1968, vol. 10.
- SCHLATTER, Adolf. Der Brief an die Galater. In: Schlatters Erläuterungen zum Neuen Testament, 5a. ed . , Stuttgart, Calwer Vereinsbuchhandlung.
- STECK, Karl Gerhardt, Meditação sobre Gl 5.1-11. In: Göttinger Predigtmeditationen. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1970, ano 24, caderno 4.

Proclamar Libertação 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Wilfrid Buchweitz
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Dia da Reforma
Natureza do Domingo: Dia da Reforma

Testamento: Novo / Livro: Gálatas / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1976 / Volume: 1
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7216

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