Dia da Reforma



ID: 2892

Celebração ecumênica da Declaração Conjunta em Brasília/DF

24/11/1999

Assinatura conjunta em Brasília - Cerimônia do CONIC - Pastor Huberto Kirchheim e Bispo Dom Jayme Chemello
Novo Jeito de Ser Igreja. Textos Selecionados
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Depoimento proferido na celebração ecumênica alusiva à Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, realizada em 24 de novembro de 1999, em Brasília, sob o patrocínio do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Na oportunidade, na presença de autoridades religiosas e civis, o Pastor Presidente da IECLB e o Presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil assinaram a versão brasileira da referida Declaração.


Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, assim iniciou, no dia 31 de outubro de 1999, na Catedral de Augsburgo/Alemanha, a celebração festiva da assinatura comum, católica/luterana, da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação. Este artigo básico da fé cristã havia se tornado, no século 16, em Augsburgo e mais tarde em Trento, motivo de divergências, de condenações recíprocas e de separação no corpo de Cristo. Após aproximadamente 30 anos de diálogos entre católicos e luteranos, Deus possibilitou, através do sopro do Espírito Santo, que pudesse ser assinada na cidade de Augsburgo a Declaração Conjunta de consensos acerca desse artigo central da fé cristã. A cidade parecia respirar a prece de Jesus para que todos sejam um! Faixas e panôs contendo esses dizeres ornamentaram toda a cidade.

Da catedral caminhamos em procissão, cantando e orando todos juntos, liderados pelo Bispo Walter Kasper (Secretário Geral do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos) e Pastor Ishmael Noko (Secretário Geral da Federação Luterana Mundial — FLM), pelo Bispo local Viktor Josef Dammertz e Decano Pastor Ernst Offner; pelo Cardeal Edward Idris Cassidy (Presidente do Conselho Pontifício de Promoção da Unidade) e Bispo Christian Krause (Presidente da FLM). Seguiram-se os demais signatários e autoridades. Como povo de Deus, homens e mulheres, caminhamos pelas ruas de Augsburgo, aplaudidos pelas massas, e nos dirigimos à Igreja Santa Ana (luterana) para o momento-auge: a celebração festiva da Declaração Conjunta e sua assinatura.

Houve duas pregações: a do Presidente do Conselho Pontifício, Cardeal Cassidy (em inglês), e a do Presidente da FLM, Bispo Christian Krause (em alemão). Segundo o Cardeal Cassidy: Esse momento traz nova vida e esperança para todo o movimento ecumênico, no limiar de um novo milênio. O Bispo Krause disse que as mãos que foram estendidas entre as duas igrejas nunca mais podem ser retiradas, para que nossos filhos, ao olharem para trás, se orgulhem deste momento de celebração.

Antes da assinatura, foi lido o Posicionamento Oficial Conjunto da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica.

1. Com base nas concordâncias alcançadas na Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação (DC), a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica declaram juntas: A compreensão da doutrina da justificação exposta nesta Declaração mostra que entre os luteranos e católicos há um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação (DC 40). Com base neste consenso, a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica declaram juntas: A doutrina das Igrejas luteranas apresentadas nesta Declaração não é atingida pelas condenações do Concílio de Trento. As condenações expressas nos escritos confessionais luteranos não se aplicam à doutrina da Igreja Católico Romana apresentada nesta Declaração (DC 41).

2. Com relação à Resolução sobre a Declaração Conjunta, do Conselho da Federação Luterana Mundial, de 16 de junho de 1998, e à Resposta da Igreja Católica, de 25 de junho de 1998, bem como os questionamentos levantados por ambas as partes, a constatação anexada (chamada Anexo) dá maiores esclarecimentos sobre o consenso alcançado na Declaração Conjunta; desse modo, se torna claro que as condenações doutrinais do passado não se aplicam à doutrina dos parceiros de diálogo como apresentada na Declaração Conjunta.

3. Ambos os parceiros de diálogo se comprometem a dar continuidade e aprofundamento ao estudo das bases bíblicas da Doutrina da Justificação. Além disso, também se empenharão por uma compreensão comum da Doutrina da Justificação que vá além do que está expresso na Declaração Conjunta e no posicionamento esclarecedor anexado. Com base no consenso alcançado, é necessário continuar o diálogo, especialmente as questões especificamente mencionadas na própria Declaração Conjunta (DC 43) como sendo carentes de maior clarificação, a fim de alcançar plena comunhão eclesial, uma unidade na diversidade na qual diferenças remanescentes seriam reconciliadas, não continuando a ter força separadora. Luteranos e católicos vão continuar seus esforços de forma ecumênica para interpretar em seu testemunho comum à doutrina da justificação numa linguagem relevante para as pessoas de nosso tempo e levando em consideração as preocupações individuais e sociais da atualidade.

4. Por este ato de assinatura, a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial confirmam a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação em seu todo.

Visto que a Declaração Conjunta será encenada, dispenso neste momento a leitura na íntegra. Sua afirmação central está assim formulada: Somente pela graça na fé na obra salvífica de Cristo, não baseados em nossos méritos, somos aceitos em Deus e recebemos o Espírito Santo, que renova nossos corações e nos capacita e nos convoca para boas obras.

Sou grato a Deus por ter sido um dos privilegiados em participar ativamente tanto naquele culto como na assinatura, representando também o Brasil, como um dos vice presidentes da FLM para a América Latina e o Caribe. Enquanto os representantes da Igreja Católica (Cardeal Cassidy e Bispo Kasper) e os luteranos (Bispo Krause, Pastor Noko e os cinco vice presidentes da FLM) assinavam, o protocolo foi quebrado por aplausos e manifestações de alegria espontânea. A onda de aplausos perdurou até a última assinatura. Como pequena lembrança desse ato pude trazer para o Brasil uma das canetas usadas no ato da assinatura.

E em Roma, o Papa João Paulo II, na sua oração do meio-dia, abençoava este momento histórico, dizendo que esse acordo era um marco histórico no nem sempre fácil caminho para a restauração da unidade dos cristãos. Esse acordo não significa união das duas confissões em uma só Igreja. Ele, contudo, abre caminho para o diálogo em torno de outros pontos que ainda são polêmicos: ministérios, Eucaristia ou Santa Ceia, estrutura e organização. Graças ao trabalho de muitos que nos antecederam no diálogo ecumênico —Bispo Ivo Lorscheiter, Bispo Sinésio Bohn, Pastor Dr. h. c. Bertholdo Weber, Pastor Dr. Gottfried Brakemeier... — em Augsburgo eu pude testemunhar de que no Brasil já temos uma caminhada ecumênica expressiva: aprendemos a nos respeitar, a conviver e dialogar na defesa dos direitos humanos, da reforma agrária, de um estado de direito, em favor das Diretas-já, da hospitalidade eucarística em casos especiais, enfim na defesa da vida.

Por isso, nos alegramos, gratos e esperançosos, no final deste século com os sinais concretos desse novo momento. Num mundo onde tudo é pago, tudo custa seu preço e nada é de graça, o testemunho de vivermos em conjunto a gratuidade de Deus é verdade bíblica fundamental e existencial. Pois saber-se amparado, aceito e acolhido graciosamente por Deus, sem mérito e paga, liberta de si para o encontro com o outro, para a ação ecumênica pela vida. Só assim correspondemos à vontade daquele que orou ao Pai: a fim de que todos sejam um.

Fonte: Novo Jeito de Ser igreja. Textos Selecionados. Editora Sinodal São Leopoldo/RS, 2002.
 


 


Autor(a): Huberto Kirchheim
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Dia da Reforma
Área: Ecumene / Organismo: Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC
Título da publicação: Novo Jeito de Ser Igreja. Textos Selecionados / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2002
Natureza do Texto: Vários
ID: 30049

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Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas ações a fazer e, sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar.
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