Dia da Reforma



ID: 2892

2 Timóteo 2.8-9 - Liberdade Evangélica

Prédica

31/10/1951

LIBERDADE EVANGÉLICA
2 Timóteo 2.8-9

 

O dia de hoje, 31 de outubro, dia em que há 434 anos Martin Luther em Wittenberg pregou as suas teses na porta da igreja, tornou-se a data em que comemoramos a obra de sua vida toda, a Reforma da Igreja. Se nós, como membros desta Igreja, quatro séculos depois, comemoramos essa data, queremos lembrar-nos dos motivos e da causa da Reforma, porque estamos convencidos que essa causa deve ser a nossa também. Pois essa causa não é outra senão o próprio Evangelho; lembrar-se dele é aceitá-lo, viver com ele, dar-lhe o lugar na nossa vida que lhe compete; e é louvar e agradecer a Deus por ter Ele falado a nós, por estar Ele conosco em seu Filho Jesus Cristo. 

O Evangelho foi a causa da Reforma e é a razão de ser de nossa Igreja. O Reformador, em toda a sua vida e obra, não conhecia outros motivos senão a obediência ao Evangelho, a obediência a Jesus Cristo. Livre ele se sabia de todas outras autoridades, porque era servo de Jesus Cristo. Que Cristo reinasse pela sua palavra na Igreja e na vida de cada cristão, que fosse reconhecida e aceita com gratidão a verdade, que não há salvação em nenhum outro, nem foi dado outro nome aos homens debaixo do céu, no qual pudéssemos ser salvos — disso se tratou na obra da Reforma. 

Não temos o direito de deixar esse ponto central de lado. Não temos o direito de festejar esta data se queremos ver em Luther apenas o grande herói e revolucionário, que sozinho teve a coragem de enfrentar um mundo inteiro lutando pela liberdade humana. Luther não quer ser herói, mas é servo de Cristo. E por isso nem é verdade que ele lutou pela liberdade humana, mas sim, ele lutou pela liberdade do Evangelho. O homem não é livre, mas pode viver unicamente tendo Cristo por Senhor. Longe estava Luther de querer tornar os homens livres da Igreja. Pois a Igreja era para ele, como no Novo Testamento, o corpo de Cristo, e ninguém pode pertencer a Cristo senão sendo membro no seu corpo. Isolar-se da Igreja é para Luther separar-se de Cristo. 

A luta de Martin Luther contra Roma não é luta contra a Igreja, mas pela Igreja. Tudo o que tinha a dizer contra as autoridades eclesiásticas, não o disse na opinião de que os homens não necessitassem da Igreja, mas ao contrário : por necessitarem da Igreja, por não poderem ser cristãos senão pertencendo à Igreja — por isso a Igreja deve ser verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo, onde Ele reina pela sua palavra e os sacramentos. Mas não pode ser uma instituição para glorificar homens e enaltecer a sua autoridade. Por isso Luther lutou contra Roma, porque tinha que lutar pela liberdade do Evangelho, que ele novamente se tornasse a verdadeira e única autoridade na Igreja. 

Por isso começaram Luther e os seus colaboradores a pregar na Igreja a mensagem do Evangelho : que por Jesus Cristo somos filhos de Deus, e como filhos temos acesso a Ele, sem quaisquer intermediários ; podemos falar a Deus como filhos ao Pai; que Deus mesmo é o nosso único verdadeiro Senhor, do qual dependemos e ao qual somos responsáveis. Esta é a liberdade evangélica, e outra Luther não conhecia: a liberdade para sermos filhos de Deus. Não temos sacerdotes nem santos que nos poderiam ajudar e preparar o caminho para Deus. Esse caminho foi aberto. Jesus veio e nos disse: Eu sou o caminho. (João 14,6) Conosco está a responsabilidade de ficarmos neste caminho. Deus nos deu a sua palavra. Conosco está o ouvir e estudar essa palavra. n nos dada a promissão de Jesus Cristo : Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles. (Mt. 18, 20) Conosco está reunirmo-nos em verdade em seu nome. Ai nenhum outro pode interceder por nós.

Luther não diminuiu, mas aumentou a responsabilidade pessoal de cada cristão, e não pode ser de outra maneira, porque assim corresponde ao Evangelho. Se Jesus diz a alguém: Segue-me, então esse mesmo tem que decidir-se, tem que responder, e nenhum outro o pode fazer em seu lugar. Perante Deus, isso é, em nossa fé, não podemos ser substituídos por ninguém. Nessa relação cada um está sozinho perante Deus; ele é perguntado, e ele é que tem que dar resposta. 

E essa resposta tem que deixar claro que pertencemos verdadeiramente a Cristo, que Ele para nós não só tem o nome, mas é de fato o nosso Senhor. O tempo, o nosso tempo, portanto, não será mais nosso, mas é dele também; e como sinal de que todo o nosso tempo é dele, sempre dedicaremos uma parte do nosso tempo a Ele, para servir-lhe. E o mesmo acontecerá com os dons que nos foram concedidos: ao usá-los, ao desenvolvê-los, perguntaremos também: como poderia com eles servir ao Senhor, ao qual todos eles pertencem? E, se pertencemos a Cristo inteiramente, Ele, naturalmente, é Senhor também do nosso dinheiro. Ou terá alguém a coragem de dizer-lhe: Tu és o meu Senhor; com tudo o que sou e tenho, eu pertenço a ti; mas o meu dinheiro eu quero e preciso só para mim? Como poderia eu acreditar então que Ele é nosso Senhor? Aqui há uma pergunta muito séria dirigida a nós cristãos evangélicos. É a pergunta o que fazemos nós realmente pelo reino de Cristo e sua extensão? E justamente no dia da Reforma temos motivo de examinar a legitimidade de nossa fé evangélica.

Não basta não sermos católicos, mas é necessário sermos mesmo evangélicos: saber que vivemos unicamente da graça e misericórdia de Deus. Mas esse saber nos impele a agradecer a Deus e trazer-lhe frutos de gratidão. Só nos assiste o direito de comemorar a data da Reforma, se amamos a nossa Igreja Evangélica, por ser ela, em toda a sua fraqueza, Igreja do Evangelho de Jesus Cristo. 

Dr. Ernesto Th. Schlieper

31 de Outubro de 1951 (Dia da Reforma), Porto Alegre

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS
 


 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Dia da Reforma
Natureza do Domingo: Dia da Reforma

Testamento: Novo / Livro: Timóteo II / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19596

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Fé e amor perfazem a natureza do cristão. A fé recebe, o amor dá. A fé leva a pessoa a Deus e o amor a aproxima das demais. Por meio da fé, ela aceita os benefícios de Deus. Por meio do amor, ela beneficia os seus semelhantes
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