Prédica Romanos 9.1-5
Prezada Comunidade,
O apóstolo Paulo nos lembra que o povo de Israel é o povo escolhido de Deus. Ele lembra que Deus fez alianças com seu povo ao longo da história, repartiu com eles a sua glória, lhes deu a verdadeira maneira de adorar e lhe fez promessas.
Mas ele também lembra que essa fidelidade de Deus ao seu povo não é mérito do povo. O povo muitas vezes foi infiel a Deus. Por isso, o mérito está no próprio Deus que – apesar da infidelidade do povo – Deus não deixou de cumprir as suas promessas, enviando o seu próprio Filho Jesus Cristo como Salvador e Redentor.
O problema é que a religião judaica não reconhece que Jesus é o Filho de Deus. Eles ainda estão presos a uma religião e um Deus nacionalizado: o Deus de Israel, enquanto que o cristianismo ultrapassa as fronteiras nacionais e se dirige a todos os povos do mundo. “Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a obedecer a tudo que tenho ordenado a vocês. E lembrem que eu estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28.18-20.
Essa mensagem de Jesus causou conflitos entre o apóstolo Paulo e a Comunidade cristã em Jerusalém, que entendia o cristianismo com um grupo dentro do judaísmo. Portanto, a religião maior era o judaísmo e o cristianismo uma pequena parte, que deveria estar submissa as leis da religião maior.
O apóstolo Paulo reconhece que o povo de Israel foi eleito como povo de Deus no Antigo Testamento, mas com Jesus esse povo de Deus ultrapassa as fronteiras de Israel e quer chegar a todos os povos do mundo. E que a partir de Jesus, Deus não é mais apenas o Deus do povo de Israel, mas o Deus de todas as pessoas que confessarem a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Mas, essa universalização da religião não foi bem recebida pelas pessoas mais conservadoras da religião judaica.
Quando olhamos para a história primitiva das Comunidades cristãs chegamos a perguntar: Como foi possível que os cristãos sobrevivessem rodeados de conflitos internos com a religião judaica e também externos com o Império Romano? Nossa resposta de fé é simples: Porque Jesus é o Filho de Deus e seu Senhor e Salvador. Sem a benção e a presença de Deus, a religião cristã não teria sobrevivido. Se ela sobreviveu por mais de 2mil anos, é porque Deus está nela e Jesus Cristo é nosso Senhor e Salvador e o Espírito Santo atrai sempre novas pessoas formando a Igreja.
No entanto, também a igreja cristã não se manteve nesses dois mil anos pelos méritos das pessoas. A igreja se mantem até hoje porque é um projeto de Deus. É Deus que a mantém, apesar das falhas humanas com que muitas vezes é conduzida. Sempre de novo a igreja cai na tentação e se desvia da mensagem do amor de Deus que quer alcançar a todo o mundo. Sempre de novo começam a surgir regras na igreja para dizer que quem pode ser aceito como membro e quem não pode ser membro.
Por isso, aqui na Igrejinha nós queremos ouvir hoje essa mensagem de Jesus que diz que todas as pessoas são chamadas por Jesus, que na igreja não deve haver limitações para quem procura ouvir a Palavra de Deus.
Muitas vezes me perguntam: Pastor, qual a diferença entre um membro e uma pessoa visitante? E a resposta pode ser bem simples. Um visitante ainda não manifestou seu desejo de ser parte da família. Quando uma pessoa aceita a nossa maneira de falar de Jesus e de viver a fé e quer fazer parte dessa família luterana, então ela é convidada para participar integralmente a testemunhar o Evangelho, zelar para que esse testemunho seja dado conforme a confissão luterana, isso é, que nós não somos melhores que os outros, não somos salvos por nossos méritos, mas somos salvos unicamente pela graça e pelo amor de Deus, que nos perdoa constantemente nossos pecados. Também nós temos problemas – como qualquer outra pessoa – e se Deus não fosse tão misericordioso, não seriamos salvos e nem chegaríamos à vida eterna. Mas Deus é paciente conosco e pela fé em Jesus Cristo ele sempre de novo nos perdoa e nos chama para que participemos da missão de Deus nesse mundo. Além disso, uma pessoa membro da família luterana também será motivada a contribuir com a manutenção dessa Comunidade, ofertando dentro de suas possibilidades. E aqui na Igrejinha precisamos de pessoas assim, que desejam participar da nossa família de fé.
Uma pessoa pode ter fé em Jesus sem ser membro de uma igreja, mas ela não consegue viver essa fé em Jesus sem uma igreja. A fé não sobrevive sem uma comunidade. Por isso, a Palavra de Deus alimenta a nossa fé para que sejamos suas testemunhas nesse mundo. A fé em Jesus reconhece que as bençãos que Deus me dá são para que nós sejamos uma benção para alguém. A fé nos ensina que as bençãos que Deus nos deu tem um propósito.
Mas a missão de Deus nesse mundo também necessita mensalmente de um pouco dos nossos recursos financeiros. É com um pouco de recurso de cada pessoa que nós conseguimos levar adiante a Palavra de Deus e dar um bom testemunho prático de nossa fé. Os recursos podem ser poucos diante das grandes necessidades – podem ser apenas 5 pães e dois peixinhos – como no Evangelho que hoje ouvimos – mas quando abençoados para o serviço de Deus, eles representam um impacto extraordinário.
Nos tempos bíblicos se dizia que a diferença entre o lago de Genezaré e o Mar Morto, é que o Lago de Genezaré recebia água do rio e depois passava um pouco dessa água adiante para outro rio. O Mar morto, apenas recebia, sem distribuir. Tornou-se um mar muito maior em volume de água, mas em suas águas não havia vida.
No Evangelho de hoje ouvimos depois de um dia com Jesus, as pessoas já entenderam que a generosidade contagia e assim acontece o milagre da multiplicação. Eles entenderam que o pão que verdadeiramente alimenta nosso espírito de vida, não é o pão que se come, mas o pão que se dá.
E nós, depois de anos com Jesus, não esqueçamos que também nós temos algo a compartilhar.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo permaneçam em e entre nós. Amém