Estimada Comunidade; Estimados e estimadas irmãos e irmãs:
O Evangelho de Mateus foi escrito numa época crítica para as primeiras comunidades cristãs. Jesus havia prometido voltar depois de ter subido aos céus. Mas essa volta física de Jesus estava demorando muito. A fé de muitas pessoas estava esfriando. A comunidade de Tessalônica, por exemplo, pergunta ao apóstolo Paulo: o que vai acontecer com aquelas pessoas que tinham fé em Jesus, mas que foram morrendo nessa espera pela volta de Jesus? O que vai acontecer com os mortos quando Jesus voltar? O apóstolo Paulo tranquiliza os tessalonicenses dizendo que o dia de nossa morte é o dia do nosso encontro com Jesus. E Jesus vai ressuscitar todos os mortos que confiaram nele. Por isso, devemos ajudar e animar uns aos outros a manter viva a sua fé.
Mas, a verdade é que a gente não gosta de esperar. Algumas pessoas dizem: Quem espera sempre alcança. Mas o correto desse ditado é: Quem espera sempre........ cansa.
Por isso, é necessário que a igreja pregue o Evangelho, mas também tenha espaço para manter a fé e a esperança vivas no coração das pessoas. Mas, como fazer isso? Como animar uma comunidade? Como manter a chama da fé viva no coração das pessoas?
A parábola dos talentos é bem conhecida entre as pessoas cristãs. Ela se dirige a todas as pessoas batizadas.
A parábola de Jesus diz que antes de sair de viagem, um senhor confia a gestão de seus bens a 3 empregados de sua absoluta confiança. A um deixa 5 talentos, a outro 2 talentos e ao terceiro 1 talento.
Enquanto o Senhor está ausente, os empregados ficarão com a incumbência de fazer render os talentos que o Senhor lhes concedeu.
Os talentos não apenas dinheiro ou riquezas, mas os talentos aqui são também os dons que Deus deu a cada pessoa. A uns Deus o dom de falar, a outros o dom de servir. A uns Deus deu o dom de ensinar as crianças, a outros lhes deu o dom de cuidar de idosos e doentes. A uns Deus deu o dom de administrar a outros o dom de dirigir a comunidade.
Quem foi transformado pela graça de Deus através da fé em Jesus Cristo, consegue enxergar melhor os dons que Deus lhe concedeu e por isso essa pessoa também tem o compromisso de aplicar esses dons na Comunidade. A Comunidade cristã necessita desse investimento de dons e talentos que Jesus deixou. A fé, a esperança, a misericórdia, o amor, a solidariedade – essas coisas precisam ser semeadas por muitas pessoas na igreja e no mundo, e a maneira como se semeia essas coisas é pelo exemplo. A expansão do Reino de Deus, o crescimento da Comunidade cristã acontece somente por meio da aplicação desses dons ou talentos. Por meio do sacerdócio geral das pessoas que creem.
O que faz uma igreja crescer é a aplicação dos talentos recebidos de Deus. E o objetivo desses dons é fazer crescer a fé, a esperança, a misericórdia, o amor, a bondade, a solidariedade, o testemunho profético.
Na parábola dos talentos de Jesus, não há como saber quais os talentos – os dons – que cada qual recebeu. Mas, o Evangelho diz que cada pessoa recebeu de Deus a capacidade de contribuir com algo em sua comunidade.
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Na aplicação dos talentos, podemos ver que os dois primeiros servos aplicam de imediato tudo o que receberam. Eles são pessoas ativas, participativas, que tomam a frente. Eles não ficam esperando que outra pessoa faça algo primeiro. Eles se dispõem a fazer algo pelos outros. E eles logo vão percebendo que o seu entusiasmo contagia outras pessoas. A comunidade torna-se participativa, alegre, acolhedora.
Eles vão aprendendo na prática que dar é receber, perder a vida é encontrá-la, desgastar-se servindo é aumentar a alegria e a inspiração para continuar servindo. Quem coloca sua vida a serviço de Deus, acaba sendo surpreendido com os resultados dos sinais do Reino de Deus. A comunidade torna-se mais atrativa, mais acolhedora, inclusiva, mais alegre – um lugar onde nos sentimos acolhidos, um lugar onde nos encontramos com Deus.
Mas temos também o terceiro servo. Esse talvez seja mais parecido conosco. Ele é mais cauteloso. Ele não quer correr nenhum risco de perder ou de aplicar mal o talento ou o dom que recebeu.
O terceiro servo enterra o talento que recebeu, por conta da imagem que ele faz do seu Senhor. Ele imagina o seu Senhor é uma pessoa severa, exigente, uma pessoa que não admite falhas ou tropeços. O terceiro servo tem medo de perder tudo, de aplicar mal e ser castigado pelo seu senhor. Por isso, o melhor é ser precavido. Ele enterra o talento que recebeu. Esse medo que esse terceiro empregado tem do seu Senhor o paraliza. O medo do seu Senhor o mantem bloqueado.
Quando a pessoa vive com medo de Deus e não consegue confiar plenamente em Deus, tudo fica muito complicado em sua vida. O medo enche a pessoa de insegurança. A fé até se conserva, mas ela não se multiplica.
Isso acontece na comunidade, mas também acontece entre os ministros/ministras da Igreja. O medo coloca a mensagem do Evangelho na Comunidade em segundo plano. Por exemplo, conheço alguns pastores e pastoras que trataram de fazer coisas novas nas Comunidades, mais aí foram tão criticados que resolveram não arriscar mais nada. Fazem apenas o que é necessário. Ficaram com medo das críticas e, por isso, parece que enterraram seu ministério.
Mas, o Evangelho nos lembra de algo importante: Trabalhar para o Senhor, para o engrandecimento do reino de Deus, quase sempre provoca críticas.
Um servo fiel a Cristo deve saber uma coisa importante: Quem se coloca a serviço de Jesus, acaba andando no mesmo caminho de Jesus: é criticado, é incompreendido, é caluniado - porque o servo fiel precisa proclamar o Evangelho de Jesus Cristo, precisa estimular a vivência comunitária e precisa promover os valores do Reino de Deus que são a paz, a justiça social, tolerância, a solidariedade. E existem pessoas na igreja que não querem servir a Cristo, que servem a outros interesses e por isso, a mensagem do Evangelho entra em choque com os valores deste mundo.
Mas, chega o dia do ajuste de contas com Deus. O dia em que Deus vai nos dizer o que foi o correto: aplicar os talentos e com isso ter sido alvo de críticas, ou esconder os talentos e com isso não entrar em conflito com ninguém.
Aí vemos uma grande surpresa: Deus elogia aqueles/aquelas que colocaram seus dons a serviço dos outros, que foram instrumentos do Evangelho de Jesus, que participaram ativamente em suas comunidades, que animaram outras pessoas a trabalhar no culto infantil, a zelar pelo patrimônio da Comunidade, a fazer pequenas reformas na comunidade, a participar do mutirão para cuidar do jardim. Pessoas ativas que animaram outras pessoas a serem ativas também – essas são elogiadas por Jesus. Porque elas compreenderam que os talentos que recebemos de Deus não nos pertencem - Eles nos foram confiados pelo Senhor e assim como os servos da parábola, também nós precisamos aplicá-los na Comunidade.
Mas ai está o terceiro servo. Que por medo, por insegurança, esconde o talento que Deus lhe concedeu. A Comunidade não é enriquecida com a participação ativa dessa pessoa. Ele prefere não fazer nada e no dia da prestação de contas ele vai devolver a Deus o talento tal qual o recebeu. Sem tirar nem por.
Aqui está o talento que me entregaste. Eu ouvi muitas vezes a tua mensagem, mas não apliquei nada em minha vida. Aqui está a mensagem do Reino de Deus que me entregaste. Jesus nos diz na parábola que Deus não vai gostar nada dessa atitude.
Por isso, ao contar essa parábola, Jesus quer que não sejamos como o terceiro servo, que enterrou seu talento e o devolveu intacto para Deus.
Jesus quer que desenterremos esse talento e o coloquemos a serviço da Comunidade. Na nossa Comunidade temos muitas possibilidades para participar ativamente. Por exemplo, participar do presbitério. Mas essa não é maneira. Também há espaço para participar do ministério da acolhida, que recebe as pessoas que vem ao culto, que traz as flores para o altar, que ajuda nas leituras bíblicas, na Santa ceia, no recolhimento das ofertas. Temos muito espaço para pessoas que querem cuidar das crianças pequenas e também das crianças maiores no Culto Infantil. Podemos participar da OASE, da organização do Música na Igrejinha, do grupo Diaconia. Portando, a parábola de Jesus nos quer animar a “desenterrar” os nossos talentos – e assumir nosso ministério com coragem e com alegria, porque é assim que Jesus vai fazer crescer o seu Reino entre nós. Nós podemos transformar a nossa vida e a vida de outras pessoas, colocando-nos a serviço do Reino de Deus.
Que assim a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo nos encorajem a viver os ensinamentos de Jesus. Amém.