Ezequiel 33.7-11
Vivemos numa época em que cada pessoa faz suas próprias leis e regras. Olhemos para o trânsito; olhemos para as festas. O que se exalta hoje são os valores individuais. Assumir responsabilidades?, medir as consequências? – é um tema fora de moda. Essa é uma das razões porque não saímos desse io-io em relação ao coronavírus. Quando o numero de infectados e mortos baixa, as pessoas agem irresponsavelmente e o número de infectados e mortos volta a subir.
Também o profeta Ezequiel viveu num dos momentos mais trágicos da história do povo de Israel. Nascido numa família sacerdotal, ele torna-se testemunha de um grande desastre que sobreveio a Jerusalém no ano de 597 a.C. Jerusalém é invadida e destruída pelo rei da Babilônia. As lideranças e os profissionais como pedreiros, carpinteiros, padeiros, sacerdotes, todos foram levados para a Babilônia. Apenas os mais pobres ficaram para trás. Havia aqueles que diziam que essa situação iria acabar logo, que logo, logo esse exílio teria um fim e todos poderiam voltar para o lugar de onde foram tirados. Mas não foi assim. Essa situação durou 50 anos.
Muitas pessoas então se perguntavam: Por que isso está acontecendo conosco? O que fizemos para merecer essa situação? Ficamos sem nada, sem casa, sem terra, sem dinheiro, sem templo e parece que até sem Deus. Por que Deus nos abandonou?
Nessa situação, Deus chama o profeta Ezequiel para que fale ao povo exilado na Babilônia. Deus diz que o profeta Ezequiel deve ser como um atalaia, um vigia que fica no alto de uma torre. O vigia tem a função de zelar pela segurança. Ele deve avisar se algum perigo se aproxima. O atalaia/vigia era tão responsável pela segurança da cidade. Se ele não avisasse sobre algum perigo que se aproximava e se alguma pessoa viesse a morrer por isso, o atalaia/ vigia pagava com a sua vida por negligência.
Lá na Babilônia, as pessoas foram se dando conta que a situação difícil em que estavam vivendo, longe de sua terra e ter perdido tudo o que tinham, tudo isso era – na verdade - castigo de Deus. Essas falaram sobre o seu passado e se deram conta que elas foram abandonando a vontade de Deus. Cada um queria viver por sua própria conta. O individualismo estava em alta. Deus havia enviado vários profetas como Jeremias, Isaías, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias – para alertar o povo sobre o caminho errado que estavam vivendo. Mas era tudo em vão. O povo era teimoso. Não deu ouvidos aos profetas de Deus. Todo o contrário, muitos profetas foram presos, torturados e expulsos do lugar onde viviam. Diante de um povo que não queria saber da vontade de Deus, Deus parece que perdeu a paciência e anuncia o castigo. As pessoas vão perder tudo o que elas tem e serão levadas para outro país, e terão que viver sob as leis desse outro pais. Acabou a liberdade e o individualismo. E assim foi por muitos anos.
Agora que o povo já sabe porque foi castigado por Deus, agora que eles estão na Babilonia longe de seu país, longe do templo, Deus chama a Ezequiel para alertar/avisar o povo, caso eles começassem a se afastar da vontade de Deus outra vez. Afastar-se da vontade de Deus – isso a Bíblia chama de pecado.
A função do profeta é alertar as pessoas toda vez que elas se afastarem da vontade de Deus. O profeta Ezequiel não pode escapar dessa
responsabilidade. Enxergar a maldade humana e não chamar a atenção , isso é um pecado contra Deus. Ezequiel não pode ficar omisso, não pode fazer como os três macaquinhos: um tapa os ouvidos, o outro tapa os olhos e o terceiro tapa a boca.
Deus avisa: Todas as pessoas vão morrer um dia, mas se uma pessoa má morrer sem ter sido alertada sobre a sua maldade, então é o profeta Ezequiel que vai ter que prestar contas a Deus sobre essa morte. Se no entanto, a pessoa malvada for alertada e mesmo assim não modifica suas atitudes, então o problema já não será do profeta, mas sim da própria pessoa.
Isso lembra o testemunho dos apóstolos Pedro e João em Atos 4.20: pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos. Ou então do apóstolo Paulo que diz: Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos vocês. Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus (At 20.26)
O povo na Babilonia já entendeu que eles mesmos tem culpa pela difícil situação que estão vivendo. No Salmo 32 o povo reconhece o peso do pecado: Enquanto não confessei o meu pecado eu me cansava, chorando o dia inteiro. De dia e de noite tu me castigaste, ó Deus, e as minhas forças se acabaram como o sereno que seca no calor do verão. Então eu te confessei o meu pecado e não escondi a minha maldade. Resolvi confessar tudo a ti e tu me perdoaste todos os meus pecados. ... Então o Senhor me disse: Eu lhe ensinarei o caminho por onde você deve ir; eu vou guiá-lo e orientá-lo. (Sl 32. 3-8).
Deus não tem prazer na morte e na perdição de ninguém. Deus não se alegra com a morte do pecador. Ele gostaria que o pecador/a parasse de fazer o mal e vivesse. E aí vem o apelo de Deus: Parem de fazer o mal. Converte-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos (Ez 33.11). O Senhor é o Criador, o Deus da Vida. Ele se alegra com aqueles/as que voltam para ele.
Prezada comunidade:
Hoje essa tarefa profética de conduzir as pessoas para Jesus é da Igreja, pois Deus amou o mundo de tal maneira que essa é a sua intenção para que ninguém se perca (Jo 3.16). Além disso, Deus envia pessoas, Ele mostra sinais para advertir as pessoas sobre o caminho errado que estão tomando. Mas Deus não força ninguém a segui-lo. Se o perverso não se converter do seu mau caminho, então Deus deixará que ele responda pelos seus erros. Por isso, o ser humano deve ser perguntado por sua postura em relação a Deus. Além de ouvir essa pergunta dos atalaias de hoje (ministros/as), essa pergunta cada pessoa deveria fazer a si mesma, permanentemente. Como está a minha vida, minhas atitudes e pensamentos em relação a vontade de Deus? Cada pessoa deveria ser seu próprio atalaia.
Portanto, ser atalaia/ser vigia essa é uma das tarefas da igreja. E essa é uma das razoes porque as igrejas tem torres. Além de abrigar os sinos, que chamam as pessoas para o culto e a oração, as torres também nos querem lembrar da tarefa da igreja como atalaia/ de ser vigia em favor da salvação das pessoas e do bem estar da Criação de Deus.
Portanto, o profeta Ezequiel e os ensinamentos de Jesus nos querem mostrar como deve ser o nosso jeito de viver comunidade: alertar diante do pecado e resolver os conflitos do dia a dia motivados por atitudes de diálogo pessoal e comunitário com o objetivo de perdoar e incluir.
E assim como Deus, devemos nos alegrar com o “ganhar e encontrar quem está perdido” e não com a sua condenação e exclusão. A igreja é um hospital de pecadores, um lugar que recupera efetivamente pessoas tornando-as irmãs umas das outras. O pecado deve ser levado a sério e deve ser denunciado. Mas o objetivo maior sempre será o de não deixar que a ovelha se perca.