Estimada comunidade,
A nossa meditação hoje é a partir do Salmo 121 que faz parte de um grupo de orações conhecidas como salmos dos peregrinos. Em tempos antigos as pessoas que peregrinavam, viajavam à cidade de Jerusalém recitavam estas orações durante à viagem e também quando chegavam ao seu destino, o grande templo de Jerusalém – sinal visível da presença de Deus no meio do povo.
Mas antes de se aprofundar no salmo 121, este salmo dos viajantes peregrinos, quero dizer que o livro de Salmos também tem sido o meu companheiro nesta estrada da vida. O livro de Salmos tem sido companheiro fiel para este peregrino que lhes fala. Como muitos de vocês, meu primeiro contato com o livro de salmos foi nos cultos ou encontros de estudo bíblico. Eu conhecia os salmos mais populares como salmo 23 (O Bom Pastor) ou salmo 91 (Deus é nosso protetor). Mas foi na igreja evangélica luterana nos Estados Unidos (ELCA) que descobri o rico tesouro que é o livro de Salmos. O livro de Salmos faz parte do hinário e praticamente em todos os cultos o salmo do dia é cantado. Cantar os salmos na comunidade é uma tradição trazida pelos imigrantes viajantes da Europa e que foi mantida na nova terra.
Incorporei esta tradição, mas fui além. Movido pelo exemplo de outras pessoas, comecei a usar o livro de salmos em casa – alimentando a minha espiritualidade com as orações registradas no livro de Salmos. Ainda naqueles anos comprei uma edição dos Salmos em alemão, fiel companheiro na estrada da vida desde 2001 – ano que vem vamos completar 20 anos de caminhada juntos.
Porque o livro de Salmos é importante para a sua jornada? Porque o livro de Salmos é importante para a jornada da igreja? Por que as orações nos Salmos são Palavra de Deus que o próprio Deus coloca em nossas bocas. Assim sendo, podemos ouvir Deus falando conosco através destas orações e, ao mesmo tempo, nós temos as palavras necessárias para colocar diante de Deus – este Deus que quer ouvir nossas orações.
O livro de Salmos é uma coleção de orações que alimentam e sustentam nossa fé e espiritualidade. São orações que nos ajudam a falar e escutar – escutar Deus e escutar o nosso próprio coração. São orações que nos ajudam a colocar nossos sentimentos e pensamentos diante de Deus. São orações que nos ajudam a conhecer os sentimentos e pensamentos de outras pessoas, de outras épocas, que também percorreram caminhos de gratidão, de louvor, de dúvida, de angústia, de confiança em Deus.
Como mencionei anteriormente, o salmo 121 faz parte de uma coleção de orações conhecida como salmos dos viajantes peregrinos. A partir do salmo 120 até o salmo 136 nós temos o testemunho de pessoas que caminhavam rumo ao templo de Jerusalém e quando chegavam ao seu destino entoavam juntas estes cantos de oração. O Salmo 121 representa o início da viagem – provavelmente uma oração de benção no momento da partida. Lembrando que nos tempos destes viajantes peregrinos a viagem não era confortável como nos dias de hoje. A grande maioria viajava a pé, de sandálias, em estradas cheias de poeira e pedras. No verso 3 o salmo faz alusão aos pés que vacilam, justamente por que era uma viagem difícil. E existiam outros perigos. As pessoas que viajavam de aldeias distantes para Jerusalém, muitas vezes tinham que dormir ao relento, na escuridão da noite, correndo o risco de serem atacadas por animais selvagens ou ladrões. Portanto, enquanto o grupo dormia, alguém tinha que manter os olhos abertos, vigilantes. Na calada da noite, a lua iluminava o terreno montanhoso, onde os perigos da viagem poderiam se esconder para atacar o grupo. São em momentos assim, diante de uma ameaça, que surge a pergunta “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro?” (v 1).
A pergunta deste viajante de tempos antigos é também a nossa pergunta em muitos momentos na nossa estrada da vida, diante das ameaças que nos rodeiam, “de onde me virá o socorro?”. O próprio salmo nos dá a resposta, uma longa resposta. É uma resposta que inclui o verso 2, “o meu socorro vem do SENHOR que fez o céu e a terra”. Uma resposta que inclui também os versos seguintes desta oração, ao proclamar em alto e bom tom quem é este Deus que acompanha os viajantes peregrinos.
“O Senhor que fez o céu e a terra” é uma afirmação que Deus é o Deus criador e Senhor da criação. Nada escapa do seu controle. A liberdade e o poder de Deus estão presentes na criação para proteger e cuidar. Esta afirmação é uma declaração da soberania de Deus que continua sendo Deus também na escuridão da noite, quando sentimos medo e insegurança.
Pois diferente de uma sentinela humana, que pode ser dominada pelo sono e cansaço, Deus está sempre alerta e vigilante, “é certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel”. Esta é uma afirmação de fé que foge de nossa compressão humana. Deus, o criador do universo, o Senhor do universo, se coloca ao serviço do próximo, incluindo nós, para proteger e cuidar de nós, que somos apenas pessoas humanas, parte da criação de Deus.
O Salmo 121 prossegue descrevendo a solidariedade de Deus em estar ao lado das pessoas viajantes. Seja no calor intenso do sol, seja na escuridão da noite, Deus é como uma sombra à nossa direita. Ninguém consegue, nem mesmo querendo, libertar-se de sua sombra. Assim como a sombra acompanha os passos dos peregrinos, Deus é Deus solidário viajando junto, nos guardando de todo mal.
Por fim, a oração neste salmo destaca a fidelidade de Deus, ao acompanhar as pessoas durante toda a viagem, “o SENHOR guardará a sua saída e sua entrada.” Ou seja, para os viajantes peregrinos, Deus está prometendo proteger e cuidar desde o momento da partida para Jerusalém até o retorno a sua aldeia. Para nós, esta também é promessa de fidelidade, do Deus que promete nos acompanhar na jornada da vida, desde seu início até o fim.
Deus vigilante, Deus solidário, Deus fiel. Este é o Deus que acompanha os viajantes peregrinos. Este é o Deus que se revelou ao povo de Israel em tempos antigos e que, para a comunidade cristã, continua se revelando por Cristo Jesus. Como comunidade cristã lemos o livro de salmos a partir de Jesus Cristo. Este Jesus que no caminho da cruz perdeu a própria vida, mas foi levantado por Deus dentre os mortos para nos chamar à solidariedade e esperança. Este Jesus que diz e promete: “Deus me deu todo o poder no céu e na terra. Portanto, vão a todos os povos do mundo, fazendo com que sejam meus seguidores e seguidoras, batizando e ensinando as pessoas a guardar minha palavra. E eis que eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28.18-20).
Assim como o povo peregrino de tempos antigos, queira Deus fortalecer nossa fé e espiritualidade, para confiar na sua proteção e cuidado, compartilhar sua solidariedade com outras pessoas na estrada da vida, sob o olhar vigilante e atento de Deus. Amém.