Prédicas e Meditações



ID: 2931

Salmo 46 Deus nosso refúgio e fortaleza

Autoria P. Me. Alexander Busch - Salmo 46

04/11/2020

 

Estimada comunidade, minhas irmãs e irmãos em Cristo,

O Salmo 46 é uma oração de confiança. Provavelmente cantado no grande templo de Jerusalém, nesta oração o povo é chamado para confiar em Deus, nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. O Salmo usa imagens bem fortes para contrastar a tormenta ao redor, as muitas águas que rugem e espumejam, estremecendo e abalando o alicerce das montanhas. O cenário é caótico. No mundo antigo acreditava-se que o mar era sustentado por montanhas que funcionavam como pilares. São estes pilares, estas montanhas que ameaçam romper e liberar as águas dos mares sobre a terra e seus habitantes. Não é exagero dizer que o salmo descreve uma tragédia de dimensões cósmicas, como se a barragem do Itaipu rompesse e as águas turbulentas violentassem tudo o que lhe estivesse à frente. O Salmo 46 é linguagem poética para falar da experiência humana em meio à grande adversidade. É linguagem figurada para falar da comunidade humana em meio à grande devastação.

Agora, se por um lado, o salmo expõe a insegurança e a instabilidade do caos, por outro lado, a oração expressa a segurança e firmamento seguro que Deus oferece. Deus é refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. A palavra “refúgio” traduz um termo hebraico que significa literalmente “um abrigo”. No hebraico essa palavra é usada no sentido de indicar um lugar apropriado para se proteger do perigo de um temporal. Já a palavra “fortaleza” traduz um termo que significa “poder” ou “força”, e vem de uma raiz hebraica que transmite a ideia de “ser forte”, “prevalecer” ou “tornar firme” e “fortalecer”. Assim podemos entender que em tempos de adversidades, quando tudo parece ruir, Deus é aquele que oferece abrigo e por quem somos fortalecidos/as para enfrentar as tempestades da vida, sejam elas pequenas ou grandes.

Como comunidade cristã trazemos à memória a grande tragédia de dimensões cósmicas, quando Jesus o Messias Salvador enviado por Deus foi levantado numa cruz romana nas margens da cidade de Jerusalém. Os pilares do Reino de Deus proclamado por Jesus pareciam ter desabado. As esperanças de sua comunidade de seguidores e seguidoras pareciam como que tragadas pelas muitas águas. Mas mesmo naquele momento sombrio de imensa adversidade pessoal e comunitária, a mensagem evangélica é que Deus continua sendo Deus, mesmo quando as águas agitadas derrubam as montanhas.

Depois de descrever o cenário caótico, a oração do Salmo 46 nos remete à proximidade e cuidado de Deus. No verso 4 lemos, “Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela (no meio da cidade”. Altíssimo é um título muito usado no AT para falar de Deus como Deus transcendente, como Deus tão no alto que ser humano algum pode dele se aproximar. Mas eis que o Deus Altíssimo, desce dos altos céus e faz morada na cidade, entre os seus habitantes. A poesia do Salmo 46 nos fala de Deus próximo, sensível e solícito à tragédia humana.

E o que era fonte de caos e destruição, se transforma nas mãos de Deus fonte de vida e renovação. Pois as águas turbulentas nas mãos de Deus são um rio cuja corrente de águas refrescam a cidade, saciando a sede de plantas e animais, assegurando o alimento que sustenta os habitantes da cidade. Novamente nos deparamos com linguagem poética para falar do cuidado e da proximidade de Deus em meio à tragédia. A cruz de Jesus, se antes sinal de tragédia de dimensões cósmicas, se transforma nas mãos de Deus sinal de salvação, gesto de cuidado para com a humanidade, consolo pessoal para quem busca refúgio aos pés da cruz de Cristo, confessando e reconhecendo pela fé que nenhuma crise pessoal e nenhuma devastação na comunidade estão com a palavra final. A palavra última, assim como a palavra primeira, pertence a Deus. E a palavra última de Deus já nos foi revelada por Cristo Jesus: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos seres humanos e nos confiando a palavra da reconciliação” (2Co 5.19).

Ou seja, em Cristo Deus nos revela o que já é realidade presente e que ainda está por vir, a reconciliação. Na cruz de Cristo encontramos o perdão que vem de Deus, encontramos a solidariedade de Deus que caminha com as pessoas neste mundo marcado por tragédias pessoas e comunitárias, encontramos a esperança de Deus que nos assegura que os arcos e as lanças de guerra bem como os carros de guerra têm os seus dias contados. Deus há de findar os combates entre as nações, recompor definitivamente os conflitos humanos, incluindo os conflitos que tantas vezes surgem dentro das famílias, aquietar e silenciar os corações ansiosos e preocupados. Lembrando que esta palavra de esperança que vem de Deus é também palavra de advertência, palavra de juízo de Deus. Louca é a pessoa que insiste em permanecer em conflitos e brigas. Ai da nação que insiste em alimentar guerras e lutas para proveito próprio.

Para a comunidade cristã, que crê e confessa Cristo Jesus crucificado e ressurreto somos pessoas chamadas para viver a nova realidade, caminhar à luz desta esperança em Cristo Jesus, anunciando em gestos e palavras que da desordem e do caos, Deus gera nova ordem e renova a vida. Contar e viver esta boa notícia é missão da comunidade de Cristo Jesus. É dizer que estamos no caminho, caminhando ao lado de irmãos e irmãs, se ajudando mutuamente a confessar e viver na esperança de que Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem, presente nas tribulações. Amém.

  


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 46 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 59812

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