Prédicas e Meditações



ID: 2931

RELAÇÕES FAMILIARES E SOCIAIS A PARTIR DA UNIDADE DE FÉ

Passos concretos para o rompimento com a cacotopia que vivemos!

13/09/2020

20200913 - Rio
Efésios 6.1-9

RELAÇÕES FAMILIARES E SOCIAIS A PARTIR DA UNIDADE DE FÉ

Introdução

No início deste Culto ouvimos as palavras que servem de lema para esta semana: Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. (Rm 15.4). Como base para a pregação de hoje tomamos um trecho das Escrituras encontrado na carta aos Efésios. Esta carta é destinada a pessoas que vivem no contexto urbano, com belas edificações, localização geograficamente estratégica, cidade próspera, repleta de cultura, restaurada pelo império romano e – melhor de tudo – livre. Paulo acompanhou a igreja de Éfeso por dois anos, encontrando cristãos livres entre tradições contrastantes, como o culto à deusa Diana. É comparável à diversidade e às inúmeras possibilidades que nossa cidade do Rio de Janeiro oferece. Como é difícil viver um Evangelho autêntico neste lugar.

Para iniciar, é bom rever o capítulo 4.1-6 desta carta. Não há como justificar as recomendações do apóstolo sem levar em conta a tácita ordem, ou rogo, de que se mantenha unidade. A unidade de fé é o ponto de partida para todas as demais ações. Já o texto de Effésios 6.1-9, que aqui tomamaos por base, pode ser dividido em quatro abordagens. Elas têm como alvo primeiro a parte mais vulnerável da comunidade – filhos e escravos – e depois se dirigem aos mais fortes – pais e senhores – numa clara distinção de atribuições para cada parte.

Nós faremos hoje a abordagem do tema relacionado a filhos/filhas e pais, ampliando isso para os aspectos sociais envolvidos na vida da família. A segunda parte receberá atenção especial depois de ouvirmos o P. Francisco Rafael dos Santos, no próximo domingo.

A família saudável a partir da unidade de fé

Acompanhamos o desmonte sistemáticos da família, aquela “antiga” célula básica sociedade. Não bastasse o descaso das famílias para com a educação responsável de seus filhos, as novas tendências — modernas — infladas pelos ensinos que promovem uma sociedade permissiva destruindo conceitos tradicionais. Vivemos intensamente nesta pandemia a cacotopia da sociedade desta grande cidade carioca, uma opressão autoritária da pobreza, da falta de oportunidades e da falta de cultura. Valores morais e éticos e as verdades centrais na palavra de Deus não subsistem aos ataques da negação da utopia. Para o que Paulo pretende chamar a atenção?

O dever da obediência – o quarto mandamento (v.1-3).

Apela à unidade de fé que só é possível pelo ouvir a Palavra (cf. Romanos 10). A orientação aos filhos (e à socidade!) se baseia na Escritura, palavra do mandamento (Ex 20.12, Dt 5.16) que promove fé. Pais sabem que normalmente é ineficiente dar uma ordem tácita à filha ou filho, pois o resultado é contrário ao desejado. A obediência requerida bate de frente com a vontade livre da pessoa. Seria a desobediência o preço da liberdade de nossos dias? Faça uma rápida pesquisa uma semana antes de partilhar este estudo: Uma recomendação como a destes versículos ainda é relevante na formação das pessoas na sociedade hipermoderna? Somente a unidade de fé pode romper esta barreira.

A unidade de fé que leva à obediência nasce da Palavra.

Assim Deus fez no Sinai: 10 ordenanças são colocadas como propostas de caminhos de livre escolha das pessoas, com suas consequências. A rigor, este quarto mandamento é o único que se refere a uma relação de causa e efeito da obediência. “...obedeçam...”, “...o dever cristão de vocês é obedecer...” São as palavras enfáticas e inegociáveis. (Não façamos desta ordem uma teocracia como a que está sendo cozinhada em banho-maria, ou seja, leis que não podem ser seguidas em amor porque são apenas leis!) Para ampliar o horizonte de compreensão de obedecei informamos que também significa “ouvir” e “atentar”. Tecnicamente hypakouo (gr.) descreve a função da pessoa encarregada de abrir o portão da uma cidade fortificada quando, ao ouvir a batida, identifica quem quer entrar e quem tem permissão de entrar (cf. At 12.13).

Paulo usa a expressão sempre como pedido de ouvir em contraste com a desobediência adâmica. “...obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo,” determina o apóstolo. A obediência se dá na unidade espiritual. Não acontece sob comando insensível e autoritário de quem detém o poder. Pelo contrário, é disciplina de fé, observando a vida com uma mesma visão, em amor mútuo. Este é o objetivo do mandamento: resultar em bem-estar, harmonia e entendimento para a família.

A obediência não é devida, em última análise, a autoridades terrenas. Mas voluntariamente se submetendo a elas – especialmente aos pais – se está reconhecendo a autoridade do Senhor, pela fé. Do contrário, a vida não será longa nem prazerosa (Atos 7.39), colocando em risco o Caminho de bem e vida abundante que Deus concede.

A relação com filhas e filhos conforme o conselho do Senhor

Reconhecemos o problema endêmico nas famílias tradicionais cristãs: exigir obediência de forma absolutamente autoritária e fundamentalista, sem abertura de diálogo. Para que a unidade da fé seja mantida Paulo enfatiza: e vocês pais... O autor não muda apenas de interlocutor. Chama para um reposicionamento da autoridade familiar dentro da sociedade: ...não provoquem os seus filhos à ira... (Cl 3.21). A ira é uma das mais proeminentes características das divindades, de acordo com filósofos antigos. No AT ira é representada pelo movimento rápido das narinas de um deus raivoso. No NT parorgismos (raiva, gr.) se refere às reações humanas impensadas diante da contrariedade. Tudo isso está por detrás da palavra ira.

A violência doméstica e especialmente o feminicídio são eco desta ira. Os ataques racistas e as migrações de pessoas marginalizadas são resultado de ira. O hgrande número de desalentados, desalojados e desabrigados no centro de nossa cidade retratam esta triste realidade. Antes que as portas se fechem do meu coraçao machucado e as lágrimas sequem no rosto sem ter encontrado o consolo… mesmo que estejamos impedidos de ver quem está ao nosso lado … em um leito de enfermidade … não estamos sozinhos (LCI 325). O Senhor nos envolve de várias maneiras — e não por último por sua Palavra — nos permitindo ver a luz. Ele permite saber que somos amados por Ele, mesmo se a dor nos abater.

Oremos: Toda boa obra que Tu iniciste em nós, Senhor, que ela possa ter um bom fim. Como família e como indivíduos, dá que amemos e respeitemos as Escrituras, palavra de vida para nós.

Amém.

Neste mundo da pandemia, podemos continuar nossa oração:

Cedo acordamos com o coração apertado, para ver um mundo diferente da notícia repetida da televisão. Nos perguntamos onde é que foi, alguém me explica, por favor, onde é que foi que nós desaprendemos a viver em união. E se tivesse mais perdão; se no lugar de apontar para tantos erros, fossem estendidos mais abraços; se fossem lançados mais olhares de aceitação; se não dispensarssemos mais tanto tempo em vão, esse tempo que é nosso bem mais precioso, não faltasse quando pra ouvir, pra entender o meu irmão. Minha oração só é real transformação se tudo isso começar em mim. Que haja mais amor a começar em mim. Oremos com estas irmãs e estes irmãos. Oremos por estas pessoas desalentadas e sofridas de nossos dias.
   


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 58867

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