Prédicas e Meditações



ID: 2931

Que pessoas ajudaram você a definir o caminho de sua vida?

De que maneira João Batista preparou o caminho para Jesus?

10/12/2021

Texto de prédica: Lucas 3.7-18

1. Introdução

Que pessoas ajudaram você a definir o caminho de sua vida? Em quem você se espelhou? E assim como você teve alguém que o ajudou, quem se espelha em você? Quem você ajudando a encontrar seu caminho na vida? Que você está ajudando a encontrar-se e viver a vontade de Deus?

O texto do Evangelho nos quer falar hoje sobre a importância que João Batista teve na vida e missão de Jesus. Como João Batista preparou o caminho para Jesus?

Gostamos de pensar que Jesus teve plena consciência desde sua infância de que ele era o Filho de Deus, de que ele havia vindo ao mundo para pregar o Reino de Deus e que deveria morrer na cruz, para assim salvar a humanidade. Imaginamos também que Jesus sabia que, a partir de determinado momento de sua vida, ele teria que abandonar a carpintaria de seu pai José, e começar a anunciar a vinda do Reino de Deus. Mas, as coisas foram assim tão simples? Ou será que Jesus precisou da ajuda de outras pessoas para compreender sua tarefa e sua missão no mundo? João Batista parece ter jogado um papel crucial. Todos sabemos que esse pregador do rio Jordão batizou a Jesus. Mas será que a ação de João Batista se limitou apenas ao batismo de Jesus?

2. Quem era João Batista?
Flavio Josefo foi um historiador do primeiro século da era cristã. É curioso saber que ele dedica mais comentários à atuação de João Batista do que à Jesus. Flavio Josefo menciona a originalidade do movimento de Joao Batista: Aparece no deserto e mesmo assim tem uma extraordinária convocatória. As pessoas vão para o deserto para escutá-lo. João inventa o batismo. A água sempre foi um elemento religioso importante para a purificação, mas antes de João ninguém havia submergido outra pessoa na água em nome de Deus. E por fim, Josefo menciona a novidade do discurso de João Batista, ao dizer que praticar a justiça entre as pessoas é mais importante do que fazer sacrifícios a Deus no Templo.

No primeiro século a religião judaica vivia um período de profundo letargo, dominada oficialmente por dois grupos dentro do judaísmo: os fariseus, que eram um partido religioso, e os saduceus, que eram um partido político-religioso.

A situação política opressiva que reinava no país, o cansaço moral pela espera de um Salvador que não chegava nunca, a vida escandalosa da classe governante (supostamente representante de Deus) e a degradação e o desprestígio dos próprios sacerdotes do templo (mais preocupados com os seus próprios interesses, do que em animar a fé do povo), tudo isso havia esfriado a devoção das pessoas e desanimado a prática religiosa.

Nesse contexto, aparece João, o filho de Zacarias. João vivia no deserto, - isso significa que ele já não queria fazer parte daquela sociedade que corrompia e enganava as pessoas usando a religião. Por isso, João foi para o deserto e levava uma vida austera. Vestia-se com pele de camelo e um cinturão de couro, ao estilo dos velhos profetas, e se alimentava de insetos e de mel silvestre (Mc 1.6). No entanto, sua voz se espalhou como um trovão no tranquilo deserto da Palestina. Muitas pessoas o procuravam e com um discurso forte, João denunciava a intenção de muitas pessoas que queriam parecer pessoas religiosas, chamando-as de “raça de víboras”- descendentes de cobras venenosas. Em Isaías 59.4-5 – que fala da maldade nacional em Israel - podemos ler o que isso significa:

Isaías 59.4-5:
Ninguém há que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade, confiam no que é nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão luz a iniquidade. Chocam ovos de áspide e tecem teias de aranha; o que comer os ovos dela morrerá; se um dos ovos é pisado, sai uma víbora.

A sua pregação de João Batista não era de consolo, mas era de denúncia. Ele não falava do Reino de Deus, mas falava do juízo de Deus. A diferença em relação aos velhos profetas do Antigo Testamento é que esse juízo de Deus era prá já. Em pouco tempo, Deus mesmo vai castigar com fogo a todos que não se arrependerem de seus pecados (Mt.3.7-12). Por isso a urgência de se arrepender dos pecados e mudar de atitudes. Arrependimento significa “mudança de mentalidade”, “mudar a forma de pensar”, ”mudar a cabeça” e tratar de viver sendo uma pessoa justa, correta, honesta.

As pessoas que o escutavam, ficavam magnetizados pelo seu discurso. Muitos vinham de longe em busca de seus conselhos. Aqueles que aceitavam seus ensinamentos, João lhes pedia que recebessem o sinal do batismo no rio (Mc 1.4-5). Esse batismo estava condicionado a essa mudança de mentalidade e disposição para novas atitudes de vida. O compromisso do batismo deveria “dar bons frutos”. A todas as pessoas que ele batizou, ele as enviou de volta a seus lugares, pedindo que a partir do batismo fossem pessoas justas, solidárias, honestas (Lc 3.8-14).

Portanto, podemos resumir a pregação do João Batista em 3 pontos:

1. O mundo (a história) está sob a iminência do juízo de Deus.
2. o povo de Israel se afastou da vontade de Deus, e por isso, corre o risco de ser consumido pelo fogo do juízo de Deus
3. é necessário mudar de atitude – viver praticando a justiça e a misericórdia - e confirmar essa mudança com o batismo.

O êxito desse pregador foi extraordinário. Depois de ouvi-lo era muito difícil ficar indiferente. Assim muitos jovens que se haviam afastado da religião, voltaram a comprometer-se com Deus e com uma vivência solidária.

Mesmo assim, um pequeno grupo se formou ao seu redor. Esse grupo acompanhava seus ritos batismais (Jo 1.28.35-37), ajudava nas pregações (Jo 3.23), recebia ensinamentos mais aprofundados (Jo 3.26-30) e compartilhava da espiritualidade ascética do jejum (Mc 2,18)e da oração (Lc 11,1).

3. Jesus vai ver e ouvir o profeta

Também o jovem Jesus foi atraído pela mensagem de renovação espiritual de João Batista e, por isso, andou 50km, de Nazaré até o vale do rio Jordão para ver e ouvir o profeta. Jesus escutou sua mensagem escatológica que pode ser resumida em três pontos:

4. O mundo (a história) está sob a iminência do juízo de Deus.
5. o povo de Israel se afastou da vontade de Deus, e por isso, corre o risco de ser consumido pelo fogo do juízo de Deus
6. é necessário mudar de atitude – viver praticando a justiça e a misericórdia - e confirmar essa mudança com o batismo.

Alguns comentaristas bíblicos afirmam que provavelmente este encontro com João Batista impressionou tanto ao nazareno, ao ponto de ter despertado nele sua vocação posterior. O batismo de Jesus fez com que ele abandonasse sua vida silenciosa, que até então ele levava em Nazaré. Antes de ser batizado por João Batista, Jesus era um desconhecido.

Jesus aceitou a mensagem de João, da mesma forma que muitos outros judeus, e foi batizado por João, como relatam os Evangelhos (Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21-22). Conforme os Evangelhos sinóticos, no momento do batismo, desceu sobre Jesus o Espírito Santo, proclamando publicamente que Jesus é o Filho de Deus. Depois disso, Jesus se retirou 40 dias para o deserto, como preparação para iniciar a sua missão de proclamar o Reino de Deus. João Batista vivia no deserto. Por isso, o texto parece sugerir que Jesus – por algum tempo - se integrou ao grupo de discípulos de João Batista.

Certamente Jesus era Deus. Mas ele também foi plenamente humano. E uma das características do ser humano é a necessidade que todos nós temos de ter alguém que nos ajude a entender o sentido de nossa missão no mundo. Jesus parece ter experimentado esta mesma pedagogia, como nos demonstra o Evangelho de Lucas 2.51-52: “Conforme crescia, Jesus ia crescendo também em sabedoria, e tanto Deus como as pessoas gostavam cada dia mais dele”. Os Evangelhos dizem que Jesus era Deus e que dentro dele habitava toda a divindade de Deus. Mas para exteriorizar essa divindade, Jesus passou pelas limitações próprias do ser humano.

Pensar que Jesus sabia de todas as coisas com total clareza e perfeição, não corresponde com os Evangelhos.
Desde que o Filho de Deus se fez ser humano, Deus quis atuar através dele de forma natural, isto é, segundo as características do mundo para o qual havia sido enviado. Por isso, Jesus teve fome, teve sede, calor, sono, alegrias, tristezas e até dúvidas no momento da prisão e crucificação.

Portanto, o Evangelho de hoje nos fala de duas coisas importantes:
- Deus não permanece indiferente ao mau uso de sua Palavra. Seu juízo ainda não veio. Isso quer dizer que esse juízo ainda está por vir. Logo, logo ele vai separar o trigo da palha. Desta maneira, o chamado de João Batista vale ainda hoje: Arrependei-vos e crede no Evangelho porque o juízo de Deus está próximo.
- E a segunda coisa é a importância de haver pessoas que nos ajudam a encontrar o nosso caminho na vida, a nossa missão nesse mundo e que essa missão está sempre relacionada com o que Deus espera de nossos pensamentos e nossas atitudes.


Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai, e a comunhão do Espírito Santo, permaneçam entre nós. Amém.


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 7 / Versículo Final: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65536

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