“Da mesma forma, o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26)
No dia 01 de Maio todos nós fomos acordados subitamente por um desabamento sem precedentes e literalmente de altas proporções na história do Brasil e da IECLB. Famílias carentes perderam seus lares e seus bens depositados naquelas habitações improvisadas e pouco apropriadas do Edifício Wilton Paes de Almeida no centro de São Paulo. Mas também, famílias luteranas perderam seu espaço de culto e comunhão, seu bem histórico e patrimonial. As duas realidades se cruzam tanto nas perdas materiais, quanto nas perdas imateriais. As duas histórias se cruzam por estarem próximas geograficamente e socialmente. As duas histórias se cruzam porque ambas depositam suas forças na esperança de dias melhores. Esperança e força que precisa vir, curiosamente, do alto.
Tal “tragédia anunciada” aponta para um fato claro e objetivo. Não querendo minimizar o fato, mas ele representa de forma simbólica, nossa fragilidade diante das nuanças da vida. Diante do improvável ou até do provável. Diante intemperanças que nos atinge sem aviso prévio, que queima nosso ser ao ponto de desabar vidas, sonhos, propósitos e a até mesmo a esperança.
E justamente envoltos na tragédia da vida humana, social, política e econômica, encontramo-nos no tempo que antecede Pentecostes. Tempo que nos leva aquele agir de línguas de fogo que vem do alto. Porém não para destruir, limitar e fragmentar. Mas para fortalecer, capacitar e unir. Das alturas, Deus nos oferece um fogo consolador. Deus nos oferece sua mão. Deus nos oferece seu Espírito Santo.
Se por um lado, “toda a criação geme a dores de uma mulher na hora do parto, e até mesmo nós que temos o Espírito de Deus”, por outro, “mantemos viva a esperança da salvação”.
Neste contexto é possível confessar que:
1) O Espírito Santo nos fortalece com a certeza da presença de Cristo
Conforme João 14.19, Jesus prometeu que “não nos abandonaria, mas voltaria para ficar conosco” e no versículo 16 ele anuncia que enviaria “outro Auxiliador, que é o Espírito da Verdade, para ficar conosco.” Logo, por meio do Espírito Santo podemos ter a certeza de que Jesus está conosco. E mais, Paulo diz que este Espírito de Deus nos ajudará em nossos gemidos, afinal somos seus filhos e filhas.
Em outras palavras, o Espírito Santo atualiza a obra de Cristo em nossas vidas e nos ajuda em nossas fraquezas (Rm 8.26) – em nossas aflições, em nossas dores, em nossas orações, em nosso desespero. Se a vida desaba, o Espírito Santo fortalece.
A Segunda confissão é que:
2) O Espírito Santo nos fortalece com as promessas de Cristo
A presença de Cristo em nossas vidas traz consigo a sua promessa de salvação, redenção, perdão, nova vida, reconstrução e graça. Uma presença com conteúdo. Uma presença que é capaz de erguer nossos olhos diante da desgraça e da tragédia e vislumbrar um horizonte de esperança atrás dos escombros de ferro retorcido e cimento, bem como por detrás dos entulhos da alma e do coração, da culpa, do vitimismo, do julgamento precipitado, da insensibilidade à dor alheia, da amargura, da falta de fé. Em Cristo temos a promessa que somos seus filhos e filhas, por isso não precisamos nos desesperar, mas devemos confiar.
Isso nos leva a próxima confissão
3) O Espírito Santo nos fortalece com a esperança de Cristo
Esta esperança não se baseia em teorias, em laudos, no “diz que me disse”. Mas, se baseia na pessoa de Jesus Cristo que se faz presente com suas promessas. Como diz Paulo, “por meio da esperança fomos salvos” (Rm 8.24a).
A esperança que Cristo oferece por meio do Espírito Santo coloca nossa mente no “para quê Deus?” e não no “por que Deus?”. No “por quê?” não há respostas claras e nem absolutas. O “por quê?” no paralisa e nos desanima. Mas, no “para quê” é possível sair da inércia em busca de respostas que de fato fazem sentido. O “para quê” nos movimenta pela esperança que Cristo dá e para seus propósitos. Isso gera em nós a paciência que tanto precisamos em meio as dores. Na paciência aguardamos, em movimento, a resposta do Senhor e seus desígnios para a nossa vida, para a vida do próximo e para a vida da comunidade na qual celebramos culto.
Nesse processo de confiar e esperar em Deus; de crer nas promessas de Cristo e confessar o seu agir em nosso favor, é que somos fortalecidos pelo Espírito Santo como pessoas e como comunidade, desprovida ou não de bens. Espírito este que age em nós, por meio de nós e “intercede por nós com gemidos inexprimíveis, de acordo com a vontade de Deus” (Rm 8.27b).
A maior certeza que podemos ter, é que por meio do Espírito Santo, que nos fortalece com a presença, promessas e esperança de Cristo é que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles/as que amam a Deus” (Rm 828). Seja na alegria ou na dor. Seja em dias de paz ou de tragédias.
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