Nos últimos dias presenciamos as manifestações dos caminhoneiros, que conseguiram afetar direta ou indiretamente a vida de milhões de pessoas. Sua luta por preços mais justos, e assim também por menos exploração por parte do governo, inicialmente foi bem organizada e memorável. Ainda sobram respingos aqui e ali, em si, uma luta foi vencida mas a guerra continua ou deveria continuar. A atual situação de nosso país é de tamanha corrupção e exploração do povo, que precisamos nos perguntar: realmente temos lei justas? Temos um governo justo? Qual lei seguir nesta realidade fragmentada?
Na época do novo testamento, para os judeus, a lei do sábado se tornou uma das principais entre o povo de Israel. Isto porque no exílio ficaram sem templo, então para manter a unidade, deram cada vez mais importância a essa lei. A ponto de afirmarem que se todos cumprissem a lei do sábado por duas semanas seguidas, a salvação viria. Por isso, para “ajudar” a cumpri-la, criaram centenas de leis; contudo com isso a transformaram num grande peso e desvirtuaram seu verdadeiro propósito. Não era permitido escrever mais de uma letra, colocar talas num braço quebrado (apenas compressas), comer um ovo posto no sábado, preparar alimentos ou andar mais de 800m num dia. Tantas leis se tornaram um fardo!
Nós também vivemos tempos em que existem tantas leis! Tantas exigências! E a maioria delas deveria existir para nos ajudar a sermos melhores cidadãos e termos um país melhor, com mais condições de vida digna. Contudo, com tanto peso, muitos recorrem aos jeitinhos para tentar de alguma forma escapar. Mas qual a atitude de Jesus?
Em Marcos 2.23-28 conta-se que os discípulos vinham atravessando uma plantação. Certamente andaram mais que os 800m permitidos. Nela colheram espigas, por estarem com fome. A própria lei previa que isso era possível e até mesmo exigia que nem tudo fosse colhido, mas que às margens ficassem produtos para serem colhidos pelos necessitados ou pessoas com fome. A questão que saltava aos olhos dos judeus é que faziam isso num sábado.
Jesus então faz os acusadores pensarem. Ele poderia ter defendido seus discípulos, com jeitinho ou com mais leis da própria palavra de Deus. Mas usou um exemplo contundente: Davi e seus companheiros, com fome, comeram os pães do sacrifício, que só os sacerdotes poderiam comer. E concluiu dizendo: O sábado foi feito para servir as pessoas e não as pessoas para servirem o sábado. As coisas estavam invertidas! A lei do sábado deveria ser recebida com alegria, um descanso dado mesmo antes do cansaço (o ser humano foi criado no sexto dia e o sétimo dia da criação já foi o descanso). Um presente de Deus para louvá-lo, buscar Nele forças, ouvir sua voz, fazer o bem, cuidar de si e do próximo.
“O sábado foi feito para servir as pessoas”: com essa frase e essa atitude, Jesus está indo contra a religião instituída, mostrando o verdadeiro sentido da lei. Certamente hoje precisamos lembrar: “o governo foi instituído por Deus para servir as pessoas, e não as pessoas para servirem ao governo”. Os governantes deveriam se dar conta disso por si só, mas a cegueira que o poder e a busca dos interesses próprios causam não lhes permite enxergar e mudar. Onde não é a vontade de Deus que impera, é a vontade do diabo e do mal. Se a vontade do Senhor fosse seguida, o governo trabalharia para o bem comum, diminuiria a exploração e os impostos e investiria mais na melhoria de vida, especialmente daqueles com menos condições.
E mais ainda: “Portanto, o Filho do Homem tem autoridade até mesmo sobre o sábado.” A autoridade principal em nossas vidas é o próprio Jesus. É a Ele que precisamos voltar nossas vidas e nossa obediência, com todo esforço que isso exige. Nele encontramos o verdadeiro descanso (sábado) e o verdadeiro governo. Pois Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Por isso, cabe antes obedecer a Jesus que aos governos terrenos. Cabe antes nos revoltarmos diante da exploração que simplesmente baixarmos a cabeça. E para essa revolta, não precisamos usar a violência, a deslealdade ou ameaças à vida. Mas novamente olhar para o coração de Deus e perceber sua vontade de vida em abundância. Vontade que se expressa na tão pequena, mas tão profunda palavra: amor. Que Ele mude nosso coração e por meio de nós, o coração e a vida das pessoas à nossa volta, e quem sabe, também de nossos governantes. Oremos por isso! Amém!
Tiago Sacht Jaske
Guarulhos - SP