Uma das tarefas que deixo sempre aos confirmandos e às confirmandas é pesquisar em internet diversas imagens de Jesus. Geralmente apresentam um Jesus com as mesmas características: um homem alto com o corpo definido, cabelos loiros e barba cumprida. Em grupo observamos se alguém trouxe um outro exemplo e muitas vezes é apresentada uma imagem de Jesus Mafa ou umda tradição ortodoxa. Mas, nosso imaginário está habitado pelo Jesus europeio, uma imagem que fica distante do Jesus histórico que andou em Galileia. Eu pessoalmente gosto da ideia que traz a cruz salvadorenha, onde os artistas pintam um Jesus muito próximo, com características físicas que se encontram na maioria da população. Assim, existem cruzes com Jesus negro, pardo, branco, indígena ou amarelo. Cada grupo de pessoas reconhece Jesus como um semelhante. Até na vestimenta se assemelha às pessoas. Jesus é realmente irmão dessas pessoas e não um ser estranho que algum grupo missionário estrangeiro apresentou. Ao ver as cruzes salvadorenhas você pode ver como Jesus é um de nós.
Justamente no mês da Reforma é necessário lembrar quem é Jesus Cristo e qual a imagem que nós temos dele. No mundo de hoje, assim como também na época de Lutero, ao pensar em Jesus Cristo surge na mente das pessoas uma imagem. Martim Lutero sofria com a imagem de Jesus como juiz despiedado. Hoje, Jesus é apresentado como um ser mágico que faz o que nós ordenamos. Ontem e hoje, existem pessoas que negociam às custas de Jesus, que extraem da Bíblia algumas características que são da sua conveniência para utilizá-lo como desculpa para seus absurdos. Em nome de Jesus se machuca pessoas, se despreza ou até se mata. Não se estará usando o nome de Deus em vão nesses casos?
Nestes dias próximos à celebração da Reforma, nós devemos resgatar ao Jesus que nos conta a Bíblia. O Filho de Deus que veio ao mundo para anunciar a proximidade do Reino. Aquele ser humano e divino que acolheu, acompanhou e orientou pessoas. Jesus está sendo cada vez mais desfigurado, perdendo a imagem bíblica e tornando-se o contrário.
É momento de parar e revisar aquilo que pensamos acreditar. Existe tanto ruído que não conseguimos mais escutar a voz de Jesus que nos chama. Talvez seja tempo de voltar às origens, a ler a Bíblia e conferir se aquilo que temos em nossa cabeça e em nosso coração é realmente Jesus ou alguma projeção de nossa humanidade deformada. É tempo de se questionar: Em nome de qual Senhor você fala?
P. José Kowalska
Paróquia Bom Samaritano – Ipanema, Rio de Janeiro, RJ