Hoje, muitas pessoas não experimentam a segurança que sonhavam experimentar em meio aos seus laços familiares. O fato é que as expectativas da família mudaram.
Faz algum tempo me dei conta que andava convertendo minhas dificuldades de infância numa lista de deficiências que insistia em viver aqui e agora.
Essa postura meio que me desobrigava a encarar as demandas da vida adulta. Dessa maneira me esquecia que minha mãe e meu pai; minhas avós e meus avôs; minhas bisavós e meus bisavôs também tinham defeitos. Que coisa! A corrente de mães e pais falíveis pode ser rastreada até o infinito.
Essa constatação deixa clara a importância de se cultivar a compreensão e a compaixão no seio das famílias. Por quê? Simples! Para que a convivência seja bem-sucedida.
A verdade é que não nascemos dentro de uma família como se nascêssemos dentro de um paraíso. Todo o dia se resume num novo desafio de se viver ao lado das pessoas que compõem essa dita família.
Infelizmente, a própria família nem sempre é a terra fértil, na qual se pode enraizar e se prosperar de maneira ideal. Mas se, num dado momento, você chegar a conclusão que a sua família é ruim demais, então ouse abrir e ler sua Bíblia.
No Antigo Testamento há relatos milenares onde se percebem muitos exemplos de vidas familiares conflitadas.
Por exemplo, há o caso em que um irmão não retornou à casa por ter sido morto pelo outro. Estou me reportando a Caim e Abel. Notem que isto aconteceu logo depois do relato da bela criação que Deus começara e até já desdobrara.
Noutra família, a própria mãe ajuda a roubar a herança legítima de um dos seus filhos em favor do outro. Este ato semeou décadas de discórdia entre os irmãos Jacó e Esaú. Ainda hoje é crime fraudar-se uma herança. Aliás, quem tenta algo assim está articulando a maneira mais segura de destruir a paz familiar.
Quantas famílias brigadas por causa de heranças mal repartidas. Felizmente, os irmãos Jacó e Esaú se encontram muito tempo depois como homens amadurecidos.
Na Bíblia também há a história dos irmãos que decidiram „descartar“ o filho favorito de seu pai. Estes, ao chegarem em casa contarem-lhe uma triste história sobre a morte do caçula. Escrevo sobre José e seus irmãos. Sim, o ciúme entre irmãs e irmãos é tão antigo quanto a humanidade.
Um exemplo que se parece muito com o que acontece nos nossos dias brota no Novo Testamento. Jesus, com apenas 12 anos de idade, aterroriza Maria e José, quando se ausenta de casa por três dias e três noites. Depois de finalmente o encontrarem na sinagoga, onde ele surpreendia os teólogos com seus discursos, o garoto entende o cuidado da sua mãe e do seu pai como um tanto supérfluo. Ora, qualquer mãe e qualquer pai que já passou por essa experiência sabe o „inferno“ que ela significa.
Mais tarde, quando Jesus já era adulto, ele não dá exatamente a impressão de ser um homem ligado à sua família. Há um momento em que ele está novamente diante de uma plateia e alguém lhe informa que sua mãe e seus irmãos estão lá fora e que desejam conversar com ele. Novamente Jesus reage de uma forma um tanto antipática. Os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas testemunham este acontecimento nos seus Evangelhos.
Tais situações são conhecidas, tanto por mães como por pais. É como se as filhas e os filhos adultos tivessem vergonha de reduzirem sua existência na pessoa deles. Nessa hora fingem que não têm nada a ver com seus „ancestrais“. Tais atitudes Têm muito poder de magoar.
A vida rola e, mais tarde, Jesus se mostra totalmente responsável por sua mãe. No momento de sua morte, cuidar dela é um dos seus últimos pensamentos. Então ele pede para João, seu discípulo favorito, que cuide dela como se fosse sua mãe. Ele age assim porque sabe que sua vida não será fácil, por ser parente de um crucificado.
Enfim, cultivemos a compreensão e a compaixão nas nossas famílias para que a convivência seja bem-sucedida. Abraços!