SÍNODO SUDESTE – IECLB
PREGAÇÃO PARA O CULTO DE ABERTURA DA ASSEMBLEIA SINODAL – ARARAS, 14/15.05.2011
CADA COISA TEM SEU TEMPO
Estr.: Cada coisa tem seu tempo neste mundo,
seu momento e sua hora. Têm as coisas de amanhã, têm as de ontem e outras coisas têm que ser tempo de agora.
1.Tempo de nascer e tempo de morrer,
Tempo de plantar e tempo de colher,
Tempo de esperar e tempo de apressar,
Tempo de sorrir e tempo de chorar.
2.Tempo de bailar e tempo de gemer,
Tempo de ganhar e tempo de perder,
Tempo de avançar ou de recomeçar,
Tempo de guardar ou de se desfazer.
3.Tempo de calar e tempo de falar,
Tempo de amar e até de não amar,
Tempo de anunciar e de renunciar,
Tempo de ser paz...e a paz a gente faz!
Irmãos e irmãs em Cristo!
Aparentemente, o hino acima aceita passivamente a “ordem natural das coisas” num jogo dialético entre vida e morte, entre alegria e dor, entre amor e ódio; aparentemente, aceita e se submete aos opostos da vida (digo “aparentemente”, porque não é assim que entendo Eclesiastes 3.1-8). Seria por isso que o ser humano encara como natural o conflito entre o progresso, a exploração dos recursos naturais e a destruição da Criação, incluindo a falta de paz e o sofrimento da própria humanidade?
Ao prestarmos atenção no último verso do hino, percebemos que o autor faz um “brake”: “Tempo de paz...”. O que viria como consequência natural?: “Tempo de guerra!”. No entanto, muito inspirado, o autor nos lança um desafio: “Tempo de paz...a paz a gente faz!”. Trata-se de um chamado à conversão, à ação, ao rompimento com essa cultura de apenas constatar que as coisas não vão bem, de apenas denominar causas e culpados e deixar tudo como está, numa passividade mórbida de quem não quer ou não sabe o que fazer.
Para 2011, a IECLB adotou o tema/lema: Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso. Glória a Deus e paz na terra – Lucas 2.14. Com certeza, esta abordagem não se limitará à mera constatação da desordem provocada na Criação, nomear culpados e, depois, escolher o tema/lema de 2012. O complemento “Esperança e Compromisso” nos desafia a percebermos e acolhermos este tema como um chamado à conversão e à consequente ação. Tomo como referência a pessoa de João Batista, em Mateus 3.4, que se despiu de todo e qualquer tipo de ganância consumista descrito pela sua roupa e alimento, e se prestou ao anúncio do novo, do possível, do retorno à ordem divina da Criação – recuperada e trazida por Jesus Cristo. A este processo eu chamo “Conversão”.
A macro-situação de nosso planeta (agressão ao meio ambiente, relações humanas injustas, vida animal em extinção, exploração desenfreada dos recursos naturais, catástrofes e desequilíbrio do clima, poluição, pobreza, fome, violência, entre outros) nos desafia a tomar medidas, a também envolver igreja e comunidades na responsabilidade pela conservação daquilo que Deus criou tão bom. Está mais que na hora de despertarmos da passividade individualista e interesseira para uma ação solidária, para a recuperação e conservação daquilo que Deus nos confiou para cuidarmos bem. A paz na Criação de Deus se estabelece pelo equilíbrio das relações e a comunhão de todas as criaturas.
Para tanto, precisamos passar pelo aprendizado da conversão da idolatria do poder econômico, do querer as coisas a qualquer preço, para a solidariedade com os sofridos e desamparados; da paz conquistada pelas armas através de ameaças e violência, para uma cultura de paz assegurada pela confiança; da violência e da arbitrariedade em relação à Criação, para a solidariedade e cooperação com ela. Sabemos que a justiça social vive em conflito com o princípio da produção econômica; que a solidariedade está na contramão do atual modelo econômico; que o consumismo desenfreado sufoca os interesses ecológicos e causa profundos danos ambientais. Como cristãos, sentimo-nos enredados pelo poder do pecado e da morte, e aceitamos passivamente que as coisas sejam assim como são, isto quando não participamos ativamente das mesmas. Ficamos divididos entre o desejo do ter e do poder e a responsabilidade do cuidar bem da Criação de Deus.
Mas Deus não quer que as coisas permaneçam assim. Por isso, ele nos chama à conversão!
A mensagem bíblica da conversão, como nós a ouvimos da boca de Jesus, é uma orientação para a nossa atuação local e global. A Palavra de Jesus nos remete para a ação de forma libertadora e encorajadora. Jesus Cristo nos chama para a conversão. Ele mesmo é o chamado de Deus para a conversão! Sua mensagem pode ser sintetizada em uma frase: “Chegou a hora, e o Reino de Deus está perto. Arrependam-se e creiam no Evangelho” – Marcos 1.14. A conversão se fundamenta na Boa Nova que anuncia um futuro que pertence a Deus. Nele podemos confiar. A conversão não nos remete a um passado nostálgico, mas nos remete profeticamente ao futuro. Pela fé, nosso foco não permanece passivamente na situação catastrófica atual, mas se volta para o futuro, que Deus prepara para todos. Por isso damos glória a Deus e nos empenhamos pela paz na terra, que ele nos oferece (Lucas 2.14).
Somos despertados pela palavra de Jesus para a conversão. Somos despertados para a misericórdia acolhedora de Deus. Mesmo em meio às devastadoras crises de nosso mundo, o Deus Salvador vem ao nosso encontro, criando novo céu e nova terra (Apocalipse 21.1) na qual habita a justiça, incluindo-nos novamente como seus parceiros.
A conversão tira o foco do ilusório otimismo do progresso a qualquer custo por um lado, e arranca do medo paralisante de um futuro sem opções, por outro. Tarefa da Igreja e das comunidades é converter-se e convidar veementemente para a conversão em direção deste futuro libertador e vivificador.
Se milhões de pessoas morrem por causa da injustiça social, se o meio ambiente é explorado de forma devastadora, isto é consequência do endeusamento do bem-estar consumista e egoísta a qualquer custo e da sedução do poder econômico; é consequência da irracionalidade cometida por este mundo que se declara tão racional e auto-suficiente. E nós estamos no meio de tudo isso!
À luz da Palavra de Cristo, agora é tempo de conversão. Ela é a nossa única chance. O chamado à conversão não visa à “abdução”, ao “arrebatamento” do indivíduo deste mundo mau e perdido para um céu particular. A conversão é oferecida a todos. Visa ao coração, à transformação do comportamento e do relacionamento com toda a Criação. A conversão aponta para um novo jeito de viver e de agir em relação à solidariedade, à paz, à economia e à ecologia. Trata-se de uma renovação pessoal e do assumir uma nova responsabilidade e um novo cuidado pela Criação. A conversão leva à paz. A conversão motiva ao “recomeçar” em direção ao futuro sob o cuidado de Deus.
É tempo de converter-se... para a paz na Criação de Deus!
Amém.
(Pastor Geraldo Graf – Belo Horizonte)