Ao iniciar o sermão desta noite, dou um passo atrás lembrando o texto anterior, no qual Jesus estava em diálogo com os fariseus a respeito da importância da tradição. Os fariseus determinavam e exigiam a prática de certos costumes. O povo tentava obedecê-los. O Mestre não nega a necessidade do povo de Deus ter ritos. Mas, que sejam refletidos e feitos de coração, jamais deixando de lado o amor ou usando-os para afastar as pessoas. Em seguida, Jesus olha em direção ao povo e - como Mestre - passa a esclarecer aos ouvintes a questão dos costumes alimentares, colocando os pontos nos “is”. Definitivamente – pela lei - os judeus não se dariam bem no Brasil onde a carne mais acessível é a suína. Eles não comiam nada que vinha do porco, nem linguiça ou mortadela. Eles não se adaptariam também em Garuva, onde a turma gosta do caranguejo ou do camarão, ambos eram proibidos. Vejam o que ele diz aos fariseus e ao povo:
JESUS CHAMOU A ATENÇÃO DA MULTIDÃO. ELE DISSE: OUÇAM-ME E PROCUREM ENTENDER. NÃO HÁ NADA FORA DA PESSOA QUE, NELA ENTRANDO, POSSA TORNÁ-LA ‘IMPURA’. PELO CONTRÁRIO, O QUE SAI DA PESSOA É QUE A TORNA ‘IMPURA’. SE ALGUÉM TEM OUVIDOS PARA OUVIR, OUÇA! LOGO MAIS, EM CASA, OS DISCÍPULOS PEDIRAM EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA. SERÁ QUE VOCÊS TAMBÉM NÃO CONSEGUEM ENTENDER? PERGUNTOU-LHES JESUS. NÃO PERCEBEM QUE NADA QUE ENTRE NA PESSOA PODE TORNÁ-LA ‘IMPURA’? PORQUE NÃO ENTRA EM SEU CORAÇÃO, MAS EM SEU ESTÔMAGO, SENDO DEPOIS ELIMINADO. AO DIZER ISTO, JESUS DECLAROU ‘PUROS’ TODOS OS ALIMENTOS. ELE CONTINUOU: O QUE SAI DA PESSOA É QUE A TORNA ‘IMPURA’. DO INTERIOR DO CORAÇÃO VÊM OS MAUS PENSAMENTOS, AS IMORALIDADES SEXUAIS, OS ROUBOS, OS HOMICÍDIOS, OS ADULTÉRIOS, AS COBIÇAS, AS MALDADES, O ENGANO, A DEVASSIDÃO, A INVEJA, A CALÚNIA, A ARROGÂNCIA E A INSENSATEZ. TODOS ESSES MALES VÊM DE DENTRO E TORNAM PESSOA ‘IMPURA’ (Marcos 7.14-23).
Para entender a situação... Se um judeu comesse certos alimentos – tipo porco ou caranguejo – tornar-se-ia uma pessoa impura, sendo assim excluída da comunidade. A razão da lei não tem explicação. De repente, na origem eram apenas questões higiênicas ou naturais. Então, ninguém comia, criava ou vendia porco na Palestina. Todos sabiam que era proibido. Era uma vergonha e condenável lidar com tais animais. Eles aprendiam isso em casa. A religião só reforçava. De repente aparece Jesus que diz: Não é bem assim! Precisamos mudar. Mas, por que mudar? Se sempre foi assim, porque mudar? Deus escolheu para si um povo chamado de Israel. Deus lhes deu os Dez Mandamentos e uma série de leis menores. Todavia, a partir de Jesus, o povo de Deus não é mais judeu somente. As portas da salvação se abriram aos demais povos e raças com os seus costumes. É necessária uma definição do que é essencial e descartável. Por isso, o Mestre insiste: Ao invés de cuidar aquilo que entra no estômago, vamos observar o que sai da boca. Não importa o que colocamos na boca, mas o que está no nosso coração. Uhmmm... Jesus pegou pesado com a turma. Com certeza, é mais fácil dizer e controlar a alimentação do que mudar o coração. É mais fácil ajeitar a aparência externa do que limpar o coração. Noutras palavras: Chega de religião por aparência apenas. É urgente que coloquemos o nosso coração.
Sempre houve e sempre haverá um conflito de gerações, entre o antigo e o novo. Não é uma questão de melhor ou pior. É necessário um diálogo e crescimento. Salvo raras exceções, a reação dos fariseus sempre foi dura. Por fim, eles levaram Cristo à cruz. Por isso é que Jesus, à parte, explica, esclarece ou renova o compromisso com os seus discípulos: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Uma das portas do coração humano é o “ouvido”. Até agora – comenta Jesus – o que prevaleceu foi a lei. Mas, com vistas ao Reino de Deus, a mensagem que vale é o Evangelho, do amor de Deus que vem ao nosso encontro, que abraça, acolhe e promove vida, tanto eterna, quanto abundante. Não é mais possível apenas ter uma religião e saber de Deus. É preciso colocar Jesus no coração e viver de maneira prática a fé. A preocupação do judeu era com a comida. O desafio do cristão é alimentar o coração com aquilo que vem de Deus. Vida ou morte, o que escolhemos? Tradição ou prática do Evangelho, o que queremos?
Não somente os ouvidos devem se voltar à palavra, também os nossos olhos. O Mestre ensina que, pelos olhos, o coração é preenchido: “Se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas” (Mateus 6.23). Ou: “A boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mateus 12.34). Por isso é que o Salmista orou: “Ilumina, Senhor, os meus olhos, para que eu não durma o sono da morte” (Salmo 13.3). O mundo nos ensina que primazia está em levar vantagem sobre o outro, a beleza está no exterior, você é melhor do que os outros, assim segue... O resultado é citado na lista de Jesus, desde os maus pensamentos à insensatez. Como mudar essa situação que aparentemente é tão normal e atual? Como ter um coração novo, sem precisar fazer um transplante? É possível plantar uma nova semente, que vingue e traga bom fruto de dentro para fora. O caráter da pessoa começa no coração. Ter um coração bom só é possível com Jesus. Sem Cristo, somos maus por natureza.
Às crianças ensinamos aquilo que como adultos deveríamos levar mais a sério. Desafiamos os pequenos a colocarem Jesus no coração. Ou seja, que ele ocupe o espaço central da nossa vida, guiando os nossos passos. Parece-me que o desafio dado às crianças é abandonado na juventude ou na idade adulta. Alguns idosos, diante da realidade que se aproxima da morte, voltam com mais facilidade à entrega do caminho ao Senhor. Mas, é um desafio constante, não importando a idade. Na realidade, quanto mais cedo permitimos colocar Jesus no centro da vida, entregando cada momento em suas mãos, buscando nele orientação e inspiração melhor ficará a nossa vida. Quem experimenta pode compartilhar. Quem ainda não experimentou sinta-se desafiado e veja na prática como a vida fica mais tranquila. É uma decisão. De fato, uma escolha entre a vida e a morte. Já aqui, no sentido de ser vida abundante. Mas, também em relação ao futuro, longe ou perto de Deus. Da decisão tomada hoje depende a nossa eternidade. Amém!