Os ensinamentos de Deus
Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Rm 7.19
Estamos enfrentando a pandemia do novo Coronavírus. Já se foram quatro meses de afastamento social. Tempos novos que trazem novos desafios e exigem sabedoria e discernimento. É também um tempo em que os ensinamentos de Jesus são testados, especialmente no campo da ética. Em tempos difíceis é que conhecemos o que se passa no coração de cada pessoa. São revelados os valores que cada pessoa alimenta. Honestidade, ganância, mentira, falta de ética, falsidade, solidariedade, amor são revelados.
Neste tempo também conhecemos quais os ensinamentos de Jesus devem ser reaprendidos ou aprendidos. Com grande facilidade torcemos a verdade, as leis ou os resultados quando nos favorecem. Esta realidade se faz mais presente e sensível nestes tempos de afastamento social. Quem deveria acessar os programas emergenciais do governo para enfrentar a pandemia? As pessoas que acessaram fizeram uma análise de consciência e de sua real necessidade? Todas as pessoas têm direito, mas todas precisam?
Estamos sofrendo do mal de atacar a outra pessoa quando somos questionados. A regra não mais é se a crítica tem procedência ou é verdadeira, mas de quem vem. Ao reagirmos desta maneira, não queremos construir um mundo melhor, nem corrigir os rumos de nossa vida. Não estamos dispostos a nos arrependermos e reconhecer o nosso pecado. Somente a pessoa arrependida tem nova chance e a possibilidade de um começo diferente, melhor, perdoada.
Nos dias de hoje impõe-se uma ética da responsabilidade, do compromisso, do cuidado e da prevenção. Essa ética diz o seguinte: “Aja de tal maneira que sua ação não seja destrutiva. Aja de tal maneira que sua ação seja benevolente. Ajude a vida a se conservar, a se expandir, a irradiar”. Em sua Ética da Terra, o ecólogo americano Aldo Leopold defende que certo é tudo aquilo que promove e protege a vida, e errado, tudo o que a ameaça, abrevia e mata. É de Jesus que aprendemos a defesa de vida abundante para toda criação conforme João 10.10.
Sabemos o que é bom e o que é mau para a vida. A ética da responsabilidade, centrada na vida, é a essência da ação humana. Responsabilidade, cuidado e solidariedade poderão estabelecer fronteiras para uma vida saudável e um planeta sustentável. Como tratar as pessoas de forma humana sem diminuir a responsabilidade com o toda da casa comum? Precisamos encontrar uma resposta honesta para que a vida na pandemia e depois dela seja melhor para toda a criação de Deus.
A transformação começa em nós mesmos. Se olharmos somente para a grandeza dos problemas, nos sentiremos impotentes. Mas, se começarmos conosco mesmos, a mudança que fizermos não ficará restrita a nós. A nossa ação será um testemunho para as mudanças neste mundo. As decisões honestas que tomarmos em casa, na comunidade e sociedade são como uma luz que ilumina, que vai acendendo outras que guardam a lembrança do calor e da consciência de sua existência, qual seja, de iluminar. Cada pessoa é convidada dar o primeiro passo, agora, zelando pelo comportamento coerente com a fé em Cristo, a viver solidariedade na fábrica, na forma de produção e comercialização, nas relações com as outras pessoas; a se responsabilizar com a palavra falada, as informações que compartilha, os seus gestos diários. Se isto estiver em nossos corações construiremos uma casa comum com a realidade do novo céu e da nova terra visivelmente presentes.
A tarefa não é fácil, nem simples. Precisa de exercício diário, decisão e foco. A experiência com Deus é pessoal e a consequência desta experiência existencial muda a nossa vida comunitária, especialmente pós-pandemia. Transformadas, passamos a considerar a comunidade, família, grupo ao tomar decisões. Seremos para com o próximo uma pessoa cristã, como Cristo é para nós, oferecendo-lhe tudo o que preserva a vida, porque já temos todas as coisas em Cristo pela fé.
E a vida comunitária e pessoal como está? O mandamento de Deus é que determina a vida política e social? Você pode ser exemplo de transparência, honestidade, lealdade, fidelidade e responsabilidade? Na Igreja deixamos o mandamento de Deus orientar as decisões?
No Batismo Deus nos libertou do poder do pecado para servirmos aos demais como resposta visível do senhorio de Cristo em nossa vida. Ao continuarmos vivendo sob o senhorio do pecado, ignoramos e menosprezamos a graça de Deus e continuamos servindo ao jeitinho e à mentira. Ao participarmos da Ceia, fizemos parte do corpo de Cristo e nos comprometemos com ele na vida diária, não mais podendo continuar vivendo no dia a dia oprimindo os irmãos e colocando pesadas cargas sobre seus ombros. Uma vida incoerente com os ensinamentos de Jesus é mau exemplo e contratestemunho.
Lutero ensinou que a pessoa cristã precisa ter clareza de suas decisões, a partir da sua consciência que está em Cristo. Certa vez afirmou: Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos.
Assim, libertos pela fé em Cristo, mas servos no amor, somos desafiados a transformar a realidade ao nosso redor. A ética da responsabilidade firmada na centralidade da vida tem propósitos bem definidos. Está centrada no bem estar da casa comum, na outra pessoa. Senão vejamos:
Na política não é o dinheiro o bem mais precioso, mas a justiça para todas as pessoas. Não podemos concordar que a consciência das pessoas tem preço e o parâmetro é o benefício pessoal.
Na sociedade damos um contratestemunho quando justificamos a nossa infidelidade pela desonestidade desta ou daquela autoridade. Não é possível ser pessoa cristã pela metade.
Na comunidade perdemos a autoridade e damos mau exemplo quando somos desonestos, injustos e fizemos uma prestação de contas duvidosa ou viciada pelo desvio e a falta de transparência.
Na família não promovemos a vida abundante que Cristo nos trouxe quando há infidelidade conjugal ou as relações estão construídas sobre mentiras e falta de amor.
Na lida com o dinheiro excluímos Deus quando fizemos nossas ofertas por obrigação e não por gratidão e um profundo compromisso com Ele que se torna realidade na pessoa próxima.
Libertos do poder do pecado não devemos voltar para lá. Fundamentados na ética da responsabilidade somos convocados a promover a vida em plenitude para todas as pessoas. Isso inicia comigo e contigo quando olhamos para o todo da sociedade. Comunitariamente podemos cuidar melhor da vida na criação de Deus, porque Deus nos escolheu para darmos frutos. Jo 15.16.
Pastor Sinodal Jair Luiz Holzschuh