Amados irmãos, amadas irmãs,
você já se colocou no lugar de José? Tenho a impressão de que muitas vezes José é esquecido na história do Natal. José foi um personagem muito importante. A fé desse simples carpinteiro foi muito importante! José precisou crer e confiar em Deus quando todas as forças da sua mente lhe diziam que ele havia sido enganado!
Certamente que não foi fácil para José descobrir que sua companheira estava grávida. Ambos estavam se guardando para o casamento. Como pôde Maria aparecer grávida se José não se deitou com ela? E por isso, volto à pergunta inicial: você já se colocou no lugar de José?
Talvez esses pensamentos tenham passado pela cabeça do jovem carpinteiro de Nazaré:
- Ela está grávida! Grávida está ela! – pensa ele. – Como foi acontecer isso comigo? Ela parecia tão pura e ingênua (...). O que vou fazer agora? O que os outros vão pensar? E ela não fala comigo sobre isso. Como pode? Se eu quiser limpar o meu nome e fazer valer os meus direitos, será o fim dela. Mas será que é isso o que eu quero?1
Tomé, com certeza, não é o único personagem do Novo Testamento com dúvidas em relação à fé; para José também foi difícil crer. De repente, todo o seu futuro, sua história e sua vida se apagaram diante de si. O que ele iria fazer? José nos aparenta ser alguém que buscou fazer o que é correto em toda a sua vida. Como agora ele poderia viver com uma mulher que amava, mas que acreditava tê-lo traído? Ao mesmo tempo, como poderia permitir que a mulher que amava fosse apedrejada?
Naquele dia, José se encontrou diante de dilemas... Perguntas e mais perguntas... Por um momento, seu chão caiu... E agora, José?
1 JOSÉ, UM HOMEM COMUM
José se debateu com um problema existencial. A honra de toda a sua vida estava em jogo. Talvez José estivesse pensando o que seus familiares e amigos iriam pensar dessa situação. Não deve haver para alguém pior sentimento que achar que foi traído. É humilhante! José, em um primeiro momento, como ser humano, deve ter se sentido humilhado e envergonhado por toda aquela situação.
José estava em uma situação de aflição. Que decisão, então, ele tomou? “José, com quem Maria estava para casar, sendo um homem justo e não querendo envergonhá-la em público, resolveu deixá-la sem que ninguém soubesse”. (Mateus 1.19). Esta me parece ser uma atitude desesperada! Às vezes não temos também nós uma vontade profunda de correr e de sumir? Você também já se sentiu assim, com vontade de desaparecer? Com vontade de ir embora, esfriar a cabeça?
Essa é a reação de José, não apenas por si mesmo, mas porque ele amava a Maria. Ele não queria causar alguma vergonha a Maria. Se ele, quem sabe, se afastasse dela, talvez o “pai da criança” apareceria e então ela não seria envergonhada e apedrejada. Sim! José ama a Maria e, mesmo inconformado e desesperado, não lhe deseja nenhum mal. Era um homem justo, mas que não carregava pedras nas mãos.
2 DEUS, ALGUÉM PRÓXIMO
Deus, porém, não estava alheio a José. Deus sabia da sua aflição. Deus viu o seu desespero. Deus age na história! Em meio aos sentimentos tão diversos e contraditórios de José, Deus lhe providenciou a calma, a paz e a tranquilidade: “Enquanto ele refletia sobre isso, eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: – José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo”. (Mateus 1.20). De pesadelo, a situação se tornou um sonho – mas um sonho real! Não era apenas Maria que estava grávida; na verdade, “o tempo estava grávido” e havia chegado a hora de nascer o Messias de Israel e dos gentios.
O anjo continua as suas palavras, dizendo: “Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mateus 1.21). É assim que o anjo anuncia o Evangelho a esse pobre carpinteiro. Aquela era uma boa notícia. De repente, as nuvens se foram, o céu se abriu e sol raiou novamente no coração de José. De “péssima notícia”, a concepção virginal de Jesus se tornou em “boa notícia” para José no momento mais angustiante da sua vida.
E para mostrar que o que falava era verdade, o anjo recorreu às Escrituras: “Ora, tudo isto aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel” (“Emanuel” significa: “Deus conosco”.)”. (Mateus 1.23) Estas são palavras já profetizadas por Isaías, no capítulo 7, versículo 14. Se antes a situação era caótica, agora ela encontrou uma ordem. Tudo se encaixou perfeitamente. José, o carpinteiro, acaba de estar na história que será uma das mais conhecidas de toda a humanidade. E Deus escolheu exatamente esse casal, José e Maria, um casal pobre, simples, mas com um coração cheio de temor a Deus. Em uma situação tão difícil, Deus mostrou estar no controle de tudo.
3 NÓS, OS QUE CONFIAM
No mundo em que vivemos, muitas pessoas terão dificuldade em crer nas palavras do evangelista Mateus. Muitos talvez digam que tudo não passa de balela; outros que essa pode ser a maior fraude da história; ou ainda que José foi “enrolado”. Entretanto, para fazer tais afirmações, precisamos recorrer à razão e aos pensamentos; a questão é que a razão e os pensamentos também foram afetados pela Queda em Gênesis 3. Também a lógica humana está debaixo da tragédia do pecado.
Sem contar que para fazer tais afirmações, é necessário “tirar Deus da jogada”, pois se Deus existe, que dificuldade lhe haveria em tornar Maria grávida pelo Espírito Santo? Não crer na concepção virginal é – no fim das contas – não crer no próprio Deus. O que humanamente é impossível, é possível para Deus. Ele é o único verdadeiramente livre e que pode agir como, quando e em quem quiser.
Os evangelistas Mateus e Lucas não são ignorantes por crerem e escreverem essas palavras. Ao contrário, Mateus fala ao povo judeu, por isso dá um destaque especial a José nessa história. José é descendente do rei Davi; já Lucas fala aos gentios e, por isso, dará destaque à Maria em sua narração. Lembremos sempre que Lucas era médico e historiador.
Amados irmãos, amadas irmãs,
Deus não nos faz outro convite hoje senão à fé. É preciso crer. É preciso confiar. Se Deus, que criou todas as coisas que existem, visíveis e invisíveis, não é capaz de tornar uma mulher grávida pelo agir do Espírito Santo, então certamente que o próprio Deus não existe e tudo não passa de enrolação; estaríamos aqui hoje em vão; porém, se Deus existe, o quão lhe seria difícil fazer Maria se tornar grávida pelo Espírito Santo?
Deus nos convida hoje a crermos! A confiarmos! Assim como José, também podemos estar vivendo dias de frustração, desolação e turbulência. Talvez – por qualquer situação – também o seu chão caiu. Talvez as nuvens escuras tenham invadido também o seu coração, transformando sua vida de um lindo dia em uma noite escura. Talvez, como José, também você tem dúvidas, perguntas não respondidas e questionamentos. Quem sabe também você quer fugir, desaparecer, sumir.
Porém, Deus assistiu a situação de José. Ele assiste também a tua situação. E é o próprio Deus quem vai ao teu encontro. É ele mesmo quem vai a ti antes que tu vás a ele. Em meio às frustrações, ao desespero e à tristeza, Deus pode fazer brotar novamente no coração a chama do amor e da esperança, assim como fez na vida de José.
O milagre de natal é para todos nós. As quatro velas de Advento estão acesas. Hoje o anjo anunciou a José o nascimento do Salvador; já na próxima semana, ele vai nascer. Sim! Nove meses vão passar em uma semana e o Salvador estará entre nós.
Receba também você o milagre do natal em sua vida e em sua família. Como José, permita que o próprio Deus fale contigo através da sua Palavra. Eis o milagre do Natal! A todos nós! Creiam todos que amam ao Senhor. Creiam todos que vivem no aguardo da sua volta dos céus. Creiam todos que esperam por um novo mundo a partir do menino nascido em Belém. Amém.
4º DOMINGO DE ADVENTO | VIOLETA | CICLO DO NATAL | ANO A
18 de Dezembro de 2022
P. William Felipe Zacarias
1 SPERB, Ulrico. “4º Domingo de Advento”. in: HOEFELMANN, Verner; MÜLLER DA SILVA, João Arthur (coord.). Proclamar Libertação: auxílios para o anúncio do Evangelho. v. 30. São Leopoldo: Sinodal, 2004. p. 20.