“Não venha me dizer o que eu devo ou não fazer!”. É muito provável que todos já tenhamos ouvido ou dito semelhante frase. Ela surge quando alguém quer dar palpite ou quer nos dar um conselho em determinada situação. Esta postura é característica do ser humano, pois ele quer ser dono do seu nariz e agir conforme o próprio entendimento. Assim já foi com Adão e Eva ao não se convencerem da orientação dada por Deus. Julgando-se sabedores do que lhes convinha, ousaram querer ser iguais a Deus. Amargaram as consequências do seu orgulho e viram que não eram tão sábios quanto pensavam. Carregamos conosco um bocado de Adão e Eva, a tal ponto de Lutero dizer que precisamos afogar a cada dia o velho homem que está dentro de nós.
Se analisarmos com humildade a nossa vida pessoal, familiar, vida na comunidade e na sociedade, torna-se fácil reconhecer que precisamos de orientação. Claro, não precisamos de um palpite qualquer, mas de conselhos e ensinamentos que sejam pautados na Palavra de Deus. Pois bem, o apóstolo Paulo escreve à comunidade de Roma, comunidade que ele sequer conhecia. Ao longo da carta expõe pontos centrais da vida de fé, acentuando que a salvação do ser humano não está nele próprio, mas é dádiva de Deus. E no capítulo 12.9-21 da carta de Paulo aos Romanos encontramos uma lista de preciosas orientações. Orientações que podem e querem fazer a diferença também em nossa vida.
De saída, os membros da comunidade são exortados a praticar um amor sincero e autêntico, sem fingimentos e hipocrisia. Em nosso tempo a palavra amor está desgastada. Muitas vezes o amor é reduzido a um sentimento. No entanto, o amor mencionado na carta de Paulo aos Romanos vai muito além de um sentimento. O amor se expressa em atitudes bem concretas, válidas para a vida familiar, comunitária e cotidiana. É um amor que nos aproxima dos outros e faz com que nos empenhemos por aquilo que é bom e construtivo. É um amor que, se esforça, para tratar as outras pessoas com respeito, sejam elas quem for. É um amor capaz de suportar sofrimentos, pois estes fazem parte da vida de fé. Jesus, ao preparar os seus discípulos deixou claro que a cruz faz parte da vida dos cristãos. Além de suportar dificuldades, a amor é solidário, capaz de repartir com quem precisa e capaz de acolher e de ser hospitaleiro. O amor que o Apóstolo Paulo pede compartilha alegria quando há razões para tanto, e sofre e chora com a dor das outras pessoas. Em resumo, a comunidade de Jesus Cristo é chamada a praticar um amor, onde as pessoas cuidam umas das outras.
Mas, isso ainda não é tudo. O amor que se pede de quem confessa Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, é um amor que inclui os inimigos. Inclui aqueles que não gostam da gente e de quem não gostamos. E nós, será que temos certeza que nossos trabalhos, em nossas comunidades, no qual, nós estamos inseridos ou vamos nos inserir vai ser bem acolhido por todos? Lógico que não vamos agradar a todos, vamos receber críticas, algumas pessoas vão achar que não está bom, pois não é isso que querem ouvir. Mas, se temos certeza de que estamos nos esforçando e dando o máximo de nós para a realização deste trabalho, e o fazemos com amor, então, podemos ter a certeza que aos olhos Deus estamos praticando o amor ao próximo. E pergunto a você caro leitor, leitora o que está fazendo pela nossa Igreja para com nossos/as irmãos/ãs? Nossa igreja precisa de pessoas que se engajam cada vez mais no trabalho de nossas comunidades, anunciando o Evangelho que o próprio Cristo nos ensinou, no momento em que nos tornamos um só corpo, uma só carne, quando recebemos o sinal do Espírito Santo pelo Batismo. Jesus disse em Mateus 28.19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações”. Nosso reformador, Martim Lutero, ele mesmo, todos os dias renovava seu batismo dizendo: “Eu sou batizado”. Nunca disse fui batizado. A renovação de seu batismo diário não era mergulhar nas águas, mas sim pedir perdão pelos seus pecados. Então, faço um desafio a você, caro leitor/a, que está lendo este texto, feche seus olhos e pergunte-se: Por que sou batizado? E o que eu estou fazendo com meu batismo? Em Lucas 10. 2 está escrito: E lhes fez a seguinte advertência: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara”. (Bíblia Tradução Almeida). O próprio Jesus falou: que se amamos apenas aqueles que nos amam, então não fazemos nenhuma diferença, pois isso todos fazem. Sim, o amor cristão inclui os inimigos. Não nos é permitido desejar-lhes o mal. Ao contrário, também a eles devemos fazer o bem, pedindo que Deus os abençoe. Ou seja, o amor que somos chamados a praticar inclui a capacidade de perdoar. Inclui que sejamos promotores da paz, que as encrencas não iniciem por nossa causa e que sejamos os primeiros a procurar pela sua superação.
É provável que ao ouvir o que está sendo pedido sejamos levados a pensar que não somos capazes de praticar tal amor. De fato, não somos capazes. Notemos, no entanto, que ao longo da lista de virtudes mencionadas no texto de Romanos, há breves indicativos que fazem toda a diferença diante da nossa incapacidade. O principal deles está no versículo 12, que chama a sermos perseverantes na oração. Sabemos que a oração é a principal maneira de reconhecer a nossa absoluta dependência de Deus. Ela também é o meio de reconhecer diante de Deus a nossa dificuldade para amar com tamanha intensidade, é o caminho para pedirmos que Deus nos ajude e capacite para amar. Portanto, é o único caminho, que pode nos tornar capazes de amar os inimigos, de perdoá-los e de fazer-lhes o bem.
O apóstolo Paulo, que escreve estas palavras, foi um grande perseguidor dos cristãos, capaz de muitas maldades. Mas, ele experimentou o cuidado, a bondade, o perdão e a misericórdia de Deus em sua vida. Como poucos, ele passou a reconhecer a salvação como um grande presente. Também por isso, no início do capítulo 12 da carta aos romanos, antes de dar qualquer conselho ou orientação, ele diz que a razão e a motivação para o testemunho são a grande misericórdia e a bondade de Deus. Como vimos no início, o velho Adão e a velha Eva que habitam em nós não querem ouvir tantas orientações e conselhos sobre a nossa maneira de viver. No entanto, quando consideramos o que Deus fez em nosso favor, oferecendo-nos perdão e salvação, então podemos ser sábios ao ponto de reconhecer que a prática deste amor exigente faz, sim, a diferença num mundo onde cada um é levado a pensar apenas em si mesmo.
Que Deus nos ajude para que aumente a nossa gratidão por tudo o que ele fez por nós; que cresça a prática do amor entre nós como testemunho sincero da nossa fé; que, no que depender de nós, haja paz na família, na comunidade e na sociedade; que perseveremos em oração, rogando por humildade e pela ajuda de Deus.